O faroeste, como gênero, sempre refletiu o seu tempo, ora reverenciando o mito da fronteira, ora questionando-o. Joe Kidd (1972) se posiciona exatamente nesse ponto de inflexão, oscilando entre o classicismo narrativo e as influências revisionistas e paródicas que marcaram o cinema dos anos 1970. Dirigido por John Sturges (1910-1992) e protagonizado por Clint Eastwood (1930), o filme é uma obra híbrida que, apesar de suas limitações, oferece um retrato revelador de um gênero em transição.
A escolha de Eastwood como protagonista não poderia ser mais acertada. Àquela altura, ele já havia se consolidado como um ícone, em parte graças às colaborações com Sergio Leone (1929-1989) nos spaghetti-westerns e com Don Siegel (1912-1991) no cinema americano. Joe Kidd , no entanto, vai além do protagonismo de Eastwood: é também um ponto de virada em sua carreira. Como produtor, ele remodelou o roteiro para dar mais destaque ao seu personagem, sinalizando sua intenção de assumir controle criativo em seus projetos futuros. A decisão é óbvia na construção de Joe Kidd como um anti-herói relutante, cuja entrada no conflito em Sinola é mediada tanto pelo pragmatismo quanto por princípios éticos dúbios.
Do outro lado da câmera, Sturges enfrentou desafios importantes. Reconhecido por clássicos do faroeste e outros gêneros, o diretor já não apresentou o mesmo vigor técnico, prejudicado por problemas pessoais, comprometido pelo alcoolismo. Ainda assim, a direção confere ao filme momentos de tensão bem orquestrados e um visual que mistura a grandiosidade do western clássico com a aspereza do spaghetti, em especial, pelo trabalho de seu assistente James Fargo (1938) que assumiu grande parte do trabalho.
A música de Lalo Schifrin (1932) é outro ponto alto, sintetizando as ambiguidades do filme. Por um lado, evoca a estilização de Ennio Morricone (1928-2020), com suas melodias evocativas e pouco convencionais. Por outro lado, recorre a estruturas tradicionais que remetem ao faroeste hollywoodiano clássico. Esse equilíbrio sonoro reflete a própria narrativa de Joe Kidd, que transita entre diferentes abordagens do gênero.
Apesar de sua curta duração e escolhas narrativas às vezes apressadas, Joe Kidd foi um sucesso de público. Mais importante, o filme marca o início da transformação de Eastwood em um cineasta autoral. A partir desse ponto, ele não mais participaria de faroestes que não fossem direcionados por ele mesmo, construindo uma das trajetórias mais emblemáticas no gênero, com obras como Os Imperdoáveis (1992).
Joe Kidd não é apenas um faroeste; é um registro do momento em que o gênero começou a olhar para si mesmo de maneira crítica, questionando os mitos fundadores enquanto ainda tentava celebrar sua essência. Essa ambivalência é, paradoxalmente, o que torna o filme tão relevante na história do cinema.
Onde assistir? Looke
Homenagem Póstuma Lynne Marta (1945-2024)
A atriz Lynne Marta, que interpretou Elma, a esposa do personagem de Robert Duvall, um fazendeiro rico, em Joe Kidd , faleceu no dia 11 de janeiro de 2024, aos 78 anos. Ela estava em sua residência em Los Angeles, nos Estados Unidos, após uma longa batalha contra um câncer no cérebro.
Nascida em 30 de outubro de 1945, em Nova Jersey, Lynne Marta iniciou sua carreira artística como dançarina no programa de televisão adolescente The Lloyd Thaxton Show , nos anos 1960. Seu carisma e talento a levaram a atuar em diversos projetos na televisão e no cinema . Entre seus primeiros trabalhos notáveis estão aparições em episódios das séries Gidget e The Monkees , em 1966, que ajudaram a consolidar sua presença na TV americana.
Outro marco de sua carreira foi sua participação na série antológica da ABC O Jogo Perigoso do Amor (Love, American Style) , onde trabalhou em 18 episódios da primeira temporada (1969-1970). O programa, que apresentava histórias românticas e econômicas, tornou-se um sucesso e destacou Lynne como uma das figuras mais lembradas de sua época.
De acordo com a revista “People”, Lynne viveu um “relacionamento aberto” com a estrela de “Starsky & Hutch”, David Soul, enquanto ele era casado com a atriz Karen Carlson. “Durante todos os anos da ‘Starsky & Hutch’, David e Lynne viveram juntos, mas passaram algum tempo com outras pessoas”, observou a revista, em 1983.
Em Footloose foi Lulu Wernicker, a tia interiorana do garoto de cidade grande Ren (Kevin Bacon), que vai morar com ela e logo começa a desafiar as morais restritas da cidadezinha. O longa foi fenômeno de bilheteria e lançou a carreira de Bacon.
Outros trabalhos de Marta incluem aparições nas séries The F.B.I. (1969-72), Kojak (1974), Starsky & Hutch (1975-1978), As Panteras (1978-1980), A Supermáquina (1984), Law & Order (1993) e Plantão Médico (2002). No cinema, fez ainda Areia Sangrenta (1980), O Primeiro Poder (1990) e Três Solteirões e uma Pequena Dama (1990).
FONTE: IMDB, Omelete
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