Rio 2 – Blu volta sem a mesma graça

Blu, a ararinha azul mais famosa da cultura pop está de volta. Mas todos já sabiam que ‘Rio’ renderia uma continuação. Frente aos 486 milhões de dólares que o longa de animação dirigido pelo carioca Carlos Saldanha ao redor do mundo, não haveria hipóteses de uma segunda aventura não ser produzida, nem que colocassem outro a cargo da direção. A sequência foi encomendada a ele logo após o positivo saldo na bilheteria de estreia nos EUA. Fora do território do Tio Sam, os resultados foram ainda melhores, sobretudo no Brasil onde o filme foi a maior bilheteria do ano de 2011.

A animação mostrava as peripécias de um raro exemplar da nossa fauna, adotado por uma americana, que o criava como gente em Minnesota, até que um ornitólogo a convence de levá-lo ao Rio de Janeiro para que procrie e salve a espécie da extinção. Não tinha como errar: personagens engraçados, um lugar exótico, números musicais. Blu virou uma espécie de versão século XXI do Zé Carioca, e todos se renderam a seu carisma. Saldanha, que já tinha seu mérito reconhecido pela série ‘A Era do Gelo’, confirmou seu nome na lista dos diretores de animação de peso no mercado americano.

Em ‘Rio 2′ (Blue Sky/2014), na verdade a cidade que dá título à animação é apenas o ponto de partida (o que tira um pouco do sentido). Blu (Jesse Eisenberg) vive no Rio de Janeiro com sua agora esposa Jade (Anne Hathaway) e seus três filhotes. Assim como Blu fora criado por Linda (Leslie Mann) como “gente”, o mesmo ele fez com seus filhotes, que comem panqueca, assistem à TV e ouvem iPod. A família de ararinhas decide ir para a floresta amazônica ao saber que Túlio (Rodrigo Santoro) e Linda estão lá. Segundo Jade, um bom motivo para colocarem as crianças em contato com a natureza e agirem como pássaros. Ao chegar lá, a reunião familiar pretendida dá lugar a outra, inesperada: Jade reencontra seu pai Eduardo (Andy Garcia) e descobre que existem outros da espécie vivendo na selva. Enquanto isso, a cacatua Nigel (Jemaine Clement) arquiteta seus planos de vingança com o auxílio de um tamanduá bandeira que serve de montaria e a sapinha venenosa Gabi (Kristin Chenoweth). Do outro lado da selva Túlio e Linda têm que lidar com madeireiros inescrupulosos que querem limar os pró-floresta do caminho.

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Pela descrição da sinopse dá para perceber que o filme traz um certo excesso de personagens e é justamente por aí que começam os problemas de Rio 2. Com tantas figurinhas novas para apresentar, o desenvolvimento de cada um fica bastante comprometido. Os filhotes de Blu estão ali apenas para fazer bagunça e gracinhas; a presença de Nigel como vilão perde a força à medida que a trama avança, justamente por ter um outro núcleo de vilões (os madeireiros) sem nenhum vínculo com a ave má (que no primeiro filme era criada por traficantes de animais); o personagem Roberto (dublado pelo astro pop Bruno Mars), o ararinha galã, que em sua aparição inicial dá a entender que terá relevância na trama como adversário de Blu ao cortejar Jade, também perde seu propósito, a ponto do espectador praticamente esquecer dele. E a dupla de passarinhos Pedro (Will i Am) e Nico (Jamie Foxx) está ainda mais chata. Rio 2 sofre do mesmo mau de A Era do Gelo 2, por exemplo. Amplia o número de personagens, sem ter uma trama que os sustente. E para camuflar essa fragilidade narrativa, são colocados números musicais em demasia, que nem sempre são bons. A bossa nova e o samba dão lugar ao carimbó e a ciranda, evocando os ritmos do norte do Brasil. Mas o que se vê é repetição da fórmula do balé de aves já visto no filme anterior. O carro chefe da trilha (que também tem Carlinhos Brown, Sergio Mendes, Bruno Mars, B.o.B e Barbatuques assinando as composições) ‘What is Love’ de Janelle Monáe, por exemplo, é bonitinha, mas não tem a força de ‘Real in Rio’.

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A maioria das piadas também não funciona muito, são infantis e as mais engraçadas apenas provocam um esboço de sorriso, como as tartarugas capoeiristas do show de talentos.

Ao que tudo indica, nos quase três anos gastos na produção, preocupou-se no avanço da qualidade técnica deixando o roteiro para segundo plano, um equívoco que a Pixar, por exemplo, não comete.

No que tange à parte técnica, é uma animação impecável. O primeiro, que já era primoroso, é inacreditavelmente superado. Saem a mata atlântica, a pedra da gávea, as favelas, a orla carioca, Lapa e Santa Tereza e entra a floresta amazônica e o Rio Amazonas. O cenário é ainda mais complexo, a floresta tem profundidade realista realçada pelo ótimo 3D (tendência das últimas animações, como Frozen da Disney, por exemplo). As cores são vibrantes, a paleta de cor é bastante fiel à da região do país que serve de cenário, mostrando que o trabalho de pesquisa foi tão minucioso quanto o do filme original. A sequência em que as aves viajam através do país, mostrando pontos turísticos de cidades como Brasília, Salvador e Manaus, é de tirar o fôlego. Mas detalhe: são cidades sedes da Copa do Mundo. Isso e algumas referências futebolísticas deixam claro que os produtores quiseram pegar carona no clima de expectativa para a competição.

Assim como o carnaval da Sapucaí mostrado no final de ‘Rio’, o Réveillon de Copacabana que abre o ‘Rio 2’ também é reproduzido com fidelidade e graça (lembrando que na queima de fogos em Copacabana teve o filme como tema).

A renderização tanto do cenário quanto dos personagens mostra o quanto a animação feita com CGI evoluiu desde ‘Toy Story’ de 1995 até hoje, e que a Blue Sky já não é mais aquele patinho feio dentre os estúdios de animação, como era tida até algum tempo.

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Mas na balança, o script pesa mais do que técnicas aprimoradas de CGI, afinal de contas, essa última é uma ferramenta para o primeiro, e não o contrário como parecem acreditar os realizadores.

Diante do exposto, ‘Rio 2’ pode ser uma boa diversão para crianças menores, mas, diferente da primeira aventura, pode entediar os adultos. No fim, fica a incômoda sensação de que essa sequência nem precisava ter sido feita. Uma pena (sem trocadilhos). A ararinha mais simpática do cinema merecia voltar à cena em melhor estilo, dentro de uma trama que fosse condizente com seu status pop.

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