"The Post - A Guerra Secreta" mostra que Spielberg ainda sabe contar boas histórias – Ambrosia

"The Post – A Guerra Secreta" mostra que Spielberg ainda sabe contar boas histórias

"The Post - A Guerra Secreta" mostra que Spielberg ainda sabe contar boas histórias – Ambrosia

De uns tempos para cá, parecia que Steven Spielberg tinha se acomodado como diretor e contava apenas com seu nome como chamariz para as suas produções. Apesar de ter realizado trabalhos competentes (ainda que de pouco brilho) como “Lincoln” ou “Ponte dos Espiões”, o cineasta estava devendo depois de derrapar feio em “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, “Cavalo de Guerra” e, principalmente, “O Bom Gigante Amigo”, decepcionante adaptação de um livro de Roald Dahl (de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”), que resultou num filme nada encantador e facilmente esquecível.
Porém, para a surpresa geral, Spielberg prova que ainda é capaz de mostrar que não conquistou o status que desfruta à toa e entrega sua melhor direção desde “Prenda-me se for capaz” com “The Post – A Guerra Secreta” (“The Post”, 2017), que conta de maneira envolvente um episódio que envergonhou o governo americano e discutiu algo que ainda é importante para a democracia: a liberdade de expressão.
Inspirada em fatos reais, a trama ambientada na década de 1970 mostra a luta da imprensa para divulgar detalhes de um dossiê requerido pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert McNamara (Bruce Greenwood), que assumia que os americanos não iriam vencer a Guerra do Vietnã, embora o governo não admitisse isso. Após o presidente Richard Nixon processar o The New York Times, jornal que começou a fazer diversas matérias sobre os documentos, para que não se divulgasse mais nada, o editor-chefe do The Washington Post, Ben Bradlee (Tom Hanks), após receber o mesmo dossiê, decide comprar a briga e resolve, junto com sua equipe, publicar novas denúncias.
No entanto, ele precisa convencer a dona do jornal, Katherine “Kay” Graham (Meryl Streep), que está no meio de uma negociação para lançar ações do Post na Bolsa de Valores para manter o jornal funcionando, da importância das matérias e, assim, obter o seu apoio. Katherine, que tem entre seus amigos o próprio McNamara, se vê no meio de um conflito que pode abalar seriamente o governo Nixon, mesmo que isso cause problemas para o seu jornal.
Embora se passe há mais de 40 anos, é interessante como Spielberg conduz a trama de “The Post – A Guerra Secreta” traçando paralelos com algumas questões atuais nos Estados Unidos. É impossível não correlacionar os eventos mostrados no filme com os conflitos envolvendo o atual presidente e os meios de comunicação, já que ele, assim como Nixon, quer censurar todo e qualquer veículo que reporte algo que o desagrade. Mas essa não é a única qualidade do filme nem da direção de Spielberg. O cineasta trabalha o (muito bom) roteiro de Liz Hannah e Josh Singer (que também escreveu o texto de “Spotlight: Segredos Revelados”, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, além de ganhar Melhor Filme) com um ótimo equilíbrio entre drama e suspense, mantendo o interesse do público o tempo todo graças à tensão que envolve os jornalistas perante à ameaça criada pelo governo que não deseja cair em desgraça pública.
Um dos melhores momentos do filme é uma conversa telefônica envolvendo Katherine, Ben e outras pessoas sobre a decisão de levar à frente a publicação dos dados do dossiê. Spielberg faz a câmera girar em torno da personagem de Streep, o que gera, além de uma agilidade nas imagens, a sensação de que ela experimenta sentimentos conflitantes diante de uma medida tão importante para ela, seu jornal e até mesmo o país.
Spielberg não perdeu seu ranço patriota que ficou ainda mais evidente em “O Resgate do Soldado Ryan”. Mas aqui, o que poderia soar piegas nas mãos de um realizador menos competente se torna relevante e atraente, bem mais que “Spotlight”, com que muitos comparam de maneira equivocada só por tratar de questões jornalísticas. Além disso, Spielberg, auxiliado por seu diretor de fotografia favorito, Januz Kaminski, cria belas imagens (meio desbotadas, com jeito de anos 70 mesmo) que mostram a construção da primeira página do jornal ou de sua publicação na gráfica, sempre inserindo seus personagens no processo.
O que mais chama a atenção no filme, no entanto, é ver Meryl Streep e Tom Hanks juntos pela primeira vez no cinema e os dois não decepcionam. Meryl, que muita gente critica o fato de que é recorrentemente indicada aos principais prêmios cinematográficos, mostra por que isso acontece: ela, simplesmente se entrega por completo em seus papéis e (quase) sempre impressiona por nunca se repetir ao pular de um personagem para o outro. Em “The Post”, ela consegue tornar crível os conflitos que Katherine vive por se mostrar competente ao comandar um jornal num ambiente dominado praticamente por homens, ao mesmo tempo que tem dúvidas se defende a divulgação dos documentos que podem prejudicar pessoas próximas a ela. Um dos melhores momentos de sua atuação está numa cena em que conversa com a filha, interpretada por Alison Brie, e revela seus temores como executiva, como mãe e chefe de família. Ela consegue emocionar sem carregar nas tintas e isso é um dos grandes méritos de sua atuação.
Já Hanks usa seu incontestável carisma para construir Ben Bradlee como um homem incansável na busca pela verdade e pelo grande furo de reportagem, ao mesmo tempo em que faz o possível para trazer sua chefe para o seu lado, especialmente em questões mais delicadas. Outro ator menos esperto poderia tornar Bradlee um personagem um pouco intransigente demais e, por isso, pouco satisfatório, ainda mais com a relação distanciada com a esposa (uma quase ponta de luxo da ótima Sarah Paulson). Mas isso nunca acontece e o público pode se pegar torcendo para que ele consiga o que tanto deseja.
Além dos dois astros, vale destacar a atuação de Bob Odenkirk, que vive Ben Bagdkian, um dos jornalistas da equipe de Bradlee. O ator, mais conhecido por seu trabalho nas séries “Breaking Bad” e “Better Call Saul”, passa veracidade nas questões de seu personagem. Primeiro, quanto ao seu esforço de encontrar o dossiê e seu autor (vivido por Mathew Rhys, da série “The Americans”) e, mais tarde, no temor que sente quando descobre as questões legais envolvendo a sua publicação. O restante do elenco também está bem competente e não deixa a peteca cair.
“The Post – A Guerra Secreta” também se mostra interessante quando se pensa que ele dialoga diretamente com o elogiadíssimo “Todos os Homens do Presidente”, já que trata do Caso Watergate, e também “Frost/Nixon”, que mostra os bastidores da famosa entrevista do ex-presidente americano que confessa seus pecados quando estava na Casa Branca. Vale fazer uma sessão tripla com os filmes só para conhecer um pouco mais sobre esse período conturbado nos Estados Unidos. Embora haja alguns deslizes na parte dramática (há uma cena que, embora belíssima, parece ter sido feita para agradar as mulheres que lutam por sua emancipação nos dias de hoje), mostra que Steven Spielberg finalmente despertou de seu estado de torpor. Que bom, Steven! E não se canse de nos impressionar.
Filme: The Post – A Guerra Secreta (The Post)
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Sarah Paulson
Gênero: Drama/Suspense
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 55 min
Classificação: 12 Anos

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