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Burocrático, “Noite das Bruxas” não tem constrangimento em tornar Poirot super-herói

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“Noite das Bruxas” é adaptação de uma das obras mais icônicas de Agatha Christie, formando uma trilogia com “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Morte no Nilo”, todos com direção e produção-executiva de Kenneth Branagh, que também encarna o protagonista, o detetive Hercule Poirot tenta desvendar um misterioso assassinato que acontece durante uma festa de Halloween. Embora o filme tenha ganhado um título diferente da matriz literária no original (que se chama “Hallowe’en Party”, enquanto a adaptação vem com o nome “A Haunting in Venice”), em português foi mantida tradução que o romance ganhou aqui.

Ali estão todos os maneirismos utilizados nos longas anteriores, a edição espetaculosa, a direção de arte impecável, mas ostensivamente explorada, mas nesse aqui de forma mais burocrática. A trama gira em torno, obviamente, do famigerado “quem matou?” onde até as sombras da casa amaldiçoada onde ocorreu o crime que desencadeou toda a investigação e os incidentes misteriosos são suspeitas.

O roteiro de Michael Green (que também assinou os predecessores, além “Logan” e “Blade Runner 2049”) não tem o menor constrangimento em transformar Hercule Poirot em um detetive super heroico, mais ou menos como o Sherlock Holmes de Guy Ritchie, estrelado por Robert Downey Jr.. A solução do caso se dá de uma forma épica e com uma agilidade impressionante. Mas antes de tudo, Poirot precisa lidar com um obstáculo que é seu próprio ceticismo. Aposentado e relutante, ele se vê participando de uma sessão espírita no decadente palácio assombrado, cenário da maior parte da trama, que o imerge um mundo sinistro de sombras e segredos até solucionar esse mistério. 

É válido observar que Branagh e Green tentaram fazer algo diferenciado em relação a outro filme do gênero que se tornou referência recentemente que “Entre Facas e Segredos”. Entretanto não abriu mão de um elenco estelar que inclui nomes como Tina Fey, Kelly Reilly, Jamie Dornan, Michelle Yeoh, Jude Hill, Camille Cottin e Dylan Corbett Bader. A personagem de Tina Fey (sem traços de comicidade), a escritora Ariadne Oliver, funciona como um alter ego da própria Agatha Christie. Poirot continua sendo encarnado com a pompa que Brannagh é tão caro (precisamos lembrar que o teatro é sua grande referência), e mesmo caricatural em alguns momentos, com aquele sotaque francês que soa como deboche, funciona dentro do que se propõe.

A fotografia de Haris Zambarloukos – que colabora com Branagh desde “Operação Sombra: Jack Ryan” (2014), incluindo Cinderela, o oscarizado Belfast e os outros dois do Christieverso – é fundamental para a composição do clima de mistério da trama. O tom mais sombrio exigido pelo mote é realçado de forma envolvente, e conta com o auxílio da certeira trilha sonora da islandesa Hildur Guðnadóttir, vencedora do Oscar por “Coringa” e que mais uma vez imprime sua marca.

“Noite das Bruxas” pode não ser o filme de mistério e investigação mais arrojado já feito, ou mesmo dos últimos anos. Segue a mesma retidão protocolar de seus antecessores, mas também conserva o requinte na produção, e, mesmo sem grandes surpresas para quem já é tarimbado em tramas do gênero, consegue manter a atenção do espectador com sua agilidade e uma duração até relativamente curta (1h43). É bastante provável que Kenneth Branagh ainda retorne adaptando “Cai o Pano”, o último livro que coloca um fim na história de Poirot. Quem sabe há espaço para uma ousadia maior na realização, que permita fechar a saga com chave de ouro?

Noite das Bruxas

Noite das Bruxas
6 10 0 1
Nota: 6/10 Bom
Nota: 6/10 Bom
6/10
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