J.R. assistiu Batman e se sente um pouco mais… Estranho!

Nosso querido colega Lam já falou um pouco sobre Batman: O Cavaleiro das Trevas. Agora chegou minha vez, e estou aqui para fazer uma resenha com o mínimo de Spoilers possíveis, mas eles existirão, especialmente por causa de uma imagem lá embaixo, portanto, estando avisados, comecemos.
Ontem, após eu sair do cinema com a namorada, eu ficava perguntando para ela o que que esta havia achado do filme e ela só disse que “superou as expectativas” dela. Não que o filme fosse ruim, mas é que ela, não sendo uma nerd como este que vos diz, prefere outros gêneros de filme. E esta frase dela me disse muito. O filme realmente fica além da expectativa de um espectador leigo, mas e quanto aqueles que se preocupam com a semelhança deste com os quadrinhos e o respeito ao material original?

J.R. assistiu Batman e se sente um pouco mais... Estranho! – Ambrosia

Talvez eu deva começar por Heath Ledger e seu Coringa. Não porque ele é o mais importante do filme, mas porque o que vemos na tela é a verdadeira criação de um psicopata. Criação não, pois nunca temos a já famosa cena do como ele ficou assim. Ele simplesmente É, e isso basta porque você não quer ver uma versão em que ele foi o cara que matou os pais de Bruce Wayne ou que Batman jogou ele em um poço de produtos químicos.
O Coringa é o fruto de uma sociedade paranóica, psicótica, com medo de que a cada instante diferente algum bandido, terrorista ou louco venha e mude seu dia a dia, sua rotina. Aproveitando-se deste medo, o Coringa insufla-se e se torna um mal necessário para os bandidos para lutar contra aquele que estava tornando a rotina dos bandidos um inferno: o Batman.
No baralho, o Coringa é o famoso pau para toda obra. No filme, vemos que ele é muito mais que isso. Sua loucura, sua psicose são armas para criar um inferno na Terra. Se ele, em algum momento se uniu aos chefões da Máfia da cidade, foi meramente para que ele não tivesse que lutar contra duas facções que o esmagariam facilmente. Estando ele próximo de um dos lados, fica mais fácil de agir contra o verdadeiro inimigo, ou melhor, contra a humanidade.
Heath Ledger criou, ao meu ver, um Coringa que mistura as melhores(piores?) qualidades do Coringa retratado em Asilo Arkham e Piada Mortal. Ele desdenha a vida humana e prega que no final das contas, para um ser humano ficar louco, basta um leve empurrãozinho. Ele vê isso no Batman e em todas as suas vítimas. Ele tenta mostrar que todos somos loucos. Ele é o Gato de Alice no País das Maravilhas, dizendo para a humanidade que somos todos loucos, senão não estaríamos ali.
Durante o filme, vemos que as operações do Coringa, quase erráticas, levam suas vítimas ao limite e ele adora isso. O trio formado por Harvey Dent, Batman e Jim Gordon é seu principal alvo, sendo que todos de alguma forma sofrem pelos atos do Coringa. Quem sofre mais é Harvey Dent, o cavaleiro branco de Gotham, aquele que seria a esperança de todos no combate ao crime e que após ter seu rosto deformado, vê sua vida de cabeça para baixo, vindo a se tornar o Duas-Caras, um homem viciado no acaso, que tem em uma moeda a sorte e o azar de suas vítimas, da mesma forma que ele teve ao sofrer o acidente que o deixou deformado.
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Falando um pouco de Harvey Dent, Aaron Eckhart o interpreta com soberania. Mesmo todos querendo falar que o Coringa rouba todas as cenas em que aparece, Eckhart se mostra uma força do bem enquanto age como promotor de justiça, incriminando os mafiosos e lutando contra o Coringa. Mas, após se tornar o Duas-Caras, vemos que sua psicose focada na dualidade e no acaso o tornam um homem que vive baseado estritamente na realidade que a Cara ou Coroa o disser. Mesmo assim, ele ainda tem o discernimento de propor os lances de moeda e desviar esta lei levemente quando lhe bem entende.
Do lado dos mocinhos, vemos que a realidade do primeiro filme não mudou muito. Ainda existem policiais corruptos, como Harvey Dent repetidamente demonstra a Gordon, mas mesmo assim, Gordon tenta de todas as formas mudar a cidade e os policiais, tentando fazer uma limpeza dentro da polícia enquanto caça os mafiosos e bandidos. Gordon (Gary Oldman) com certeza é muito diferente daqueles que estão agindo sob seu comando. Ele é um idealista, da mesma forma que Dent e Batman, só que ele, dos três, é o mais propenso a sofrer as conseqüências de seus atos, afinal, ele não tem uma máscara e nem a força política para o proteger. Oldman com certeza foi uma das melhores adições a franquia e com ele com certeza poderemos ver um Comissário Gordon do jeito que este sempre foi nos quadrinhos e não aquela aberração dos primeiros filmes.
Batman/Bruce Wayne (Christian Bale) é com certeza um dos que mais sofrem neste filme. A ele, a todo momento, é imposta uma escolha moral, buscando uma nova ética em seus atos a fim de tentar combater uma força anárquica como o Coringa e ao mesmo tempo tentando agir como o Cavaleiro Negro da polícia, fazendo coisas que a burocracia ou até mesmo a moral, proibiriam. Sua fé em Harvey Dent é a fé que ele tem que um dia ele não precisará mais ser este louco vestido de morcego, mas uma pessoa normal com uma vida normal.
Quando Dent sofre o acidente, não deixa de ser culpa de Batman e ele sofre com isso também, porque sabe que, no final das contas, ele sempre será aquele defensor da cidade, mesmo sabendo que a cidade nem sempre olhará para ele com bons olhos, o que lembra um pouco sua situação em Cavaleiro das Trevas. Afinal de contas, uma hora a cidade inteira começará a se perguntar até quando precisaremos do Batman.

