“Lightyear” é o primeiro filme da Pixar em mais de dois anos a estrear no cinema. Depois de “Dois Irmãos”, a pandemia jogou todos os lançamentos do estúdio para o streaming da Disney, o Disney+. E a volta aos cinemas se dá com o spin-off de Toy Story protagonizado não pelo boneco Buzz Lightyear, que tinha a voz de Tim Allen no original (e Guilherme Briggs na versão brasileira), mas o herói que inspirou o brinquedo.
Enquanto passava anos em um planeta inóspito tentando voltar para casa, o patrulheiro espacial Buzz Lightyear (voz de Chris Evans na versão original e Marcos Mion na dublagem brasileira) encontra um exército de robôs implacáveis comandados por Zurg que estão tentando roubar sua fonte de combustível.
Uma característica que chama atenção em “Lightyear” é a simplicidade. Em tempos de multiversos, tramas rocambolescas, grandiosas e buscando o título de maior épico da nossa era, o longa da Pixar bebe na sessão da tarde escapista, como nos anos 80 e 90. Bem adequado, uma vez que esse é o filme que o menino Andy assistiu e o fez virar fã do personagem.
E se difere também de algumas das produções do estúdio que enveredam por uma vertente mais ambiciosa e cerebral, como “Divertida Mente” e “Soul”. Até mesmo sua matriz “Toy Story” em seus quatro episódios abordava questões existenciais em meio à temática lúdica. Nesse spin-off o desiderato é a diversão pura, o que alguns podem avaliar como um momento pouco inventivo da Pixar.
O diretor Angus McLane soube trabalhar o clima de aventura do patrulheiro espacial buscando inspiração nas séries de TV, quadrinhos e matinês ao longo da história do cinema. Desde Flash Gordon e Buck Rogers, passando por Rocketeer e até alguns filmes B. O roteiro escrito por Jason Headley, desenvolvido a partir do argumento de McLane e Matthew Aldrich, aparentemente simples, aborda conceitos que podem oferecer alguma dificuldade de compreensão para crianças menores. Essa contradição na proposta narrativa é o calcanhar de Aquiles da produção.
O CGI se mantém como um dos pontos altos da animação. O casamento do cartunesco e o realista funciona perfeitamente, uma marca registrada do estúdio, com um trabalho de renderização sempre impecável. Mas até por conta da temática espacial, o trabalho pode ter sido um pouco mais facilitado, com naves e personagens usando capacete, o que são texturas bem menos bem menos complicadas do que em “Red: Crescer é uma Fera”, por exemplo.
Os coadjuvantes carismáticos, outro cartão de visitas da Pixar, dão estofo à aventura de Buzz, muitas vezes roubando a cena do protagonista. A tripulação improvável, que inclui um gato robô computador de bordo, serve de contraponto à obstinação do personagem, bem diferente da caricatura da versão brinquedo.
A dublagem de Marcos Mion que levantou preocupação nos fãs da Pixar mais exigentes, surpreendentemente passa no teste. Muita gente apostou que ele teria o desempenho do seu antecessor nas tardes de sábado na Globo. O detalhe é que, ao contrário de Luciano Huck (que ficou marcado no mau sentido em “Enrolados”), Mion é ator. A dublagem é adequada e funcional, mas desagradou fãs do filme original, que queriam Guilherme Briggs de volta. Ocorre que no original quem faz a voz é Chris Evans e não Tim Allen, justamente porque esse é o herói que inspirou o boneco, e não o brinquedo, o que justificaria a escalação de Allen e Briggs.
Por fim, “Lightyear” é mais um acerto da Pixar embora não seja o mais brilhante dos filmes do estúdio. É uma ideia inusitada de se realizar o “filme de origem” do personagem, quando achávamos que viria um spin-off com Woody. Enquanto não anunciam um “Toy Story 5”, essa foi uma forma eficiente de manter a franquia viva (atenção aos easter-eggs) e se a bilheteria for favorável, uma continuação certamente estará a caminho. Caso isso não aconteça, uma série no Disney+ é uma opção automática.
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