Há dois caminhos escolhidos para se adaptar games para a telona: desenvolver um roteiro a partir da história do jogo propriamente dita, ou criar uma trama focada na relação do jogador com a plataforma. “Um Filme Minecraft” escolhe essa segunda via, embora se revista de elementos da primeira. Afinal de contas, “Minecraft”, jogo sandbox fenômeno entre a meninada desde que foi lançado pela desenvolvedora sueca de videogames Mojang Studios, em 2011, é basicamente sobre a experiência de construir coisas em cubos. E aqui vemos pessoas saindo do mundo real para aquele universo, fazendo com as próprias mãos o que se faz com o joystick.
Na trama da adaptação, em um universo onde a criatividade não só proporciona diversão como também é vital para a sobrevivência, quatro indivíduos desajustados, cada um ao seu jeito são subitamente transportados para o Overworld, um mundo cúbico e estranho regido pela imaginação. Após passarem por um portal misterioso, eles adentram uma terra repleta de perigos e criaturas malignas, como os Piglins e os Zumbis. Para retornarem ao nosso mundo, eles terão que aprender a dominar este novo ambiente e para isso contam com a ajuda do construtor experiente e imprevisível, Steve (Jack Black). Desenvolver habilidades únicas, é a única forma de sobreviver no Overworld.

As produções mais recentes que se baseiam em games buscam ser fiéis à experiência com os controles e progresso ao longo das fases. “Um Filme Minecraft” até se sai bem nesse ponto. Jogadores de Minecraft identificarão imediatamente missões, conclusões, personagens e easter eggs. No entanto, o roteiro de Chris Bowman, Hubbel Palmer e Neil Widener costura a dinâmica dos videogames com histórias pessoais para cada um dos personagens envolvidos todas presas a clichés. Temos o geniozinho incompreendido Henry (Sebastian Hansen), com drama familiar envolvendo a irmã Natalie (Emma Myers), questão que logo se revela totalmente irrelevante para a trama; o ex-campeão de videogames Garrett (Jason Momoa) que vive preso às glórias do passado enquanto vive um presente melancólico; Dawn (Danielle Brooks), um estereótipo da mulher negra de vida difícil; e o adulto que não cresceu e vive preso dentro do jogo, no caso Steve, o personagem de Jack Black, cujo arco não deixa de guardar semelhança com o do personagem de Robin Williams em “Jumanji”. Isso, além de situações de variados títulos da cultura pop, de diversos gêneros, dão a sensação de que a produção atirou para todos os lados.
A direção de Jared Hess, do genial “Napoleon Dynamite” e da ótima série “O Último Cara da Terra” procura sempre proporcionar a imersão ao espectador, ainda que o excesso de informações na tela possa se tornar cansativo a uma certa altura. Apesar de cumprir a função de diretor de aluguel, imprime seu humor peculiar (até demais para alguns gostos) em diversos momentos, garantindo a diversão também para os pais que vão levar os rebentos.

“Um Filme Minecraft” comete um pecado análogo ao dos filmes de monstros gigantes que se concentram em dramas humanos quando o que se quer ver é a destruição. O longa perde tempo demais construindo arcos que ou não serão desenvolvidos e há um excesso de personagens deixando duas, especificamente Natalie e Dawn, apenas orbitando, sem ter muito o que fazer ou dizer (e o que comentar sobre a vice-diretora da escola de Henry…). Bastava Steve ajudando o menino Henry a sobreviver naquele mundo e personagens em CGI carismáticos que o resultado ficaria muito mais satisfatório. Vários elementos típicos de Sessão da Tarde compõem a trama, mas agrupados de tal forma que o resultado não vai além do mediano. Pode divertir as crianças que estão fortemente engajadas no universo do game, mas certamente será enfadonho para os leigos, sobretudo adultos.
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