"Alice Através do Espelho" reflete mais do mesmo dos filmes de fantasia – Ambrosia

“Alice Através do Espelho” reflete mais do mesmo dos filmes de fantasia

Quando a Disney resolveu que faria novas adaptações de clássicos da literatura infantil, agora com atores e efeitos especiais de ponta no lugar de animações, há cerca de seis anos, talvez não fizesse ideia de que a ideia seria tão lucrativa para o estúdio. O filme que deu o pontapé inicial para esta iniciativa foi “Alice no País das Maravilhas”, a visão do consagrado cineasta Tim Burton para os personagens criados por Lewis Carroll, com Johnny Depp, seu parceiro de várias produções, vivendo mais um tipo exótico em sua carreira, o Chapeleiro Louco. O resultado foi o filme mais lucrativo da carreira de Burton, com mais de US$ 1 bilhão arrecadados mundialmente, embora não tenha sido considerado pela crítica um de seus melhores trabalhos.

A partir daí, a Disney fez novas produções que foram mais ou menos pelo mesmo estilo e também se tornaram bem sucedidas comercialmente, como “Malévola” (spin-off live action de “A Bela Adormecida”, lançado em 2014), além de versões quase literais de suas adaptações clássicas, como “Cinderella” (2015) e o recente “Mogli – O Menino Lobo” (2016).

Agora, a casa do Mickey Mouse lança a sequência do filme que começou toda essa nova onda: “Alice Através do Espelho” (“Alice Through The Looking Glass”, EUA/2016), que traz de volta todos os principais personagens da história anterior em uma continuação que tem o mérito de não ser tão inferior quanto o original. No entanto, não consegue ser marcante, tanto na parte artística quanto na técnica, ficando como mais um passatempo genérico e facilmente esquecível.

Ambientada três anos após a primeira história, a trama mostra Alice (Mia Wasikowska) como capitã de seu navio e realizando seu sonho de navegar pelos sete mares. Ao voltar a Londres, ela descobre que algumas coisas mudaram e outras não, a respeito de como a sociedade vê as mulheres, e que, para piorar, seus planos para o futuro podem não acontecer por causa de uma decisão tomada por sua mãe, Helen (Lindsay Duncan). Neste meio tempo, Alice acaba reencontrando Absolem, a lagarta azul (voz de Alan Rickman, um de seus últimos trabalhos antes de morrer no início 2016), transformado numa borboleta azul. Ele a leva até um espelho mágico, através do qual ela é capaz de retornar ao fantástico Mundo Subterrâneo.

Lá, ela reencontra os seus amigos Coelho Branco (Michael Sheen), o Gato Risonho (Stephen Fry), o dormidongo (Barbara Windsor), a Lebre de Março (Paul Whitehouse), os Tweedles (Matt Lucas) e o Chapeleiro Louco (Depp), que, infelizmente, não é o mesmo. Mirana (Anne Hathaway), a Rainha Branca, acredita que o problema tem a ver com a família do velho amigo e envia Alice para ir atrás do Tempo (Sacha Baron Cohen), dono da Cronosfera, um globo metálico que permitirá a Alice retornar ao passado para a sua missão. Enquanto isso, Iracebeth (Helena Bonham Carter), a Rainha Vermelha, aproveita a situação para roubar a Cronosfera para si, o que pode complicar ainda mais a vida de Alice.

Assim como no primeiro filme, o que salta aos olhos em “Através do Espelho” são os belíssimos figurinos, como o roupa inspirada na cultura chinesa que a protagonista usa, a direção de arte e o design de produção, especialmente na ideia de mostrar cenas do passado fazendo parte de um grande oceano temporal, ou o castelo onde Tempo mora, com engrenagens que montam um gigantesco relógio, monitorado por pequenos robôs que representam os segundos, que viram minutos quando se juntam, embora lembrem um pouco os Transformers.

Outro ponto positivo está no roteiro de Linda Woolverton, ao mostrar que mesmo as pessoas boas podem cometer erros, dando mais camadas para alguns personagens. No entanto, o texto não é totalmente satisfatório e possui buracos que comprometem a compreensão total da trama. Além disso, fica estranho ver que a protagonista, tão esperta e segura de si no início da história vai se comportando de forma cada vez mais ingênua à medida que os eventos vão acontecendo, em uma involução que não convence.

O diretor James Bobin, que substituiu Burton (creditado aqui apenas como produtor) também é um problema pois ele não consegue dar o clima de fantasia onírica que é necessária para que o espectador embarque na aventura, como foi na primeira parte. A maioria das sequências de ação não empolga, a não ser na parte final, e o humor só funciona em momentos isolados do filme. Chega a ser constrangedor como o cineasta não consegue fazer uma simples cena de tombo parecer convincente. Os efeitos especiais são apenas corretos e com uma qualidade esperada para esse tipo de produção, nada mais que isso.

Principal nome do elenco, Johnny Depp parece pouco empenhado em fazer algo mais marcante como o Chapeleiro Louco e nem mesmo a questão envolvendo seu passado o faz procurar diferenciar sua atuação em relação ao primeiro filme e chega a servir de “escada” para Mia Wasikowska, que se não tem uma grande performance como Alice, pelo menos usa seu (pouco) carisma para não decepcionar como protagonista.

Anne Hathaway tem um desempenho fraco como a Rainha Branca, o que é uma pena, pois vinha apresentando bons trabalhos nos últimos anos. O eterno Borat Sasha Baron Cohen faz o que pode, mesmo desconfortável em sua fantasia um pouco exagerada, mas também é pouco marcante. O principal destaque vai mesmo para Helena Bonham Carter, que alterna bem o drama e a comédia de sua Rainha Vermelha e tem momentos de vilania realmente deliciosos.“Alice Através do Espelho” pode agradar aos fãs do primeiro filme que não forem muito exigentes. Embora não chegue a desperdiçar o tempo do público, também não o satisfaz completamente, ficando no meio termo. Nem mesmo o 3-D é indispensável e pode ser visto em cinemas convencionais sem maiores diferenças. Mas deve fazer a alegria da Disney, que deve certamente fazer mais releituras dos clássicos da infância nos próximos anos. Afinal, esse ainda é um investimento bastante seguro para o estúdio, que mesmo com tropeços aqui e ali, ainda é um dos melhores para trabalhar com a fantasia no cinema. Mesmo quando faz apenas o suficiente para garantir o sucesso de bilheteria, como deve acontecer com este filme aqui.

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Filme: Alice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass)
Direção: James Bobin
Elenco: Johnny Depp, Mia Wasikowska, Helena Bonham Carter
Gênero: Fantasia
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Disney/Buena Vista
Duração: 1h 50 min

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