Sócrates perdeu a mãe. Seus 15 anos são muito poucos para encarar a vida sem ela. Emocional e materialmente. Com pai ausente, periga ir parar num abrigo para menores. E assim, sua vida vira um cotidiano de luta pela sobrevivência. E ainda tem que lidar com sua sexualidade, ao se ver enredado pelo colega de trabalho informal. O diretor Alex Moratto dirige essa verdadeira odisseia pela urgência factual da vida de seu protagonista. Sua câmera na mão, sempre no encalço dele, acompanha a trajetória de desdobramentos que a precoce vida de Sócrates vai tomando e enfrentando. Christian Malheiros pulsa em instinto no papel, mimetizando todos os problemas que gravitam o personagem em suas reações espontâneas.
A complexidade da perda da inocência ganha dimensão social, e essa abordagem aponta para alguma originalidade na trama principal do filme, que tem produção do Instituto Querô, projeto social em que jovens entre 16 e 20 anos se desenvolvem profissionalmente no audiovisual. Isso já agrega propriedade ao resultado final. Assim como desromantiza seu meio e sua dramática sensibilidade emocional (sobretudo pelas lacunas emocionais que traz em si). Ainda que às vezes o resultado deixe transparecer certa limitação técnica, Sócrates é de uma honestidade para além do cinema verdade entendido como estética. É um cinema de verdade na raça.
Cotação: Bom