Depois de Maria Antonieta, a mulher mais lembrada no contexto da Revolução Francesa é Madame Du Barry. Interpretada pela vamp Theda Bara em filme perdido de 1917, por Pola Negri em filme de Lubitsch de 1919, na era do cinema falado por diversas atrizes – como Norma Talmadge, Dolores Del Río, Lucille Ball e outras – era hora de a narrativa voltar para a França onde tudo aconteceu. A história de Jeanne Du Barry é contada em “A Favorita do Rei”, filme de abertura do Festival de Cannes de 2023.
Jeanne Vaubernier (Maïwenn) era filha ilegítima de um monge com uma cozinheira. Foi expulsa do convento onde estudava por ler livros lascivos – que ao que tudo indica encontrava na própria biblioteca do convento. Indo para Paris, se associa, mais por negócios que por amor, ao Conde Du Barry (Melvil Poupaud), com quem mais tarde se casa para acrescentar respeitabilidade ao seu nome, e também por causa da afeição dela ao filho dele, Adolphe. É o conde quem tem a ideia de apresentá-la ao rei Luís XV (Johnny Depp).
Na sua primeira vez em Versalhes, Jeanne já chama a atenção do rei. Ela finalmente tem seu primeiro encontro com o monarca após ser apresentada a uma série de protocolos ridículos. Criticada por muitos, principalmente dentro da família real, e copiada por diversas mulheres da Corte, Jeanne Du Barry se transforma na Favorita do Rei.
Como todo filme que retrata a opulência da corte francesa no Antigo Regime, “A Favorita do Rei” é um deleite para os olhos. Há alguns enquadramentos que são pura arte, como Jeanne e Luís XV vistos brevemente de cima, com a cauda do vestido dela fazendo um semicírculo ao redor da mesa de jantar, e também quando Jeanne sobe um longo lance de escadas. A filmagem em 35mm só tem a acrescentar quanto às cores que vemos na tela. A música, por outro lado, fica em segundo plano, até alcançar seu momento nos créditos finais.
O filme é dedicado a Hervé Temime, um advogado que teve seu lugar ao sol no cinema interpretando advogados em filmes como “Polissia” (2011) e “Meu Rei” (2015), ambos de Maïwenn Le Besco, que protagoniza, co-escreve e dirige “A Favorita do Rei”. Ela conta que a vontade de fazer um filme sobre Jeanne Du Barry surgiu em 2006, quando viu “Maria Antonieta” de Sofia Coppola e se encantou com a personagem, na ocasião interpretada por Asia Argento e sem muito tempo de tela. Ao longo de quase vinte anos, Maïwenn foi acumulando experiência na direção para finalmente seu sonho sair do papel para as telas.
Após três anos escrevendo o roteiro, Maïwenn filmou diversas cenas-chave em locação em Versalhes, sempre às segundas-feiras, quando o local fica fechado para turistas. Notou que, quanto mais nos distanciamos da época de Madame Du Barry, mais elogiosos são os relatos sobre ela. Uma mulher injustiçada, como foram tantas outras ao longo da História, ela ganha voz e vez neste novo filme, uma película pulsante e instigante.
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