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“Sete Dias Com Marilyn” apresenta um raio x da atriz

Norma Jeane Mortensen era a típica girl next door, daquelas que moram na vizinhança e tiram o sono dos marmanjos, principalmente quando desfilava em trajes menores, seja indo à padaria ou à praia. Sob o nome artístico de Marilyn Monroe, se tornou a personalidade midiática feminina mais conhecida e reconhecida do nosso tempo. Passados cinqüenta anos de sua morte prematura, ainda rende livros, filmes e fofocas. A beleza era incontestável, mas não era a mais bela do Olimpo cinematográfico, seu talento, esse sim, contestável por muitos, era risível se comparado a de nomes de peso da dramaturgia, mas tudo isso foi eclipsado pelo que tornou Marilyn um mito: o magnetismo. Seu apelo pop era tamanho que Andy Warhol a escolheu para eternizar o poder da mídia no mundo moderno em seus famosos quadros em serigrafia retratando a atriz.

No cinema, até hoje não faltam citações, aparições e passagens da vida da atriz. Chegando com bastante atraso ao Brasil (quatro meses), Sete Dias Com Marilyn (My Week With Marilyn/E.U.A 2011) é mais um exemplar que versa sobre a maior ícone da era de ouro indústria de sonhos americano, sua vida conturbada e seus relacionamentos complicados. Não se trata de uma biografia, e sim de um raio x tirado durante a passagem de Marilyn pela Inglaterra durante as filmagens de O Príncipe Encantado de 1957, dirigido e estrelado por Lawrence Olivier. Na trama, o jovem Colin Clark (Eddie Redmayne), assistente de direção de Olivier (Kenneth Branagh), é encarregado de, entre outras funções, servir de “pajem” da problemática estrela americana (Michelle Williams) e evitar ao máximo que o seu excesso de estrelismo aborreça o diretor. Durante o convívio, Colin assiste ao tenso embate entre a moça bonitinha e supostamente vazia da América e o monstro sagrado da atuação britânica, e, óbvio, se deixa levar pelos encantos da bela, que a essa altura, já estava em franca ascensão como maior sexy symbol  do cinema mundial. O roteiro é uma adaptação do livro The Prince, The Showgirl and Me, de 1995, escrito pelo próprio Colin, sobre a experiência de ter convivido tão de perto não só com o mito, mas também com a mulher frágil e insegura de seu talento como atriz.

O diretor Simon Curtis certamente se deu conta de que um bom trabalho de atuação do elenco tornaria o filme mais interessante do que poderia ser a princípio, e assim o fez; reuniu um elenco brilhante para acudir um roteiro que tinha todos os ingredientes para cair no banal e conseqüente esquecimento. Além da esforçada e eficiente interpretação de Eddie Redmayne, dá gosto ver na tela Kenneth Brannagh e Michelle Williams mostrando que fizeram por merecer as indicações de ator coadjuvante e melhor atriz respectivamente. Brannagh, como usual, usa seu talento shakespeariano para uma interpretação cartesiana e ao mesmo tempo comovente do astro britânico cuja revolta com a jovem quase inexperiente atriz americana escamoteia uma crise existencial oriunda da compreensão de que o frescor do novo é uma grande ameaça ao rigor do tradicional, afinal em um veículo que privilegia a imagem, as rugas e as cãs são malditas, por mais talentoso que seja aquele que as carrega.

Do outro lado temos Michelle Williams em uma construção de personagem bastante curiosa; ora, uma atriz geralmente é indicada ao Oscar quando passa por um processo para se tornar feia, como a Virginia Wolf de Nicole Kidman em As Horas, ou Charlize Theron em Monster, mas e o contrário? É justamente o que vemos aqui. A magrinha sem sal se transformando em um mulherão. E o trabalho não só de caracterização, mas de composição, entonação e postura corporal, que só aumenta a sensação de que estamos assistindo a própria Marilyn, e não uma atriz atuando, embora a semelhança física não seja nem tão grande.  Os momentos em que a Michelle mais brilha são justamente os da Marilyn humana, sem superprodução, apenas a girl next door que nunca deixou de ser, daí a escolha acertada de uma atriz sem muito glamour. A química com Branagh e Redmayne  funciona muito bem e vale também destacar as preciosas participações coadjuvantes da dama Judi Dench no papel da gigante das artes dramáticas Sybil Thorndike, e Emma Watson (a Hermione de Harry Potter), graciosa na pele da camareira de set Lucy.

O grande problema é que o filme estréia tão tardiamente por aqui que a expectativa em torno dele se dissipou, passada, há muito, a temporada de premiações. Fica um gostinho de notícia de anteontem.

[xrr rating=3/5]
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