A ficção nos apresentou a viagem no tempo e a ciência não dúvida que, se a viagem no tempo se desenvolver em algum ponto, não irá demorar para decompor o continuum espaço-tempo até a própria extinção do ser humano antes de sua própria gênese. Stephen Hawking defendeu essa tese, para quem só se pode viajar no tempo; e Ray Bradbury explicou melhor em sua história A Sound of Thunder (Um Som de Trovão, 1952). Em todo caso, não impede que a viagem seja uma constante na ficção científica, talvez mais preocupada com as repercussões da própria mudança do que com as implicações.
É mais um jogo de efeito borboleta, que desta vez se expande ao longo do tempo para fazer mudanças, e sim … um veículo de reflexão e mesmo de criação, para criar novas narrativas onde nos possamos divertir ou nos preocupar. Quem se lembra de nazistas contra dinossauros?
É o que Frank Miller faz em seu roteiro para Robocop versus Terminator (Robocop versus Exterminador do Futuro), uma verdadeira odisseia onde a aparente luta entre unidades robóticas contra a resistência humana, todas arbitradas por um ser cibernético, funciona como um apelo pela liberdade e o desejo de sobrevivência. Temas que não são novidade na produção artística de Miller, que nunca escondeu seus anseios e medos ideológicas, mas é justamente nessa criação, em um jogo entre duas franquias cinematográficas, que leva adiante seu anarquismo libertário.
Os crossovers costumam ter a qualidade média das adaptações em videogames, já que os criadores querem vender e seguem a simples reivindicação dos fãs, resultando em produtos que, esperançosamente, alcançam a mediocridade. Felizmente, essa HQ lançada em 1992 pela Dark Horse é o caso oposto em todos os sentidos.
Walter Simonson faz um trabalho incrível, pois o desenhista coloca todo seu talento a serviço do enredo de Miller para preencher as páginas da ação que a história exige. Seu desenho consegue se manter tão pessoal quanto é, ao mesmo tempo que se adapta perfeitamente ao imaginário das sagas cinematográficas, fazendo com que Alex Murphy e os endoesqueletos dos quadrinhos mantenham o mesmo carisma do cinema. Os exterminadores merecem menção especial, já que Simonson consegue enchê-los de personalidade, fazendo com que aqueles humanoides de metal transmitam seu próprio mal, quase primitivo, em todos os momentos.
O roteiro de Frank Miller tece um bom enredo de ação, como também sabe como trabalhar com a difícil viagem no tempo. Que ninguém se engane, como já mencionamos, Miller não está se escondendo, então quem tiver problemas com a visão de mundo do autor vai encontrá-lo. Talvez os dois pontos mais favoráveis do quadrinho sejam, por um lado, a capacidade de Miller de encadear as várias mudanças temporais e, por outro, a maneira como ele mescla as duas mitologias. o autor coloca os dois personagens em um mesmo universo, dando-lhes uma lógica retumbante, fazendo um a gênese do outro. Em certo sentido, o passo é lógico, indo do homem ao ciborgue e depois à máquina.
Mas o entretenimento não vive apenas da ação, com as quais é necessário destacar o jogo do próprio autor que praticamente reconfigura o continuum temporal, fazendo com que rebeldes e máquinas saltem continuamente no tempo para reorganizar o futuro a partir de seus próprios interesses. No meio está o Robocop, entidade que sabe ser responsável por um futuro que não gosta, mas com humanidade suficiente, mesclada com softwares e hardwares variados, para querer participar ativamente no futuro da raça humana.
A HQ de Frank Miller e Walter Simonson é uma ópera cheia de ação, mas sem desviar do cenário como uma história de ficção científica clássica e, por que não, um texto quase filosófico sobre a própria concepção do que nos torna humanos e o que nos torna livres.
Essa HQ é muito clássica