Dança à Deriva reúne 32 espetáculos de 11 países em São Paulo

Dança à Deriva reúne 32 espetáculos de 11 países em São Paulo – Ambrosia

De 5 a 15 de outubro, o Centro Cultural São Paulo será palco para a 10ª edição do Dança à Deriva – Encontro latino-americano de dança, performance e ativismo. Ocupação 9 de Julho e Espaço Nave Coletiva também recebem atividades, como o Entramadas – 3º Fórum de Artistas Gestores.

Com a presença de artistas e obras de 11 países – Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela –, além do Brasil, evento reúne protagonistas da cena contemporânea, artistas do corpo, da dança, da performance e das artes teatrais em uma maratona com 32 espetáculos, rodas de conversas, laboratórios e um fórum de artistas-gestores.

Na programação gratuita, destaque para o grupo Teatro de Los Andes, da Bolívia, que apresenta as montagens La Mujer de Anteojos e La Muerte de Jesús Mamani e ministra um laboratório que mescla técnicas teatrais e a cultura andina. Do Chile, o Tías Cochinas entra em cena com Oro Negro e da Argentina, o Proyecto Nómades Transversales mostra Máquina Orfeo. Já os equatorianos da Frente Danza Independente trazem para São Paulo o espetáculo Prometo No Obedecer. Cuando El Destino Se Emancipa.

O Brasil também marca presença com nove obras, com ênfase para Um Dia a Gente se Mete a Besta pra Fazer uma Massa, do Grupo Ximbra; Negaça, de Urubatan Miranda; Eco, Ôco Preso no Peito, de Maria Emilia Gomes e Foda-se Eu, do Teatro da Matilha.

A abertura do Dança à Deriva – dia 5 de outubro, quinta-feira, às 19h – contará com a apresentação Erga Omnes, da Cia. Fragmento de Dança, além de show musical de Arnaldo Tifú e Pedro Simples, que se unem para apresentarem um repertório autoral entre as diferentes vertentes e estilos de rap.

Em 2023, o Dança à Deriva conta com o apoio do Iberescena – Fundo de Apoio às Artes Cénicas Ibero-americanas e do ProAC Editais para celebrar seus 10 anos e a consolidação dos vínculos poético-políticos que vem promovendo entre artistas, coletivos e gestores culturais latino-americanos, ao longo das suas edições.

Criação de redes

Idealizado e coordenado por Solange Borelli, artista da dança e gestora de projetos culturais, o Dança à Deriva entende a arte e a cultura como espaços de intercâmbios humanos e de elaboração coletiva de sentidos. Para ela, este encontro é um dos poucos acontecimentos culturais que ocorre em território nacional, que mobiliza uma grande quantidade de artistas dispostos a compartilhar e provocar processos de criação e de articulação política num mesmo tempo e lugar.

“Dança à Deriva é um lugar onde poéticas e políticas se misturam, onde artistas se encontram, onde se compartilham processos e experiências artísticas, onde se revitalizam desejos comuns de convívio, de trocas afetivas e de celebração”, pontua Solange Borelli.

A 10ª edição do Dança à Deriva também é marcada pela realização do Entramadas – Fórum de Artistas Gestores, um espaço voltado para conversas, onde cada artista conta sobre suas realidades, seus contextos sociais, políticos e culturais, e de como esses contextos influenciam na criação e realização de seus trabalhos. Entramadas acontecerá nos dias 8 de outubro, na Ocupação 9 de Julho, e no dia 9 de outubro, no espaço cultural Nave Coletiva, onde também ocorrerão algumas das apresentações artísticas que compõem a programação geral.

Uma programação latino-americana

Desde a primeira edição, em 2012, o Dança à Deriva vem se consolidando como um ponto de articulação e diálogos entre os países da América Latina. Isso é bem fácil de se ver na programação que este ano traz 32 obras de artistas do Brasil e de 11 países, selecionados por meio de uma curadoria composta por representantes de vários países da América Latina.

Da argentina, o Proyecto Nomades Transversales apresenta Máquina Orfeo, uma exploração do mito de Orfeu, que Jean Cocteau abordou nas suas obras Sangue de Poeta (1932), Orfeu (1950) e O Testamento de Orfeu (1956) sob um olhar dos dias atuais, e Araceli Marquez exibe em Petrificada, um corpo todo coberto de argila, que se move durante a obra com uma dureza e lentidão particulares.

