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Um olhar para Um Minuto para Rezar, Um Segundo para Morrer (1968)

O Faroeste Italiano – mais conhecido como Spaghetti Western – é sem dúvida a produção genérica italiana mais reconhecida mundialmente, caracterizada pela impressionante quantidade de filmes produzidos; a longevidade do gênero (de 1963 a 1978); sua distribuição e recepção internacional; sua profunda influência e legado duradouro.

O Bang-bang à italiana apresentou nomes como Sergio Leone (1929-1989), Tonino Valerii (1934-2016), Florestano Vancini (1926-2008), Duccio Tessari (1926-1994), Sergio Corbucci (1927-1990), Lucio Fulci (1927-1996), Sergio Sollima (1921-2015) e Mario Lanfranchi (1927–2022). Cada um trouxe, respectivamente filmes marcantes como Três Homens em Conflito (Leone, 1966); Meu Nome é Ninguém (Valerii, 1973); Os Longos Dias da Vingança (Vancini, 1967); Vivo ou Preferivelmente Morto (Tessari, 1969); Django (Corbucci, 1966); Tempo de Massacre (Fulci, 1966); O Dia da Desforra (Sollima, 1966) e Um olhar para Um Minuto para Rezar, Um Segundo para Morrer (1968). Esse último, alvo de nossa análise, é um insólito e violento Faroeste Spaghetti com um bom elenco e a direção decente de Mario Lanfranchi.

Análise

Quando a direção de um filme chega na mão de um diretor que terá que sai do seu lugar comum, para tentar a sorte em um gênero estranho, o resultado nem sempre é magistral, mas é interessante ver o que um veterano não especialista faz com os elementos de um outro gênero que não é familiarizado. No caso, o renomado diretor de teatro e televisão Mario Lanfranchi colidiu com o então extremamente popular faroeste italiano e, para resumir, o resultado garantiu-lhe um lugar permanente na eterna lista de filmes destaques que vale a pena ver.

Um olhar para Um Minuto para Rezar, Um Segundo para Morrer (Sentenza di morte) não é apenas uma das coisas mais inteligentes que o spaghetti western tem a oferecer em termos de fotografia, montagem e edição, mas também é caracterizado por um nível de criatividade de detalhes que consegue evocar para além de uma simples história de vingança. Destacando a cena em que o protagonista tira uma bala de sua perna, a coloca em um cartucho deixado para trás por seu oponente e o homem supostamente desarmado tem o elemento surpresa.

A vingança como premissa do roteiro

Um filme bastante surreal que traz duelos impressionantes, fogo cruzado, eventos raros e reviravoltas com final emocionante. Por dinheiro, por prazer, por vingança, ele não se importa por que mata ou como; enquanto Django (Robin Clarke) segue para o oeste em busca de vingança. Quatro pistoleiros (Richard Conte, Enrico Maria Salerno, Adolfo Celi, Tomas Milian) mataram o seu irmão há muito tempo. O impiedoso Django os persegue sem piedade e está disposto a matá-los. Logo rastreia os assassinos para uma cidade estranha, onde consumará seu intento.

A vingança com estilo é o princípio. Artisticamente, o filme é um eurowesterns, um dos mais extremos já produzidos. O visual foge um pouco do estilo italiano nos trinta minutos iniciais, sendo mais parecido com os modelos clássicos americanos do que com o estilo italiano de Leone, Corbucci e companhia. E quando a narrativa da vingança progride, mais parecido com a atmosfera e quando os oponentes aparecem, como um Tomas Milian albino psicopata, todas as dúvidas caem sobre o estilo.

A abordagem reducionista do autor e diretor Mario Lanfranchi, com a qual basicamente se vale de uma fraqueza do gênero: a própria história de vingança. E assim se permite estabelecer o conhecido esquema para, prescindir numa trama contínua e contar episodicamente num acerto de contas sequencial.

Isso dá ao diretor a oportunidade de se concentrar totalmente no design do filme. E vindo do teatro, antes de mudar para o cinema e a televisão, é claro que está bem familiarizado com a divisão e o uso do espaço. Nesse sentido, o homem do teatro trabalha cada vez mais com planos estáticos, em que a dinâmica é criada pelo movimento dos personagens (em vez de girar a câmera descontroladamente como muitos de seus colegas). A estrutura episódica é relativamente uniforme, mesmo que o esforço para Django aumente de oponente para oponente.

E o filme contém momentos realistas, o que o torna bastante notável. Que não apenas a dramaturgia é baseada basicamente em quatro contos de vingança, sem uma verdadeira trama contínua que carrega o filme – uma raridade na história do spaghetti western. Mas temos um protagonista humano, que pode ser visto como herói ou um anti-herói. Especialmente porque seus oponentes também são personagens fortes.

Os vilões, cada qual com seu arquétipico construído, estão bem desenvolvidos. Tomas Milian como o albino O’Hara (um ator acostumado a ser uma figura heróica, mostra seu lado maligno como um louco com uma fraqueza doentia por ouro); Richard Conte como o ambicioso Diaz; Adolfo Celi como o Reverendo Baldwin e Enrico Maria Salerno como Montero, um jogador de pôquer que gosta de roubar os já pobres porque realmente há algo em jogo para eles.

Enfrentando a eles está um Robin Clarke no papel de Django/Cash, um Clint Eastwood novato como protagonista. Um Django que cai no inequivocamente delirante e que corre o risco de enlouquecer a qualquer momento.

Lanfranchi explica a razão do porquê de Clarke interpretar a loucura latente de seu personagem de forma tão convincente. O diretor contou em entrevista que Clarke viajou para o set com sua então namorada Ali MacGraw (Love Story – Uma história de Amor), e as tensões entre o casal sobrecarregaram tanto o trabalho que Lanfranchi a baniu do set, pagando sua viagem de volta aos EUA. Robin ficou tão chateado que não precisava mais interpretar a agitação interna de seu papel. E não foi a única tensão interpessoal durante as filmagens, o diretor e Milian também tiveram brigas iniciais porque Milian considerava o homem do teatro arrogante e intelectual demais para o cinema popular.

Apesar de seu sucesso considerável, o diretor Mario Lanfranchi, que também escreveu o roteiro deste filme, foi a única incursão em westerns spaghetti. Um diretor que adorava a variedade, que fez dramas, comédias, óperas, etc. A propósito, também gostava de fazer as honras como ator nos filmes de seus colegas. Por exemplo, em alguns thrillers e filmes de espionagem, mas também no faroeste Joe, o Pistoleiro Implacável, de Sergio Corbucci (Navajo Joe, 1966).

Por fim, Um olhar para Um Minuto para Rezar, Um Segundo para Morrer (Sentenza di morte) realmente é uma epigonia a la epigonia Leone. O trabalho de câmera é excelente, com grandes quadros cinematográficos e excelentes tomadas, com configurações primorosamente apropriadas – a ideia dos pares de olhos que preenchem a tela, piscando. E a música é soberbamente copiada de Morricone, Gianni Ferrio plagiando pouco, mas pastichando: incluindo sobretons de Bach, uso de objetos extra-musicais e entradas de corais. Apesar disso, é um marco no faroeste spaghetti e na carreira desse diretor que nos deixou este ano.

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