A conhecida Netflix tem vários documentários sobre os mais variados temas, vocês sabem como são interessantes, mas esse sobre o multimilionário e a sua busca por desacelerar o envelhecimento, bem, ele tem um sentido psicológico que não podemos deixar escapar, falo isso porque diz respeito a todos nós! Estamos falando de “O homem que quer viver para sempre” (Don’t Die: The Man Who Wants to Live Forever, no original), lançado este ano de 2025, com foco na pressa neurótica do empresário Bryan Johnson e sua defesa contra a angústia da morte.
No documentário, o Sr. Johnson põe o corpo e a fortuna em risco ao desafiar o envelhecimento e tentar estender seu tempo de vida para além de todos os limites conhecidos e admitidos pela Natureza ao longo das eras! Ele leva a sério! O espectador acompanha sua jornada existencial nessa obsessão pela juventude, explorando tanto os aspectos científicos quanto éticos ou pessoais, quer dizer, como ele lida com sua visão de mundo, as críticas, o impacto disso na sua conturbada vida social.
Este é um figurão da tecnologia que ficou conhecido por seu projeto de longevidade extrema, um exemplo da cultura exacerbada de imagem. Uma pessoa gastando milhões de dólares por ano em uma rotina rigorosa de dieta, exercícios, exames médicos e intervenções biotecnológicas para tentar reverter o envelhecimento de seus órgãos e atingir o “pico” de juventude biológica, olha, é material de estudo! Mas qual o sentido de gastar tanto com autopromoção? Claro, é seu filão de mercado, vocês podem dizer! Porém, qualquer psicanalista que se preze, sabe que o maior gasto é o de energia psíquica, energia essa para manter a mente em uma constante ilusão obsessiva.
Este seria o empresário que mais teme a morte, e com isso tenta de tudo para se manter jovem? Mas a Ciência estaria preparada para ele, quer dizer, e se o que tenta convencer realmente tiver efeito? Mas para quê se estender mais neste mundo? Ele vai encontrar na beleza e juventude o que já não dispõe? Até se tentar falar isso filosoficamente, a empreitada é um pisar em ovos! Se manter tanto tempo assim na corrida contra o Tempo, esse que não para, é um risco para a saúde mental, inclusive para o seu discernimento do que é real ou pura projeção. O estereótipo do corpo físico perfeito é isso, um campo de ideias, falamos isso com toda a sinceridade porque não existe tal perfeição, essencialmente é vaidade pura. E é vaidade também pensar em compartilhar isso. No mesmo viés, não é para tentar comprar o Tempo, possuir sua marcha. Fato é, o Sr. Johnson não cessa de admirar a juventude no decorrer do filme, ele estaciona por entre algum dos estágios de desenvolvimento psicossociais descritos por Erik Erikson em “Infancia e Sociedade”.
Talvez faça para dar mais corda à uma visão equivocada da juventude, a dele e a dos outros, de todo um mundo ideal, e esse narcisismo se valida ao observar o corpo idealizado, a ilusão de se privilegiar acima do relógio da Existência. Porém, o mais alarmante é transformar tudo isso em uma disputa e arrastar o público através de um jogo de empilhar cartas. A mais leve intempérie fatídicamente pode derrubar uma estrutura tão frágil. Esse é o molde do indivíduo que quer possuir fama através da cultura do corpo, ainda que a fluidez das redes sociais não favoreça. Mas a fluidez é para tudo. Porém, nenhum corpo humano nem nada no movimento constante do Universo possui estabilidade infinita, se inflar com essa pretensão não vai facilitar a vida do indivíduo e seu smartphone. Através das redes sociais e da imagem de si, estar constantemente ali exibindo os atributos de que já não dispõe também não fará bem para sua mente. O Ser Humano precisa tanto dessa fascinação tanto quanto de um alimento? As razões podem ser reveladoras. “Suas motivações são bem compreensíveis para qualquer observador!” diria o psicanalista Alberto Goldin, tão citado, com em seu clássico “Freud Explica… Como compreender e superar alguns medos e dificuldades do homem moderno”
Vivemos numa histeria de culto da imagem e superposição? Por quanto tempo ainda não falar sobre isso? Quanto ainda nos resta para expor nesse contexto em que a velocidade do rolar de feeds e posts é tensa?
Enfim, para todos que estão aqui, com a terapia temos a oportunidade única de aprender com as experiências dos pacientes também, no sentido de que, com eles podemos avaliar os fatos, os obstáculos desses pacientes. Sim, todos uma hora aprendemos com os erros, aprender é bem construtivo! Muitos são os terapeutas que assistiram os seus pacientes levando a melhor sobre os pontos fracos de sua própria personalidade, é realmente uma vitória!
O trabalho de um psicoterapeuta é auxiliar o paciente a se conscientizar de suas questões psíquicas, a pessoa acometida pelos sintomas, síndromes ou complexos, ao se conscientizar de suas insatisfações, tem melhora significativa na consciência da Vida. A terapia vai desviar esse paciente das metas irrealizáveis que levam aos adoecimentos psíquicos através de processos de autoimaginação distorcidos. Ao saber desses assuntos, poderá reestabelecer sua saúde mental. Tudo o que leva algo da energia psíquica das pessoas, impedindo assim que não disponha de tanta energia para outras situações, tudo isso deve ser analisado com o intuito de reequilibrar seu psiquismo. É um trabalho de tradução desses conteúdos inconscientes. Mas para isso o paciente precisa de se permitir. A boa notícia é que pode já ir pensando em como sair do que for desconfortável!