Da Bolívia, o Teatro de Los Andes traz para o encontro dois espetáculos: La Mujer de Anteojos e La Muerte de Jesús Mamani. As duas peças baseadas em textos literários de dois escritores emblemáticos da literatura latino-americana Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano, tratam da identidade boliviana e entrelaçam realidade e fantasia. As obras apresentadas em sequência têm a forma de uma história e são elaboradas a partir da pesquisa vocal-musical para o palco de Gonzalo Callejas e dos gestos das danças indígenas de Alice Guimarães.’

Os coletivos chilenos Tías Cochinas e Proyecto Insania apresentam Oro Negro e Insania. O primeiro é uma proposta cênica homoerótica com uma estética inspirada no marginal, onde o pós-pornográfico, os deuses do submundo, a solidão, os medos e as culpas conduzem o corpo à desinibição e à bestialidade longe dos preconceitos morais que o tentam corromper. Já o segundo explora as diferentes dimensões da saúde mental para gerar uma criação que, através da linguagem da dança e da performance, procura problematizar e sensibilizar para esta questão.

A Colômbia marca presença com quatro grupos artísticos. El Pico de La Buitrera, é a montagem do Departamento Coreográfico sobre um grupo de pessoas privadas das suas necessidades básicas de moradia e alimentação reunidas por uma misteriosa mulher e La Reina, do Zarabanda Danza Afro, reconfigura a emblemática dança colombiana Sanjuanero Huilense por um trio de bailarinas. Estampida, peça coreográfica de dança contemporânea criada em 2021 pelo grupo Movedizo Danza, pretende tornar visível, reconhecer e refletir sobre os estados corporais a que estão expostas as pessoas que vivenciam episódios de perigo, risco, violência e deslocação. O Colectivo Carretel remonta a obra Cuatro Puntos com artistas da cena, da cidade de São Paulo, provocando um intercâmbio artístico, cultural, criativo e colaborativo. A montagem é um dos espetáculos do repertório da companhia que vem sendo experimentada para/com coletivos de outros países recriando novas configurações cênicas.

Do Equador, a Frente Danza Independiente apresenta Prometo No Obedecer. Cuando El Destino Se Emancipa, uma proposta de dança interativa, que aborda temas como o género, o ambiente e a mobilidade entre o ritual e o contemporâneo.

O Paraguai integra o evento com três espetáculos. Hasta Ultimo Trrago, do Território Teatro, mescla teatro, dança, música e narrativa visual para contar a história de Vicenta, uma mulher que se perdeu à procura do sol, enquanto Barquitos de Papel, do Tercer Espacio Colectivo, constrói-se a partir de um universo sonoro e corporal para estabelecer um diálogo com a memória e a sua poesia. Hapo, solo de Hugo Rojas, examina os caminhos, que levaram à formação das comunidades afrodescendentes no Paraguai.

Alonso Nunes, do Peru, apresenta a performance Job, na qual questiona a relação de dominação sobre o corpo e tenta um diálogo com a dor e a crise do espaço social em que interage. Do Uruguai, o Colectivo ‘X’ exibe Por Acá Passó uma Máquina, uma cartografia-ritual que se vai instalando, feita de corporeidades e materialidades, como memórias, arquivos, afetos, músicas, audiovisuais e textos. María Fernanda Abzueta, do Red del Absurdo, da Venezuela, traz em Memórias, os relatos autobiográficos da própria avó Ligia Margarita Sosa de Peña, que dois anos antes da sua morte decidiu escrever as suas memórias num caderno.

México e Centro-América marcam presença

Artistas e grupos mexicanos também integram a programação. O Colectivo enNingúnlugar, que já participou em outras edições de Dança à Deriva, questiona a identidade e o desejo em Cuando Lleguen los Bárbaros, por meio de uma busca frenética e absurda para reconhecer as formas como o sistema ideológico exerce domínio sobre corpos, ideias e afetos. Yanina Orellana traz ao palco a coreografia Todos Somos Hijos de la Chingada, uma mescla de dança contemporânea e performance, que pretende reconciliar arquétipos femininos da cultura popular mexicana relacionados com a violência de gênero. Entre el Tiempo y el Sol é a obra da Quirón Danza, que apresenta uma dança documental com o uso da palavra e do movimento-corpo sobre a sensibilidade na masculinidade e Soy Mi Diablo, do Colectivo Cuerpo Fracturado, exibe uma mulher-criança-puta, que canta, dança e ladra, sem pudor, em uma tentativa genuína de reconstruir a sua autoestima a partir de um ponto de vista mais amoroso, completo e feminista.

Com dramaturgia e direção do guatemalteco Josué Castro, La Nina Del Volcán, nasce de circunstâncias e momentos cotidianos, permeados pela violência sistêmica e estrutural na Guatemala.

