Entre contratempos, compromissos formais de um cotidiano competitivo e burocrático e a necessidade quase fisiológica de compor e se expressar através da arte musical, Gustavo Nobio sempre se mantém motivado e encontra tempo para produzir e gravar em algum estúdio. Após lançar três singles inéditos em 2023 — nos meses de fevereiro, maio e agosto; agora o cantor, compositor e rapper chega às plataformas digitais com o EP “Versocrático” reafirmando seu talento com veia crítica e narrando experiências de vida. Nas cinco faixas que compõem o ótimo extended play, o artista apresenta cada rap-canção como quem relata suas impressões sobre o mundo, quase crônicas sobre vivências emocionais, sociais e culturais na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Em “Dialética Loquaz” expõe sua paixão pela cultura hip-hop e critica o esvaziamento poético do gênero, rimando numa base bem suingada (funky beat) parecendo um partideiro à vontade numa roda de samba. O neoclássico rhythm and blues “Mantendo A Firmeza” mostra um poeta operário sensível às dores do mundo tentando superar obstáculos impostos pelas complicadas relações humanas. E continua a luta por um lugar ao sol organizando o ritmo da sua vida em “No Drible dos Reveses”, um jazzy boom bap introduzido por vocais que remetem ao scat singing. Até aqui são quase 15 minutos do brazilian flow natural em que Nobiog deixa patente suas habilidades líricas e melódicas, este ilustre desconhecido que já é verbete no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
Seguindo o streaming dos versos socráticos na batida do rap, o single experimental “Antagônico” (lançado em 2022) também aparece no mini álbum, onde brinca com oposição de palavras e aponta certas contradições humanas numa melodia neosamba com o peso do boom bap. E o EP finaliza com a “Via Ponte Rio-Niterói (Intro-Versão)” — creditada na plataforma Bandcamp como “Que Horas São? / V.P.R.N.”. Embora não seja uma música da nova safra do rapeador fluminense, essa versão com uma introdução a cappella difere, por esse detalhe, daquela que faz parte do álbum “Sucessos Nobianos Que O Mundo Nunca Ouviu!” (2019).
Com a concepção artística e musical de Gusnob DeSaints, as faixas foram produzidas por Lucas Victor [“Dialética Loquaz” e “Mantendo A Firmeza”, estúdio Ponto 30 Records – Niterói, RJ]; Danilo Minarini e Gusnob [“No Drible dos Reveses”, estúdio 360K – São Gonçalo, RJ]; Gusnob [“Antagônico”, estúdio Tomba Records – Niterói, RJ]; Bruno Brecht e Gusnob [“Via Ponte Rio-Niterói”, no Tomba Records]. Gravação, mixagem e masterização por Leandro “LD” Souza (Ponto 30 Records), Paulo Xytake (360K Estúdio) e Bruno Brecht (Tomba Records).
“Sócrates já dizia que da vida nada sabia. E eu, desse mundo sou só mais uma cria. Um garoto que se apaixonou pela poesia. Hoje, poeta operário que quanto mais questiona, mais adquire sabedoria. Um cantador diletante que faz música para viver em harmonia. Porque a liberdade é um direito que não se negocia”, Gustavo Nobio.
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