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Crítica: "Godzilla" decepciona com filme indigno para o Rei dos Monstros

Atenção: o texto abaixo contém alguns spoilers!!!
Quando surgiram na imprensa as primeiras notícias de que seria produzida uma nova versão americana de “Godzilla”, houve quem temesse mais um filme fraco, como aquele lançado em 1998 por Rolland Emmerich (que vinha do sucesso mundial de “Independence Day”), em que quase nada se salvava: roteiro ruim, direção fraca, efeitos especiais abaixo da média e um elenco em que apenas Jean Reno se destacava. Mas após as primeiras imagens divulgadas, a expectativa foi ficando mais positiva e, quando saíram os trailers, a empolgação foi ainda maior. Por isso, é realmente uma pena escrever que a versão 2014 de “Godzilla” se revela uma das maiores decepções do ano.
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A trama, escrita por Max Borenstein, começa mostrando as tentativas das autoridades para conter estranhas criaturas na década de 1950 que surgem no continente asiático, num projeto aparentemente secreto. Logo em seguida, a história pula para 1999, onde uma equipe liderada pelo Dr. Ichiro Serizawa (Ken Watanabe) e Vivienne Graham (Sally Hawkins) descobre uma anomalia nas Filipinas, que pode estar ligada aos acontecimentos do passado. O filme, então, vai ao Japão, onde vive o engenheiro Joe Brody (Bryan Cranston), sua esposa Sandra (Juliette Binoche) e o filho Ford (CJ Adams). O casal trabalha numa usina nuclear, que sofre um terrível e inesperado terremoto, causando um grave acidente atômico, que marca a vida da família para sempre. Quinze anos depois, Ford (agora interpretado por Aaron Taylor-Johnson) trabalha como um tenente do Exército especialista em desarmar bombas, está casado com Elle (Elizabeth Olsen), e os dois têm um menino, Sam (Carson Bolde).
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Tudo ia bem, até o dia em que Ford é chamado para ver o pai, que ainda está no Japão, e desconfia que a tragédia que aconteceu foi por causa de algo não totalmente explicado. Os dois descobrem, para a sua surpresa, que um ser gigante está dentro de um casulo, absorvendo energia radioativa (o que causa fenômenos como terremotos e tsunamis) e sendo monitorado pelos militares por anos. Para piorar, a criatura está prestes a sair e causar um rastro de destruição por onde quer que passe para encontrar outra criatura, que está nos Estados Unidos. Enquanto tenta voltar para casa, Ford acaba se envolve com as operações comandadas pelo Almirante William Stenz (David Strathairn), que também contam com o auxílio de Serizawa e sua equipe, para acabar com os monstros. Mas ninguém contava era com o surgimento de um outro monstro, ainda mais poderoso, que pode bater de frente com essa ameaça: Godzilla.
O filme foi feito para comemorar os 60 anos do primeiro filme da série, realizado no Japão. Mas parece que esqueceram de avisar quem era o convidado de honra desta festa, pois perde-se muito tempo com um falatório interminável, para tornar a história mais “cientificamente plausível” para o público leigo, em detrimento da ação. O roteiro também erra ao esboçar um conflito entre Joe e Ford sobre questões entre pai e filho – o que é rapidamente resolvido. Além disso, a trama perde pouco tempo com os personagens mais interessantes – no caso, os de Bryan Cranston e Juliette Binoche (que faz apenas uma ponta) -, e prefere evidenciar outros menos carismáticos, como Ford e Elle. Para piorar, há poucos momentos de Godzilla em cena – que parece mais perdido do que cego em tiroteio, e não o dono do pedaço.
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A direção de Gareth Edwards (que chamou a atenção com seu filme “Monstros”, de 2010) comete diversos equívocos, como preferir mostrar a luta de Godzilla contra as outras criaturas sempre no escuro, como se quisesse esconder as falhas na sua confecção, não deixando os confrontos realmente claros para o espectador. Além disso, não faz sentido quando Edwards exibe apenas relances dos combates, especialmente quando Godzilla aparece pela primeira vez, e dá o seu famoso rugido – que ganhou uma repaginada que o deixou mais potente, assim como seu visual (mais imponente do que na versão de Emmerich). Quando parece que as coisas vão ficar empolgantes com as brigas, o diretor prefere se voltar para uma outra situação, deixando o público com um gosto de “quero mais”, que nunca é satisfeito. O que também impressiona, negativamente, é a falta de ritmo que o cineasta emprega na produção, deixando alguns momentos monótonos e sem nenhuma tensão ou suspense, apesar de impressionar com a grandiloquência da destruição causada pelas criaturas. Edwards nem perde a oportunidade de mostrar uma sequência clichê em filmes de catástrofe: a de um cachorro que foge de uma onda gigante e, aparentemente, escapa milagrosamente (o filme não deixa isso claro, mas o diretor não seria tão radical assim, mostrando o animal morto no fim da cena).
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O elenco do filme chama a atenção por ser composto por atores que são conhecidos por seus bons trabalhos no passado. Pena que a grande maioria deles tenha pouco por fazer. Bryan Cranston (que se consagrou como o Walter White da série de TV “Breaking Bad”) é o principal destaque, com sua composição que dá mais humanidade ao personagem Joe Brody. Pena que é rapidamente tirado da trama, deixando uma sensação de vazio no time dos “humanos”. Ken Watanabe até procura dar alguma dignidade ao Dr. Serizawa, mas é sabotado pelas situações pouco interessantes em que acaba envolvido. Aaron Taylor-Johnson – que conquistou a todos com os dois “Kick-Ass” e demonstrou maturidade ao viver John Lennon em “O Garoto de Liverpool” – não consegue deixar de ser superficial na sua atuação, a ponto de não nos interessarmos sobre o seu destino, assim como Elizabeth Olsen. Já Sally Hawkins e David Strathairn são, praticamente, figurantes de luxo, o que nos faz perguntar por que aceitaram fazer papéis que os tornaram quase irrelevantes.
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Apesar da boa trilha sonora de Alexandre Desplat e alguns bons momentos da fotografia de Seamus McGarvey – que dá um aspecto de filme japonês antigo (quando as imagens não estão escuras demais) -, o “Godzilla” 2014 ainda não é o filme americano que o “Rei dos Monstros” merecia. Em termos de diversão, prefira assistir “Círculo de Fogo”, onde Guillermo del Toro mostra muito mais conhecimento de causa dos “kaiju” e obtém resultados bem mais satisfatórios (inclusive no 3-D), já que, em “Godzilla”, a cópia ficou ainda mais obscura e com pouquíssima profundidade. Em suma, o filme é o primeiro blockbuster do ano a ser um completo e lamentável equívoco.