Brasil em cena

Nove obras nacionais também sobem ao palco do Dança à Deriva. Grupo de dança periférica contemporânea, que realiza a pesquisa “Memórias Marginais” por meio das danças, música ao vivo, o corpo percussivo e trabalhos audiovisuais, o Grupo Ximbra, fundado em 2011 na Zona Leste de São Paulo, e que desenvolve suas ações, sobretudo, nas periferias, apresenta Um Dia a Gente se Mete a Besta pra Fazer uma Massa.

Urubatan Miranda sobe ao palco com Negaça para falar da religiosidade negra, onde o corpo se desdobra em um personagem que conta histórias em movimentos fragmentados utilizando o universo da movimentação de Exú dos cultos de Umbanda. Maria Emilia Gomes mostra o solo Eco, Ôco Preso no Peito, um encontro-confronto entre artista e público. Nesta gira e ginga corpo e som, ritualizam a presença ancestral e, firma: pés na terra, erguer-se, seguir de pé e explodir o peito.

Foda-se Eu, do Teatro da Matilha, é um experimento cênico e talvez um espetáculo de dança-teatro que se edifica na contradição que a autodeterminação pode provocar em um corpo. A montagem é uma lembrança para o elenco e uma implicação generalizada, e antes de ser um grito coletivo, é um sussurro individual. Em Facebook: Me, Myself and a Supposed Self-Portrait, T. Angel utiliza diferentes materiais – tinta, saliva, suor e sangue – para construir as páginas de seu livro de rosto, suporte para o(s) seu(s) suposto(s) autorretrato(s). É o momento íntimo da artista com ela mesma. Momento de forjar um suposto autorretrato.

Luis Ferron & Maurici Brasil dançam Arruaças sobre as incertezas e o desejo de ritualizar uma passagem e Andréia Nhur & Grupo Pró-Posição mostram em Plasticus Dei, um corpo em colapso entre a repetição ritualística e o uso poético de objetos descartáveis de consumo. Já Entre Ar, do Núcleo Improvisação em Contato, propõe a relação entre dança e artes marciais, por meio de conceitos da filosofia oriental, como os movimentos do vento, da ventania e da brisa, enquanto a Cia. Fragmento de Dança, em Erga Omnes – expressão em latim que significa “contra todos” – estabelece na cena pensarmos as estruturas às quais pertencemos, aquelas que nos oferecem proteção e nos cobram obediência.

Ao fim de 11 dias de encontros e celebrações, o Dança à Deriva encerra sua 10ª edição com a performance coletiva Invitación, conduzida por Sofia Lans (Uruguai), Cesar Garcia e Nelson Martinez (Colômbia), para lembrar-nos que temos todas as razões para fazer uma revolução, porém, não são as razões que as fazem, são os corpos.

Serviço:

DANÇA À DERIVA

Encontro latino-americano de dança, performance e ativismo

De 5 a 15 de outubro de 2023

Centro Cultural São Paulo

Rua Vergueiro, 1.000 (estação Vergueiro do metrô) – Vergueiro, São Paulo.

Gratuito | Os ingressos de toda a temporada ficam disponíveis para o público geral uma semana antes da estreia (70% dos ingressos são disponibilizados para reservas online no site https://rvsservicosccsp.byinti.com e 30% para retirada na bilheteria física).

Entramadas – 3º Fórum de Artistas Gestores

8 de outubro, das 10h às 13h, na Ocupação 9 de Julho – R. Álvaro de Carvalho, 427 – Bela Vista, São Paulo.

9 de outubro, segunda-feira, das 10h às 18h, no Espaço Nave Coletiva – Rua José Bento, 106 – Cambuci, São Paulo.

Programação, sinopses, ingressos e outras informações no site dancaaderiva.com.br e no perfil @dancaaderiva do Instagram.

Ficha Técnica:

Idealização e Coordenação Geral: Solange Borelli | Produção Executiva: Maju Tófulli | Colaboradores: Sylvia Fernández, Nelson Martinez, Luis Rubio, Eliana Jimenez, Gerson Moreno, Oswaldo Marchionda, Felix Oropeza, Sofia Lans e Valéria CanoBravi | Equipe Técnica: Alexandre Zullu, Edu Luz e Fabiano Savon | Registros Fotográficos: Giorgio D’Onofrio e Paulo Cesar | Registro Vídeos: Osmar Zampieri | Identidade Visual: Pedro Penafiel | Coordenação Mídias Sociais: Renato Fernandes | Assessoria de Imprensa: Nossa Senhora da Pauta | Apoio: Centro Cultural São Paulo, NAVE Coletiva, Cooperativa Paulista de Dança, Universidade Anhembi Morumbi | Produção e Realização: RADAR CULTURAL Gestão e Projetos.

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