Quando uma franquia cinematográfica não tem mais para onde ir, a saída mais recorrente é o filme prólogo. Depois que George Lucas contou a origem de Darth Vader em “Star Wars: A Ameaça Fantasma”, atingindo um faturamento grandioso, Hollywood entrou de vez no filão do “filme de origem”, sempre acionado quando falta imaginação ou a franquia precisa ser revigorada. “King’s Man: A Origem” se encaixa em ambas as alternativas.
Nos primeiros anos do século XX, a agência Kingsman é formada para enfrentar uma cabala que planeja uma guerra para eliminar milhões. O assassinato do Arquiduque Ferdinando em um passeio deflagra a Guerra Mundial. Orlando (Ralph Fiennes) e seu filho Conrad (Conrad Oxford), então, partem para a Rússia ao investigar outro grupo de agentes secretos e descobrem que Rasputin também faz parte de um grupo que quer eliminar os Czares.
“Kingsman: Serviço Secreto” era uma adaptação de 2014 dos quadrinhos de Mark Millar, dirigida por Mathew Vaughn, repetindo a dobradinha bem sucedida de “Kick Ass: Quebrando Tudo”. Chamou atenção pela ação estilizada, roteiro sagaz e também pela violência e politicamente incorreto. O resultado foi uma bela arrecadação de mais de US$ 414 milhões ao redor do mundo. Sua continuação, “Kingsman: O Círculo Dourado”, carecia de brilho e decepcionou nas bilheterias.
O movimento seguinte para trazer algo de atrativo seria mesmo voltar no tempo para contar como a agência de espiões foi formada, aproveitando do contexto histórico como pano de fundo. O problema é que essa origem poderia perfeitamente se encaixar em um breve flashback, sem maiores danos. Isso fica nítido na demora da trama para engrenar e nas voltas que o roteiro dá para se concluir.
Brincar com fatos históricos dando-lhes pitadas de ficção não é novidade no cinema e nos quadrinhos. Aqui isso é feito de forma burocrática. O Rasputin de Rhys Ifans é caricato a maior parte do tempo como todo o grupo de vilões. Os protagonistas são artificiais, gerando pouca empatia, o que prejudica o envolvimento e a sensação de perigo, uma vez que você não se importa muito com eles. Ralph Fiennes e Djimon Hounsou até se esforça, mas não há muito o que se fazer com um script que não abre espaço para evoluir.
Com uma trama tão protocolar em mãos, o diretor Matthew Vaughn até consegue extrair alguma graça com sua ação estilizada vista nos dois filmes anteriores. A direção de arte é outro trunfo, mas esses atributos ainda são pouco para tornar a trama memorável.
Por fim, “King’s Man: A Origem” termina sendo uma diversão eficiente em alguns momentos, porém engessada demais, fazendo o espectador sentir muita saudade da anarquia, do exagero, e até mesmo da incorreção, do primeiro longa, cujo brilho parece que não vai mais se repetir na franquia.
oxê tinha grandes expectativas que fosse ser um filmaço
Esse que vos escreve (e escreveu a resenha) também…