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O Bárbaro – Delitos Fatais, de Michael Moreci e Nathan Gooden

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No mercado de quadrinhos dos EUA, quando uma nova editora surge com bons títulos e que cheguem ao mercado brasileiro é melhor ainda. No caso, a Vault Comics está conquistando um espaço interessante no cenário dos quadrinhos nos EUA. Não que a editora dos irmãos Wassel esteja no mesmo nível de gigantes do mercado independente como Image, Dark Horse ou BOOM!, mas, sem dúvida, está jogando bem suas cartas e chamando nossa atenção. Aos poucos, vimos a Vault atraindo talentos como Cullen Bunn, Mark Russell ou Christopher Cantwell, mas, curiosamente, seu maior sucesso de vendas até agora não está ligado a nenhuma dessas figuras, e sim a uma série chamada Barbaric, traduzida para O Bárbaro, a série é publicada pela Poseidon. O primeiro volume, “Delitos Fatais”, foi lançado em 2023, que analisaremos neste artigo e o segundo, “Arma de Esmagar”, foi lançado agora em 2024, que iremos resenhar.

Barbaric (O Bárbaro) foi criada por Michael Moreci e Nathan Gooden, uma dupla criativa com poucos trabalhos de grande relevância, mas com uma boa experiência acumulada. Moreci já roteirizou tantas histórias do mainstream (Asa Noturna, Star Wars Adventures, The Flash ) quanto do mercado independente, incluindo alguns títulos pela própria Vault. Gooden, por sua vez, também construiu sua carreira como artista dentro da Vault (o que faz sentido, já que ocupa um cargo direto na editora), assinando trabalhos como Vampire: The Masquerade, Powerless ou o recente The Rush . A equipe é completada por Addison Duke nas cores e Jim Campbell na letreiragem, criando um mundo de fantasia épica com um toque de irreverência.

O Bárbaro nos conta a história de Owen, um guerreiro lendário e implacável cujos dias de aventura e caos desenfreados são interrompidos pela prisão de três poderosas bruxas que o amaldiçoam. A maldição o obriga a ajudar qualquer pessoa que peça sua ajuda e a matar apenas aqueles aqueles atos de maldade justificam tal proteção. Desde então, Owen segue, contrariado, uma vida de herói, acompanhada por um machado falante sedento de sangue e álcool e com um toque de sarcasmo.

É assim que começa a história de Owen, com um primeiro volume intitulado Delitos Fatais, trazido para a Brasil pela editora Faro Editorial, no selo Poseidon. A editora despertou o interesse ao publicar títulos diferenciados, mas um ritmo irregular de lançamentos nos fez pensar que havia perdido o interesse. No entanto, parece que o seu catálogo de obras dos EUA ainda dá sinais de vida, e esperamos que este volume marque um retorno à atividade. Especialmente porque não gostaria de ser deixados na mão com essa coleção inacabada, já que Moreci e Gooden pretendem fazer de Barbaric, segundo suas palavras, “uma coleção de aventuras curtas interligadas, ao estilo de Hellboy”. A questão é: será que conseguiremos atingir essa ambição com o que nos apresentamos aqui?

A resposta, para mim, é “talvez”. Neste primeiro volume, os autores nos apresentam a seu universo apresentando o protagonista e o envolvido em uma aventura autoconclusiva que serve como desculpa para contextualizar suas motivações, passado e segredos, além de introduzir uma companheira de aventuras. A qualidade de execução varia bastante. No que diz respeito à apresentação do personagem principal, Moreci e Gooden conseguem gerar muito interesse por esse Owen selvagem, boca-suja e sanguinário, forçado a agir como herói contra sua vontade. Os códigos clássicos do gênero se misturam com um humor refinado e uma linguagem mais cotidiana do que o esperado em uma história do tipo, resultando em um primeiro capítulo promissor e cativante. Um sidekick funciona, mas o destaque está na dinâmica econômica entre Owen e seu machado falante, que é um dos pontos mais divertidos da obra.

Por outro lado, o desenvolvimento dessa primeira aventura deixa a desejar. Após um capítulo inicial intrigante, os dois seguintes seguem uma trama genérica, com um vilão sem personalidade que serve apenas para capturar e uma resolução apressada e pouco impactante. O resultado final é agridoce: um conceito e um protagonista irreverentes e cativantes, mas uma narrativa sem originalidade e complexidade. Em uma série regular, talvez isso bastasse para abandonar a leitura, mas, sabendo que o objetivo é contar pequenas histórias curtas, fico com vontade de dar outra chance para ver se o roteirista consegue explorar melhor o personagem.

No aspecto artístico, podemos dizer que o trabalho de Nathan Gooden é de alta qualidade. O desenhista e diretor artístico da Vault traz um traço poderoso e um estilo que lembra (guardadas as proporções) de Sean Murphy. Sem buscar grandes detalhes, Gooden conduz as cenas com segurança, destacando-se especialmente nas sequências de ação. Nessas cenas, as páginas iniciais dominam para transmitir o máximo de intensidade nos combates. O trabalho de Addison Duke nas cores também é excelente, optando por uma abordagem que realça o clima de fantasia épica da obra. A única ressalva é o estilo pixelado usado para colorir o machado, que não parece funcionar tão bem, mas é um detalhe menor dentro de um conjunto visual muito forte.

Quanto à edição, embora o selo da Poseidon venha lançado irregularmente, não há grandes críticas à qualidade de produção. O volume chega em capa dura, com gramatura alta, material extra e ótimo acabamento. A tradução de também é digna de elogios, arriscando expressões informais e naturais que combinam bem com o tom da história.

O Bárbaro: Delitos Fatais começa com altos e baixos. Seu humor irreverente, o protagonista carismático e o excelente trabalho artístico são os pontos positivos, enquanto a falta de originalidade da primeira aventura pesa contra. Porém, considerando que a proposta é construir um universo com pequenas histórias, vale dar um voto de confiança aos autores e acompanhar como o projeto se desenvolve após este piloto. O potencial está lá; só falta aproveitá-lo.

O Bárbaro - Delitos Fatais

O Bárbaro - Delitos Fatais
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Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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