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“Goosebumps: Monstros e Arrepios” não funciona nem como terror nem como comédia

The foursome are surrounded by Ghouls

Entre os anos de 1992 e 1997, foi publicada a série de livros de terror “Goosebumps”, que fez um grande sucesso entre os adolescentes de todo o mundo. Composta por 62 volumes, a franquia vendeu mais de 400 milhões de exemplares no planeta e fez o nome de seu autor, R. L. Stine ficar conhecido entre os admiradores do gênero, chegando a gerar até uma série de TV, que durou três anos (de 1995 a 1998), e chegou a ser exibida no Brasil, pela TV Globo e pelo extinto canal a cabo Fox Kids.

Agora, as obras de Stine chegam aos cinemas, aproveitando o bom momento das adaptações de livros que atraem os jovens para telona. É uma pena, no entanto, que “Goosebumps: Monstros e Arrepios” (“Goosebumps”, 2015), apesar de partir de uma ideia interessante, não consiga causar nenhum impacto e se torne, no fim das contas, nada mais do que um passatempo inofensivo, que não assusta nem criança de colo, e falha como aventura cômica, embora seja muito bem produzida, especialmente nos efeitos especiais.

A trama é centrada no adolescente Zach Cooper (Dylan Minnette), que se muda de Nova York para a pequena cidade de Madison com a mãe, Gale (Amy Ryan), após a morte do pai. Embora não goste da mudança, o rapaz acaba se acostumando com a ideia após fazer amizade com o tímido e desastrado Champ (Ryan Lee) e se encantar pela bela Hannah (Odeya Rush), que mora na casa ao lado.  Mas o que Zach não contava é que o pai de Hannah é, na verdade, R.L. Stine (Jack Black), o autor da série de livros “Goosebumps”, que não gosta nem um pouco da relação entre a filha e o novo vizinho.

Ao tentar encontrar os motivos para que Stine não seja nada sociável, Zach descobre que o escritor guarda um estranho e perigoso segredo: as criaturas que ficaram famosas por suas histórias são reais, e são mantidas trancadas em seus manuscritos para que não causem estragos. Um acidente acaba libertando as criações de Stine e elas não estão nada contentes. Assim, Zach, Hannah, Champ e Stine se unem para impedir que os diversos seres, incluindo Slappy o boneco (que também é dublado por Jack Black, e se torna o líder do bando), o Lobisomem, o Abominável Homem das Neves de Passadena e até mesmo anões de jardim destruam Madison e vão fazer de tudo para que eles voltem aos livros onde eles pertencem de onde nunca deveriam ter saído.

Embora tenha um argumento interessante, “Goosebumps: Monstros e Arrepios” nunca chega a empolgar porque, embora conte com criaturas incríveis, inspiradas na imaginação fértil de Stine, elas nunca parecem realmente ameaçadoras. Não há, em quase nenhum momento, uma sensação de perigo real para que o público se preocupe com os personagens. Tudo é mostrado de forma leve e de baixo impacto, perfeito para aqueles que não desejam correr riscos. É claro que a proposta aqui não é fazer um filme realmente obscuro, ainda mais por causa da matéria prima que inspirou a produção. Mas um pouco de ousadia não faria mal para dar um pouco mais de tensão à trama, escrita por Darren Lemke, a partir da história de Scott Alexander e Larry Karaszewski (os mesmos de “Ed Wood” e “O Povo Contra Larry Flynt”). Assim, a história fica como se fosse uma mistura de “Jumanji” com “Os Caça-Fantasmas”, mas sem a mesma criatividade destes filmes.

O diretor Ron Letterman, que já tinha trabalhado com Jack Black em “O Espanta Tubarões” e “As Viagens de Gulliver”, mostra segurança para utilizar os efeitos especiais. Mas peca em tornar tudo uma grande correria, sem obter um suspense convincente e necessário para dar mais empolgação, como fez, por exemplo, Joe Dante em “Gremlins” ou “Grito de Horror”, e recorre a truques manjados e vistos em outros filmes. Um exemplo disso está numa cena onde o Stine fica preso num portão entreaberto enquanto uma das criaturas vai em sua direção. Antes mesmo da sequência terminar, o espectador mais atento já sabe o que vai acontecer, sem maiores surpresas.

No elenco, Jack Black realiza um bom trabalho ao viver o escritor neurótico e recluso, embora seja um pouco prejudicado pelo roteiro, que não lhe dá boas oportunidades de fazer um bom humor, como em atuações anteriores. No entanto, tem alguns momentos interessantes, como a piada envolvendo “O Iluminado”, de Stephen King, mostrado como seu desafeto. O jovem Dylan Minnette ainda está um pouco “verde” para ser o protagonista e exagera nas caras e bocas, assim como Ryan Lee, que chega a ser irritante como Champ, criado para ser o mais cômico dos personagens, mas que em algumas cenas é só um garoto muito chato. Odeya Rush mostra até uma certa química com Minnette, mas fica limitada com seu papel de mocinha. Já Amy Ryan pouco tem a fazer como a mãe de Zach.

“Goosebumps: Monstros e Arrepios” é indicado para crianças bem pequenas, que nunca viram um filme de terror de verdade, e serve como uma introdução ao gênero para elas. Também deve agradar aos que são bastante impressionáveis e precisam se sentir seguros mesmo na escuridão de uma sala de cinema. É uma pena, no entanto, que falte criatividade para tornar a obra mais memorável, que entra no patamar das produções esquecíveis assim que ela acaba. Pode ser que nas prováveis continuações (há um gancho para isso) isso melhore, já que a nova série tem potencial. Mas para isso, precisa melhorar a parte humorística e trabalhar de forma mais convincente os elementos fantásticos, sem apelar para os clichês. Resta saber se seus realizadores estarão dispostos a isso no futuro.

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