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"O Mistério do Relógio na Parede" não encanta tanto quanto poderia, mas agrada

Hollywood não parece ter se cansado em encontrar o novo “Harry Potter”. Afinal, a saga do jovem bruxo não perdeu força nem mesmo após o lançamento do último filme da série em 2011 (que foi retomada com o spin-off “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e suas vindouras sequências), mantendo o grande número de fãs de todas as idades pelo mundo afora. Logo, não é surpresa que novos projetos que adaptam livros com temáticas semelhantes, lançados antes ou depois das aventuras escritas por J.K. Rowling, surjam a cada ano buscando ter o mesmo sucesso que o aluno mais ilustre de Hogwarts teve no cinema.
O mais recente a tentar isso é O Mistério do Relógio na Parede” (“The House With a Clock in its Walls”, 2018), que conta com uma produção requintada e muitos dos elementos que certamente cairão na graça do público infantil e não deve aborrecer tanto os mais velhos. No entanto, o filme carece de uma magia mais genuína para fazer o espectador mergulhar com mais disposição no mundo fantástico que surge diante de seus olhos.
Ambientada na década de 1950, a trama é centrada no menino Lewis (Owen Vaccaro), que após perder os pais num acidente, acaba indo morar com o tio, Jonathan Barnavelt (Jack Black), que vive numa estranha casa onde há um constante e misterioso som de tique-taque de um relógio que está escondido em um dos seus muitos cômodos. O tio tem a companhia constante da Sra. Florence Zimmerman (Cate Blanchett), sua vizinha e amiga que vive às turras com ele.
Não demora muito para Lewis descobrir que tanto o seu tio quanto a Sra. Zimmerman são feiticeiros que investigam o porquê do tique-taque e o garoto descobre um novo mundo com a magia. Só que uma série de acontecimentos leva o trio a enfrentar as forças do mal, personificadas por Isaac Izard (Kyle MacLachlan), um poderoso bruxo que tem ligações com o passado de Jonathan. Caberá a Lewis, seu tio e sua vizinha impedirem que os planos do vilão deem certo e que o pior aconteça.
A primeira coisa que chama a atenção em “O Mistério do Relógio na Parede” não está em sua parte técnica (que será analisada nos próximos parágrafos). Mas, sim, no fato de que o filme foi dirigido por Eli Roth, cineasta que se tornou conhecido graças aos seus filmes de terror impactantes, como “Cabana do Terror”, “O Albergue” 1 e 2 e “Canibais”, além do péssimo suspense “Bata Antes de Entrar”, e não parecia ser o diretor indicado para conduzir uma fantasia infanto-juvenil. Porém, Roth (que faz uma ponta como o herói de uma série de TV que Lewis adora) está tentando se mostrar mais versátil e assumiu o comando de projetos com gêneros diferentes, como o remake de “Desejo de Matar”.
Assim como no thriller estrelado por Bruce Willis, Roth não consegue criar o clima necessário para encantar o público, fazê-lo embarcar no universo fantástico que pretende mostrar. Mesmo contando com uma impecável direção de arte e efeitos especiais que, na maioria das vezes funcionam (embora fiquem nítidas que algumas sequências foram mal executadas), o diretor faz apenas um trabalho correto, como se estivesse seguindo uma cartilha, sem nenhuma originalidade ou mesmo personalidade.
Nem nos momentos que deveriam ser mais impactantes (como as cenas em que os protagonistas enfrentam elementos possuídos por entidades maléficas) chegam a causar a sensação de perigo necessárias para fazer o espectador se empolgar com o que está diante de seus olhos. O que é uma pena, ainda mais que a produção vem da Amblin Entertainment, empresa que tem como um dos fundadores ninguém menos que Steven Spielberg.
Do jeito que ficou, o filme acabou com uma cara de um daqueles telefilmes que vemos aos montes na Sessão da Tarde, mas que conta com verdadeiros astros de Hollywood. Agrada, mas é facilmente esquecível.
O roteiro escrito por Eric Kripke (que, entre outras coisas, foi o criador e showrunner da longeva série “Supernatural”) adapta o primeiro livro de uma série escrita por John Bellairs já de olho em criar uma nova franquia. O problema é que o texto não se mostra muito diferente do que já foi visto nas versões de “Harry Potter” para o cinema, com situações e questionamentos muito semelhantes, como a já batida questão de haver um Escolhido para salvar uma comunidade ou o mundo, a inaptidão do protagonista em ser sociável com os colegas por ser “estranho” e até as motivações do vilão. Tudo isso já foi visto antes e melhor. Isso sem falar na insistência em repetir certas piadas um pouco pesadas para um filme infantil. Mas como as crianças parecem gostar deste tipo de humor, pode ser que elas gostem.
O que torna “O Mistério do Relógio na Parede” um passatempo meramente agradável é mesmo a dupla de protagonistas. Jack Black faz com que Jonathan Barnavelt nunca seja um personagem desinteressante, graças ao seu carisma e seu jeito bonachão que, mesmo sendo visto outras vezes, sempre funciona para torná-lo simpático. Cate Blanchett, embora nunca seja realmente exigida em seu papel, faz com que sua Sra. Zimmerman seja elegante, charmosa e até divertida na medida certa. O menino Owen Vaccaro rende bem nas cenas mais leves e não o suficiente nas dramáticas, mas não chega a comprometer totalmente.
Kyle MacLachlan faz um Voldemort genérico mas sem a força ou a presença de Ralph Fiennes, embora a maquiagem usada no ator esteja muito boa. Já Renée Elise Goldsberry, que interpreta Selena Izard, a esposa do vilão, não acha o tom certo para tornar a bruxa realmente intimidadora como o papel parecia exigir. Mas quem realmente está muito fraco é o garoto Sunny Suljic, que vive Tarby, com quem Lewis quer ter uma verdadeira amizade. Ele se limita a fazer cara de mal para parecer valentão, mas de uma maneira que nunca convence.
“O Mistério do Relógio na Parede” deve funcionar apenas para os admiradores do gênero que não fazem muitas exigências e não se incomodam e ver mais do mesmo. Deve fazer sucesso e pode realmente atender ao desejo de seus realizadores de criar mais uma franquia cinematográfica. Mas se isso acontecer, é bom que as possíveis continuações tenham um elemento melhor trabalhado para que elas possam render melhor: Magia, pura e simples magia.
Filme: O Mistério do Relógio na Parede (The House With a Clock in its Walls)
Direção: Eli Roth
Elenco: Jack Black, Cate Blanchett, Owen Vaccaro, Kyle MacLachlan
Gênero: Fantasia
País: EUA
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 46 min
Classificação: 10 anos

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