A Jedicon 2017 contou com a presença de quatro dubladores da saga Star Wars. Dos novos filmes estavam Renan Freitas (Finn), Adriana Torres (Rey) e Phillipe Maia (Poe Dameron). Já da trilogia original, estava presente ninguém menos que a clássica voz de Luke Skywalker, Mário Jorge. Em entrevista à Revista Ambrosia, os donos das versões brasileiras do novo trio de protagonistas falou da responsabilidade de trabalhar com a saga. Já o veterano dublador (que tem no currículo o JR de “Dallas”, o Burro do Shrek e é a voz do guincho Mate em “Carros” da Pixar) revelou que deseja muito ser chamado para voltar a dublar seu personagem em “Os Últimos Jedi”. Confira a conversa abaixo.
Ambrosia: Gostaria que vocês me falassem da responsabilidade de dublar uma franquia conhecida por ter fãs tão exigentes como é o caso de Star Wars.
Adriana Torres: É uma grande responsabilidade justamente por causa dessa dimensão que a série tem. Eu por exemplo não sou uma profunda conhecedora do “Guerra nas Estrelas”. Assisti aos primeiros filmes quando era criança, mas não ainda com um olhar crítico, que eu tenho hoje. Esqueci muita coisa e voltei a me interessar agora com a dublagem desse novo filme. Mas eu tinha os bonequinhos do “Guerra nas Estrelas”, tinha essa curiosidade pelo universo. É de fato uma responsabilidade bem grande por sabermos que o pessoal é bem exigente com o resultado do trabalho.
Phillipe Maia: É uma herança, né. Que agora a gente tem pelo menos mais dois filmes para fazer. Mas eu acho que vai ter ainda mais material além disso.
Renan Freitas: Como a Adriana, na verdade eu não conhecia nem um terço do que conheço hoje. Antes de dublar o filme, antes do teste, eu não conhecia mesmo o universo. Assim que eu fui chamado para fazer o teste para o personagem eu pensei “meu Deus!”. Porque a gente dubla todo dia muita coisa. E tem aquele filme que a gente diz: “isso vai ficar marcado. Eu vou entrar nessa história também”. Quando eu fiz o teste eu já corri logo atrás de assistir aos filmes IV V e VI. E a gente fica muito feliz por que agora a gente está na História da saga, seguindo o que o Mário já fez lá atrás
A: Mark Hamill falou em 1983 que George Lucas já estava pensando em uma sequência para os filmes por volta dos anos 2010, com Luke passando o bastão para uma nova geração. E eu queria saber de você sobre como vai ser voltar a esse universo.
Mário Jorge: Ainda não sei se vou dublar. Eu acho que sim. Só a Disney sabe. Eu gostaria muito de dublar. É legal, você faz todo o início da saga, e depois faz o final lá na frente. Eu acho isso muito interessante. Tomara que seja eu (risos).
Phillipe: Eu acho que vai dar uma credibilidade, porque é a voz clássica, que todo mundo conheceu na primeira exibição, voltando agora. E o Mário tem quase a mesma idade que o Mark Hamill, é um pouco mais novo.
Mário: Eu estou até deixando a barba crescer (risos).
A: Tradicionalmente os fãs de franquias como Star Wars possuem uma certa rejeição à cópia dublada. Mas você sentem que isso hoje está mudando?
Adriana: Acho que sim, porque a exigência, não só pra esse tipo de produto, mas também para o qualquer produto que vá para o cinema, é infinitamente maior. E “Guerra nas Estrelas”, como tem essa exigência bem grande, a responsabilidade, não só nossa, mas também do diretor que escala até as pessoas para fazerem o teste, é bem grande. E a própria Disney tem uma exigência em relação a isso.
Mário: Você hoje entra no cinema, qualquer filme atualmente tem muito mais cópias dubladas. Outro dia eu estava vendo uma pessoa que eu não conheço, nunca vi, mas estava reclamando, em relação a um desses desenhos novos, dizendo: “ah a gente quer ver filme legendado e não tem mais condição porque não tem mais nenhuma sala de filme legendado”. Eu ia até dar a minha opinião mas pensei: “não conheço ele e ele não sabe quem eu sou, vou falar o que para ele?” (risos). É a opinião dele. Mas hoje tem muito mais filmes dublados do que legendados no cinema
Renan: Até mesmo a questão das cópias em 3D. Para quem não tem muito acesso ao inglês fica um pouco confuso você ler uma legenda em um filme 3D. E também acho que quem é muito fã, que é tão exigente também, fica um pouco mais relaxado vendo dublado primeiro, até porque todos vão assistir depois com a voz original.
Adriana: E uma coisa que eu acho muito legal é que às vezes mesmo as pessoas que não gostam do produto dublado, quando veem dublado se surpreendem com a qualidade. Falam: “nossa, ficou muito parecido com o original!”. Então acho que acaba quebrando essa coisa de “não quero ver dublado! Só o original!”.
Phillipe: E só complementando o que eles falaram, eu acho que essa discussão está quase se encerrando, porque a tecnologia hoje já permite que você tenha os dois áudios em quase todas as plataformas. Tirando o cinema, tem Netflix, e várias outras maneiras que se possa assistir, e você troca. Então eu acho até mais divertido. Já viu “O Despertar da Força” dez vezes, vê a décima primeira em português, para ficar diferente (risos). Ou inverte.
Mário: Eu acho que se vê muito mais Star Wars dublado do que legendado. E outras coisas que as pessoas têm que pensar é o seguinte: a gente quando dubla procura seguir mais ou menos a métrica do que foi falado lá. Na legenda isso é impossível. Você perde muita coisa, porque não tem como colocar em palavras escritas tudo aquilo que foi dito. Então limita-se, ou a pessoa não lê. A gente que lê muito rápido, até por causa do trabalho de dublagem, às vezes não consegue acompanhar. Com a dublagem não, ali você está ouvindo tudo.
Parabéns, Cesar Monteiro.
Valeu, Cadorno!