Em 2004, o diretor britânico Paul Greengrass redefiniu o filão de filmes de espionagem ao agregar o fator urgência na espetacularização do ótimo Supremacia Bourne, primeira sequência da franquia literária Identidade Bourne. Depois disso, o gênero nunca mais foi o mesmo, tornando-se uma alternativa a eterna referência estética do cinema marginal americano da década de 70. Prova disso é a contundência realística conferida no novo filme de Angelina Jolie, Salt.
Dirigido com rigor por Phillip Noyce (do clássico ufanista Jogos Patrióticos), o filme parte de uma premissa obsoleta (motivações políticas nascidas nos porões da Guerra Fria) para desenvolver uma trama que destrincha os jogos diplomáticos pós-Bush, vigentes hoje nos EUA. Ciente de todos os códigos de gênero, Noyce constrói um eficiente thriller que dialoga com o cinemão tradicional, reverente às impressionantes cenas de ação, e com isso se vale de um roteiro (escrito por Kurt Wimmer, de Os reis da rua) muito bem amarrado e, coincidentemente atual no cenário doméstico do próprio tema, uma vez que, há poucos dias do lançamento mundial do filme foram descobertos nos EUA espiões russos infiltrados socialmente há mais de uma década. E por motivações, ainda, soviéticas.
Seria redundante dizer que a atriz está deslumbrante no papel, e sua persona se justifica ainda mais ao equilíbrio que o diretor buscou ao convergir a seriedade do tema com a natureza escapista do produto que o filme é. E é justamente nesse casamento que toda a cartilha de Bourne é levada ao pé da letra e Salt se mostra, de fato, um grande filme, pois, seja pela (boa) forma curvilínea de Jolie, ou seja pela contundência na qual a superprodução situa uma das mais antigas rivalidades políticas do planeta, o espectador sai do cinema ciente de que tanto o mundo (em que vive), quanto o cinema (que assiste) são regidos pelo mesmo poder, cristalizado no discurso do filme.
Comente!