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Em livro de contos, Yan Rego resgata as manifestações de junho de 2013 para tratar da violência política

Em "Era uma vez um mês seis”, publicado pela editora Paraquedas,  o escritor usa a ficção para dar outros contornos tanto às vozes hegemônicas quanto marginalizadas durante o período

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“Quem vê pensa. Que tudo o que Yan Rego escreve sai da boca. Mas peixe morre é pela boca, e vale o escrito, ou melhor, o reescrito: o carioca de Vila Isabel trata a língua sem cerimônia,  mas também com cuidado.”
Ronaldo Bressane, escritor e jornalista, na orelha

“Descobri Yan Rego em um concurso de contos. Nas primeiras páginas, já sabia que seria premiado. Não é todo dia que encontramos uma voz tão singular e intensa, capaz de extrair beleza até dos cantos mais obscuros da vida.”
Giovana Madalosso, escritora e autora de “Suíte Tóquio” (2021), na quarta-capa

O escritor, professor e roteirista carioca Yan Rego se sentia rancoroso acerca dos acontecimentos de Junho de 2013 — seja pela sua experiência pessoal, seja pelas análises feitas posteriormente do período. E, desse seu sentimento, surge o livro de contos “Era uma vez um mês seis”, publicado pela Editora Paraquedas, selo de publicação assistida da Editora Claraboia. O livro possui orelha do escritor e jornalista Ronaldo Bressane e quarta capa da escritora Giovana Madalosso.

A obra terá eventos de lançamentos durante o mês de novembro no Rio de Janeiro, na Livraria Da Vinci, no dia 28; e em São Paulo, na Ria Livraria, no dia 30.  Além disso, Yan Rego participará de uma mesa de debate na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), dentro da programação da Casa Pagã, no dia 25, às 20h. A mesa conta com o tema “Lugar de fato: a literatura que habito”. Também participam da conversa os escritores Renato Bueno, Ana Sophia Brioschi e Letícia Bassit. A mediação é de Maria Carolina Casati.

Já conhecido pelo livro de contos “Agá”, que venceu o segundo lugar no Prêmio Biblioteca Digital 2021, o autor conta que as principais motivações de “Era uma vez um mês seis” eram a sua própria inquietação com a questão racial (ou, em suas palavras, o “a perdidez do pardo”) e com a violência política, esteja ela dentro ou fora das organizações. 

Entretanto, ainda que parta de discussões e acontecimentos reais, a obra apresenta cunho ficcional. “Recorri à ficção porque me parece que há vozes que não foram levadas a sério como deveriam, mas, principalmente, porque há vozes que não foram ridicularizadas e esculachadas como deveriam”, ressalta.

Nesse sentido, ao longo do livro, o leitor é convidado a adentrar uma atmosfera do absurdo, que provoca ao localizá-las dentro de situações como o discurso tendencioso e violento do apresentador de um programa de televisão que relata as manifestações — caso do conto “A Voz de Deus” — ou, até mesmo, de apresenta os atravessamentos desta dentro de contextos mais pessoais, como no conto “V de viu”.

Rego, porém, não traz uma abordagem panfletária. Para ele, “falar de política e raça com respostas prontas e idealizadas me parece uma grande sacanagem intelectual”. No entanto, “Era uma vez um mês seis” se destaca pela experimentação com a linguagem e construção narrativa, que revelam, por si só, um olhar crítico e que convida à reflexão. 

Professor, roteirista e escritor: conheça os processos de Yan Rego

Nascido em 1993, no Rio de Janeiro, Yan Rego atua no ensino de crianças imigrantes chinesas e taiwanesas. É formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi roteirista do longa-metragem “Lulinha, meu Santo!”, que foi convidado para o Festival de Roteiro de Porto Alegre 2023.; e do curta O nariz de Euzébio”, em fase de captação.

Rego conta que começou a escrever aos dezesseis anos, depois de conhecer livros de Rubem Fonseca e “desconfiar que a rua, a fala da rua e as pessoas da rua também dão boa literatura”. Frequentou o Sarau do Capão e o Slam Capão, onde aprendeu a mostrar seus escritos publicamente. Foi publicado pela primeira vez na coletânea de poemas “A favela em ação: Slam Capão” (Cosmos, 2020). Atualmente, tem textos publicados nas revistas Morel, no Jornal RelevO e nos zines Submarino. Durante a pandemia, publicou seu primeiro livro de contos, “Agá”, que foi o segundo colocado na categoria contos do Prêmio Biblioteca Digital 2021 e publicado em e-book (Biblioteca Pública do Paraná, 2021). 

Seu processo criativo se baseia, principalmente, na escuta. “Faço um pouco de pesquisa em livros e álbuns com estilos/temas semelhantes com o que estou escrevendo, mas a maior parte busco na internet e andando na rua. Anoto muitas coisas que escuto. Reviso meus textos em voz alta; paro quando cabem na boca, apertam a cabeça e não sobram no ouvido.”, conta. Além disso, o escritor coloca como meta a escrita de ao menos 9 mil toques semanais.

Suas principais referências literárias são os escritores Rubem Fonseca, Isaac Babel, Gabriel García Márquez, João Antônio, Lima Barreto, Maria Carolina de Jesus e Mano Brown. Durante o processo de escrita de “Era uma vez um mês seis, ele comenta ter sido influenciado principalmente pelas obras “O homem de fevereiro ou março”, de Rubem Fonseca; “O sol na cabeça”, de Geovani Martins; “Malagueta, Perus e Bacanaço” e “Abraçado ao meu rancor”, de João Antônio; “Obras completas (e outros contos)”, de Augusto Monterroso; “O Exército de Cavalaria”, de Isaac Babel; e “ Dormitório”, de Yoko Ogawa.

Confira um trecho do conto “Memória de Elefante”:

Cérebro

26. Não me lembro de por que parei de militar. Não me lembro de por que evito discussões sobre raça. Não me lembro do porquê, mas tenho certeza de que não vou mudar nada nesse mundo com minha literatura.

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