“O Brutalista” é mais um oscarizável além de “Anora” que desconstrói o sonho americano com toda a sua promessa de prosperidade fácil. Fácil em sentido figurado, na verdade é a ideia de que basta uma dose de esforço e outra de ambição que você terá uma história vencedora para contar, servindo de exemplo para encorajar outros que venham no rastro, e orgulho para as gerações futuras. Não que a glória não vá se concretizar, frustrando o que foi prometido pela terra dos livres e casa dos bravos. Mas seus custos e chagas adquiridas ao longo da jornada sem dúvidas são as maiores recordações até o final da vida.
Na trama, em 1947, um arquiteto visionário húngaro, László Toth (Adrien Brody), junto com sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) foge da Europa, ainda sob os escombros da Segunda Guerra, para recomeçar a vida na América. Nessa jornada, testemunham o surgimento dos Estados Unidos modernos, eles se deparam com uma oportunidade que pode mudar suas vidas para sempre. ELa chega na forma do rico industrial Harrison Van Buren (Guy Pearce), que oferece a László a chance de projetar um grandioso monumento modernista que moldará a paisagem do país, agora lar do arquiteto. No entanto, o caminho para a realização desse sonhos é repleto de desafios e provações, tanto triunfos quanto tragédias ao longo de quase três décadas.

Com mais de três horas e meia de duração, incluindo um intervalo de 15 minutos cronometrados na tela (atenção que na foto há uma informação), o filme tem espaço de sobra para explorar essa trajetória de Laszlo. Podemos dizer que ele se estrutura exatamente como um autêntico Oscar bait. O diretor Brady Corbet não esconde suas influências dos clássicos épicos da era de ouro de Hollywood para estruturar a obra, desde a abertura, apresentando um Overture, passando pela já referida intermissão, e a escolha do formato VistaVision (assim como se usava o CinemaScope), para realçar a exploração das formas geométricas pela câmera.
Colbert, que também assina o roteiro junto com Mona Fastvold, não demonstra a menor pressa em desenvolver a história, costurando desde momentos sutis, como um encontro com uma prostituta, até acontecimentos marcantes, como uma festa na Itália com Harrison. Há quem tenha se queixado de uma certa lentidão narrativa, mas a trama segue o ritmo a que se propõe, e até de forma envolvente.

É inegável que o filme é amplamente sustentado pela atuação de Adrien Brody no papel principal. Com uma performance sólida, embora não revolucionária ou profundamente transformadora, sua interpretação se destaca, especialmente considerando a extensão do filme e o papel central de Thoth. Ele repete o minimalismo padecido visto em “O Pianista”, o que para alguns pode parecer repetição, porém é adequado e justifica as indicações que vem recebendo na temporada de premiações. Guy Pearce se refestela no banquete que lhe foi oferecido. Harrison com suas nuances oferece desafios seguidos ao intérprete que sem dúvidas sai da experiência gratificado. Já Erzsébet, que adentra na segunda parte, mostra-se a força motriz da trama e Felicity Jones não decepciona em nenhum momento diante de um texto robusto e minucioso.

“O Brutalista” perde um pouco de sua força no segundo ato. Não que seja ruim, Brody continua sustentando uma ótima atuação, embora um pouco eclipsado por Jones e Pearce, mas os acontecimentos começam a se sucedem um pouco rápido se compararmos à primeira parte, o que tira um pouco do impacto de alguns momentos. E quando chega o desfecho, ele simplesmente… acontece. O que é um tanto frustrante depois de um primeiro ato em que as peças do jogo são perfeitamente posicionadas no tabuleiro. Ainda assim, o saldo é positivo. Uma obra de refinamento incontestável e com um questionamento bastante oportuno nesses tempos em que imigrantes, que construíram o país, são oficialmente declarados como persona non grata. A Estátua da Liberdade (que foi instalada na Baía Superior de Nova York justamente para dar boas-vindas aos estrangeiros) enquadrada de forma tortuosa é explicativa por si só.
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