O cinema é ferramenta para, entre outras coisas, catarse: em mais ou menos duas horas, somos apresentados a uma situação e nos inserimos nela, vivendo, em graus diversos de acordo com nossa atenção e disposição, as mesmas emoções que os personagens vivem. É ferramenta de empatia quando nos faz perguntar: “e se fosse comigo?”. É exatamente essa pergunta que nos faz o filme espanhol “Redenção”, partindo de um caso em que a realidade supera qualquer ficção.
No ano 2000, o ex-governador José María Jáuregui é assassinado a sangue frio por membros do ETA, deixando desoladas sua esposa Maixabel (Blanca Portillo) e sua filha Maria. Dez anos se passam. Os responsáveis pelo assassinato estão presos, incluindo Ibon (Luis Tosar), que foi cúmplice e facilitou a fuga. O grupo na cadeia é formado por arrependidos e expulsos do ETA.
Surge então no cárcere um novo programa, que coloca frente a frente criminosos e parentes de suas vítimas. Maixabel aceita participar de uma sessão, e na ocasião conversa com Luis Carrasco (Urko Olazabal), que foi cúmplice do assassinato mas não puxou o gatilho. Quando Ibon decide também conversar com a viúva do homem que ajudou a matar, o programa é subitamente encerrado. Ele então tentará um encontro durante uma de suas licenças.
O que leva alguém a se juntar a um grupo como o ETA? Na narrativa de Ibon, sobretudo idealismo e ingenuidade. Além do ETA, é mencionado um grupo chamado GAL, sigla para Grupos Antiterroristas de Libertação, um braço do governo espanhol que, para combater o ETA, usou das mesmas táticas violentas que o grupo basco.
A trilha sonora é de Alberto Iglesias, colaborador frequente de Pedro Almodóvar. O roteiro e direção ficam a cargo de Icíar Bollaín, que parte de uma história real. Com 32 créditos como atriz e 21 como diretora, entre eles “Te Dou Meus Olhos” (2003), sobre violência doméstica e também protagonizada por Luis Tosar, ela vem se firmando como uma das principais criativas do cinema espanhol, transitando bem entre comédia e drama, e se saindo especialmente bem no drama.
“Redenção” recebeu 14 indicações ao prestigiado Prêmio Goya, com Blanca Portillo vencendo como Melhor Atriz. O filme continuou colhendo indicações: a Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Chicago e à Concha de Ouro, principal prêmio do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián.
Maixabel, além de virar alvo de possíveis novos ataques por causa de sua atuação como agente governamental para luta contra a violência, também perde sua liberdade com o assassinato do marido. Ela passa a andar com escolta, seja pela rua ou numa caminhada pela praia. Sua jornada inclui o perdão a Luis e Ibon, mas não é, como você já deve ter percebido, uma jornada fácil. O que você faria no lugar dela? É verdade, como ela diz, que todos merecem uma segunda chance? Veja e responda, se puder.
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