“Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou” – Íntimo e instintivo

Há muito do instinto da atriz e agora diretora premiada, Bárbara Paz, por trás de sua declaração de amor ao marido, chamada Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, documentário em que ela acompanha os últimos momentos de vida do cineasta Héctor Babenco, nascido na Argentina, mas brasileiro por paixão, que faleceu de câncer, em 2016.

Esse instinto é bem valioso quando colocado na perspectiva da intimidade de um homem que defendia o cinema como complemento inescapável da própria vida. O homem por trás de obras tão importantes como O Beijo da Mulher Aranha (1985) e Carandiru (2003), lutava contra a doença desde a década de 1980, mas na última década, o câncer veio mais agressivo e o cotidiano de viver sobre o espectro da morte dá a dimensão de todo o filme, sob o olhar apaixonado dela.

"Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" – Íntimo e instintivo – Ambrosia

É um documentário montado (com ajuda de Cao Guimarães) numa espécie de mosaico de fragmentos de seus filmes, com cenas de pura intimidade trivial do casal. Nesses recortes, Paz vai tecendo algo até além de um retrato confessional saudoso de seu companheiro, mas também uma narrativa desconstruída sobre a brevidade da vida.

Babenco, mesmo nos momentos mais dramáticos de seus últimos dias, transparecia algo muito mais complexo que a objetividade da aproximação da morte. Entusiasta da linha tênue entre arte e vida, ele estava interessado mesmo na subjetividade do que fica quando se vai. Tanto que em picos da doença, elaborou filmes que rechaçassem seu testamento de vida: Coração Iluminado (1998) e seu último, Meu Amigo Hindu (2016).

"Babenco - Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" – Íntimo e instintivo – Ambrosia

Como primeiro longa e até pelo envolvimento profundo, Paz é instintiva na organização que sua memória e sua sentimento podiam elaborar sobre o homem que amou. É como se seu filme se construísse de fragmentos dele, inclusive pela perspectiva de ambos: o olhar amoroso dela e a auto-ironia resiliente dele.

O ponto nevrálgico está na certeza de que ele foi a sua obra, algo que Paz foi tão feliz em conseguir sintetizar. Um alento que ela ilustra certeiramente ao usar a música Exit Music (For a Film), do Radiohead, cujo trecho diz muito mais que a sensação de ser apenas um filme de expurgação:

“agora somos um só
na paz eterna…”

Nota: Épico / 4.5 de 5 estrelas

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