Quando se fala em cinema polonês os primeiros nomes que nos vêm à cabeça invariavelmente são Andrzej Wajda – cuja última obra é “Doce Perfume”, de 2009 – e Krzysztof Kieślowski, falecido em 1996. Ultimamente o cinema do país do leste europeu não vem sendo tão festejado como o da sua vizinha Romênia, por exemplo. Porém, chega ao circuito um filme que honra com glória a tradição de produções contundentes do país, e é justamente esse filme que irá representar a Polônia na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Trata-se de “Ida” (Idem, Polônia/2013), que conta a história da personagem título (vivida pela estreante Agata Trzebuchowska), uma noviça criada em um convento, que às vésperas de jurar seus votos recebe a inesperada visita de sua tia Wanda (Agata Kulezca), sua única parente viva. Através dela, Ida descobre sua origem e parte em busca de desvendar toda a história sobre o destino de seus pais em seu contato praticamente inédito com o mundo exterior. A trajetória de busca serve como um expurgo para ambas. Para Wanda, juíza bem sucedida, mas infeliz, é um exorcismo do passado. Já para Ida é um processo de autoconhecimento que pode até mesmo colocar em cheque sua escolha religiosa.
A jornada de Ida se passa na Polônia dos anos 60, e para criar ainda mais imersão na época, o diretor Pawel Pawlikowski (de Estranha Obsessão e Meu Amor de Verão) realizou o filme em preto e branco e, além disso, adotou o formato de tela 4:3 (tela quadrada), ao contrário do formato widescreen, visto que a maioria dos filmes da época eram exibidos dessa forma. Também merece atenção o acertadíssimo trabalho de edição, que completa a tríade de excelência do filme formada também pela direção de arte e pela fotografia. Com esses alicerces, Pawlikowski (que também assina o roteiro junto com Rebecca Lenkiewicz) nos deslumbra com enquadramentos primorosos, planos artisticamente audaciosos, muitos deles sem fala ou trilha. As paisagens do país surgem magnas no cinza deprimente do céu e o fosco das construções.
“Ida” é, por assim dizer, um filme que pode realmente ganhar a alcunha de “filme de arte”, uma vez que seu desiderato artístico expressivo se sobrepõe a qualquer outro propósito. Se o filme será agraciado com o Oscar, só saberemos em 22 de fevereiro, mas isso pouco importa, o que vale é que temos em cartaz uma produção digna da tradição de um cinema europeu que muitos afirmam não existir mais. Pawlikowski vem para quebrar essa afirmação, fazendo um eficiente exercício cinematográfico, e o maior beneficiado é o espectador.