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Os homens que cuidam dos interesses de Wayne começam a se perguntar a mesma coisa neste filme. Lucius Fox (Morgan Freeman) é agora diretor da Wayne Enterprises. A todo momento em que ele aparecia na tela, era algo primoroso de se ver. Freeman traz anos de experiência cinematográfica e todas suas falas saem com uma perfeição adorável. Ele é para Batman o que “Q” é para James Bond, mas com muito mais poderes e responsabilidades, coisas que ele presa tanto quanto a amizade que tem com Bruce Wayne. Da mesma forma, Alfred (Michael Caine) é o termômetro da vida de Bruce Wayne e, de todas as formas, serve como consciência dele. Sem Alfred não existiria Batman e ambos sabem disso.
Passando levemente para o lado técnico do filme, novamente Chistopher Nolan acertou a mão tanto na direção quanto no roteiro. Tanto no elenco quanto na passada do filme. A cinematografia Wally Pfister pode não ser primorosa e até mesmo sem graça em alguns momentos, usando uma paleta de cores que não me agrada totalmente, mas ele sabe usar os ângulos de câmera muito bem, e isto já basta por enquanto, mas quem sabe, no próximo filme, uma troca de cinematógrafo para dar um novo ar a franquia.
Da mesma forma, a edição de Lee Smith não foi lá essas coisas. Poder ser porque cortes tiveram de ser feitos para o filme ter menos tempo de duração, mas me ocorreu em diversos momentos que a ação simplesmente saia correndo e já estávamos em outro lugar. Um corte de cenas melhor faria muito bem ao filme, mas, novamente, não me desagradou por completo.
Nolan tem mania de trabalhar com as mesmas pessoas desde “Amnésia”, só que, querendo ou não, certos filmes ficam bons com certos profissionais, enquanto que se, mudando o gênero, aqueles profissionais se tornam levemente errados. Não que fique ruim, mas poderia ficar melhor.
Terminando, muita gente diz que este filme foi a melhor adaptação dos quadrinhos para o cinema. Eu diria que foi o melhor filme baseado em personagens dos quadrinhos. Não porque Heath Ledger fez um Coringa e morreu ou porque a adaptação foi fiel. Não, a principal razão deste filme ser muito bom é uma só: “Nunca antes, em um filme baseado em quadrinhos, tivemos um trabalho tão bem feito em se tratando de roteiro, direção e atuação, em que mesmo havendo as devidas falhas técnicas, pudemos perceber que o filme é bom por causa do todo e não por causa desse ou daquele ator.”
Heath Ledger será lembrado como aquele que idealizou o, até então, mais perfeito Coringa da história, o qual deve ser seguido a risca por qualquer outro ator que venha interpretar o papel. Da mesma forma, Aaron Eckahart criou o verdadeiro Harvey Dent, um homem fiel a lei que se vê, após diversos fatos, vivendo totalmente baseado em uma paranóia da dualidade e do acaso das nossas vidas.
Talvez este seja o verdadeiro mérito deste filme, o de ser um filme de super-heróis, com muita ação, mas que no final das contas, faz cada um de nós se olhar no espelho e pensar realmente se somos sãos, ou se ainda não fomos empurrados até nosso limite.
J.R. Dib

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Comentários 7
  1. Para essa resenha sensacional, faço como o Coringa de Heath Ledger quando o Gordon de Gary Oldman vira Comissário.
    Bato palmas.

  2. Bela resenha.O longa é um primor , está sendo comparado à clássicos antigos ,tais como:o silencio dos inocentes,laranja mecanica,psicose, o poderoso chefão, e por aí vai….Nolam deu um toque de inteligencia e sensibilidade às adaptações de HQ com este roteiro genial escrito à quatro mãos com o seu irmão.Ledger revolucionou o vilão “joker”,não o fez fanfarrão, nem “tia velha”como os anteriores, mas, fez um coringa da modernidade,produto de uma sociedade adoecida e individualista.A interdependencia do Batmam e do coringa nos reporta às teorias do Dr Freud.Nolan e Ledger foram fundo na psiqué humana.

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