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Comentários 7
  1. Respeito sua opinião e concordo com alguns pontos referentes aos personagens humanos, mas tenho notado que os (poucos) que se decepcionaram com o filme foram exatamente aqueles que esperavam ver um novo Pacific Rim na tela.

  2. Ivonaldo,
    Eu acredito que um bom filme é aquele que possui os requisitos mínimos para contar bem a história que vai para a tela grande. A única comparação que fiz em relação aos dois filmes foi no quesito diversão, no qual CDF, na minha opinião, é superior a Godzilla. O filme também pecou em alguns aspectos, como montagem, fotografia, direção de atores, etc. Pode não parecer, mas isso também é importante numa produção como essa. Por isso, dei a minha nota e não me arrependo. Abcs.

  3. Cris,
    Quando fui assistir Godzilla, não esperava ver um novo Pacific Rim porque sabia que a proposta do filme era diferente. Esperava, pelo menos, que ele superasse o filme de Rolland Emmerich. Mas o roteiro cheio de clichês, uma montagem confusa e a fotografia muito escura foram as principais causas da minha decepção. Afinal, na maioria das cenas de lutas, quando você acha que algo incrível vai ocorrer, há um corte e você acaba perdendo o que aconteceu, causando uma grande frustração (pelo menos para mim). Por essas e outras, Godzilla se revelou desastroso para mim. Abcs.

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