Várias apostas são feitas em volta da existência de Cherry – Inocência Perdida. A primeira consistiu na correria para adquirir os direitos do livro de Nico Walker. Antes dele ser lançado. Depois foi cair nas mãos dos irmãos Anthony e Joe Russo, que depois de ganharem muito dinheiro fazendo os últimos Vingadores, queriam um projeto menor, até para a indústria enxergá-los para além dos efeitos especiais dos arrasa-quarteirões da Marvel. E por fim, do canal de streaming da Apple, o Apple TV+, que vem investindo no seu conteúdo (o mais fraco das majors) e apostando em possibilidades de prestígio em premiações.
Muitas apostas. Poucos resultados. O talentoso Tom Holland é Cherry que, após um descompasso amoroso, se refugia se alistando para o exército americano. Ele volta dos horrores da guerra do Iraque totalmente traumatizado e acaba se viciando em opióides, levando consigo sua esposa (Ciara Bravo).
Dividido em capítulos e com uso de voz over, vamos acompanhando toda a trajetória do protagonista e as consequências desse plot. Há um explícito desespero dos diretores em tornar a trama mais estilosa que necessariamente estilística.
Cada capítulo da história traz uma estética que não necessariamente conversa entre si. E talvez isso fique ainda mais evidente pela superficialidade do roteiro, que narra os acontecimentos com todos os clichês do tema (trauma de guerra, ressocialização), o que só encorpa um filme cansativo de mais de duas horas. Confesso que dá para entender o ímpeto digamos artístico dos diretores. Queriam criar para além do ditames da Marvel. Mas isso acabou virando mais um exercício de auto afirmação, e menos um filme capaz de nos fazer importar com aquele personagem que poderia ser tão humanamente errático.
Mesmo com Holland entregando seu trabalho com dignidade, ele teve pouco material dramático para que a história tivesse alguma densidade.
Puxa, eu até gostei desse, amigo. Mas compreendo seu ponto de vista.