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"Projeto Flórida" comove ao mostrar o Lado B do sonho americano

Para muitas pessoas já se convencionou que os Estados Unidos são o verdadeiro paraíso na Terra. Tanto que o número dos que desejam abandonar sua terra natal (incluindo brasileiros) para viver na Terra da Liberdade tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. O que poucos sabem ou percebem é que os EUA têm os mesmos problemas de muitos países, como a pobreza, o desemprego, a criminalidade, entre outros, e que contrastam com as atrações que eles oferecem para atrair adultos e crianças que gastam seu dinheiro nos concorridos parques temáticos que oferecem um mundo de fantasia.
Pois é neste cenário contrastante que se passa “Projeto Flórida” (“The Florida Project”, 2017), filme dirigido por Sean Baker, que se tornou conhecido após realizar “Tangerine” usando apenas câmeras de smatphones e acabou chamando a atenção no Festival de Sundance de 2015, entre outras mostras (inclusive o Festival do Rio). À frente de uma produção bem maior, Baker se mostra um cineasta de mão cheia e consegue comover e emocionar na dose certa, com um excelente controle sobre seus atores, especialmente os infantis, além de usar de forma bastante criativa a sua cinematografia, tornando o filme um dos mais interessantes da recente safra.
A trama se passa durante o verão americano e acompanha a vida de Moonee (Brooklynn Kimberly Prince), uma menina de 6 anos que mora com a mãe, Halley (Bria Vinaite), num motel chamado Magic Castle que fica nas imediações da Disneyworld em Orlando, na Flórida. Esperta, geniosa e inconsequente, Mooney passa os dias brincando com seus amigos, especialmente com Scooty (Christopher Rivera), filho de Ashley (Mela Murder), melhor amiga da mãe, e Jancey (Valeria Cotto), recém-chegada de outro motel, o Future Land. Embora suas brincadeiras acabem causando algumas confusões, especialmente para Bobby (Willem Dafoe), o administrador do Magic Castle, Mooney faz o possível para curtir a sua infância, seja ao lado dos amigos, seja ao lado da mãe, que enfrenta problemas financeiros para pagar o aluguel e cuidar da filha.
O que mais impressiona em “Projeto Flórida” é a forma que Sean Baker usa para deixar o filme o mais natural possível, como se os atores não estivessem seguindo um script (que foi escrito pelo próprio diretor e Chris Bergoch) . Além disso, a fotografia evidencia a geografia do local, povoada por vários prédios e construções que vendem a falsa alegria e felicidade, em contraste com a situação precária que seus personagens vivem. Isso sem falar no roteiro que humaniza bastante seus personagens, especialmente Halley, que se mostra uma mãe pouco convencional, que ainda não amadureceu o suficiente, mas que nunca despreza a filha e não esconde de ninguém seu amor pela menina. Isso faz com que o público simpatize com ela em boa parte do tempo, apesar de algumas atitudes bastante controversas.
Por ser um filme com tantas qualidades dramáticas (especialmente a cena de choro mais impactante desde àquela vista em “Cidade de Deus”, há 16 anos), é uma pena, no entanto, que “Projeto Flórida” tem um desfecho decepcionante, que muda completamente o tom usado até então, e dá a impressão de que foi feito às pressas, como se houvesse um prazo para concluir as filmagens. Essa parte destoa do que Baker havia construído e pode causar perplexidade e até revolta no espectador. O que é uma pena, pois o resultado obtido em cerca de 90% do filme é bem acima da média.
No elenco, o grande destaque vai mesmo para a atriz mirim Brooklynn Kimberly Prince, que conquista a todos por sua espontaneidade e por soar sempre como uma criança de verdade, sem nenhum vício que algumas crianças acabam desenvolvendo à frente das câmeras. Ela é a principal responsável por tornar Moonee uma menina politicamente incorreta, ao mesmo tempo em que carrega uma certa ingenuidade típica de meninas da sua idade e não perde o pique nem quando tem que contracenar com atores mais experientes.
Quem também chama a atenção positivamente é Bria Vinaite, que foi descoberta pelo diretor através das redes sociais. Ela transmite de forma bastante convincente a agressividade e a imaturidade de Halley, assim como a ternura pela filha e merece ser lembrada para futuros papéis. Já Willem Dafoe, o nome mais conhecido do elenco, está bem como Bobby, mas não faz nada muito diferente do que já fez anteriormente. Embora continue mostrando seu habitual talento, não há muito o que justificar sua indicação ao Oscar 2018 de Melhor Ator Coadjuvante, a única que o filme recebeu (e merecia mais).
“Projeto Flórida” é uma interessante e poderosa experiência que merece ser descoberta pelo grande público (mesmo com uma situação envolvendo brasileiros que pode desagradar algumas pessoas) e mostra o grande potencial dos principais envolvidos nesta produção, que merecem ganhar mais e melhores oportunidades no futuro. Além disso, o filme pode abrir os olhos de quem vai à Disneyworld e não faz ideia de como vivem as pessoas ao redor do parque. Quem sabe, assim, não percebemos que o sonho americano é justamente isso? Apenas um sonho.
Filme: Projeto Flórida (The Florida Project) 
Direção: Sean Baker
Elenco: Willem Dafoe, Brookynn Kimberly Pierce, Bria Vinaite
Gênero: Drama
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Diamond Filmes
Duração: 1h51

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