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Romance de estreia do escritor mineiro Michael Maia retrata mundo distópico sobre dúvidas e escolhas em relação à morte

Distopia em que cada sujeito pode escolher o dia e a hora que deseja morrer é o tema central do livro

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“Era de se esperar que falar o tempo todo sobre viver remeteria implicitamente que, hora ou outra, vamos todos morrer.”
“Michael Maia” (pág. 34)

A morte é, sem dúvida, um dos principais tabus sociais. Religião, propriedade, escolhas individuais e até o mercado funerário atravessam o assunto que passa pelo universo particular de cada pessoa e afeta a sociedade como um todo. Esse é o ponto de partida de “Entre a vida e a morte, há vários documentos” (192 pág.), primeiro romance do mineiro Michael Maia (@maicud), lançado pelo selo de publicação Paraquedas

A obra será lançada no dia 7 de abril, na Livraria do Belas (Rua Gonçalves Dias, 1581, Lourdes), às 15h, em Belo Horizonte (MG).

O romance retrata a história de um país que legaliza e controla uma nova descoberta: “a droga da morte”. O seu problema ou fascínio é que ela permite que todos tenham uma experiência fascinante instantes antes de morrer: rever amigos e parentes falecidos e, até, quem sabe, Deus. Depois dessa descoberta e de um “Grande Surto” em que uma horda de pessoas decide tirar a própria vida através do uso da droga, o governo regulamenta o uso do narcótico (ou da ciência, dependendo do ponto de vista). Diante dos impactos disso na sociedade, o livro retrata também como a nova morte impacta diferentemente as diversas classes sociais, abrindo espaço para questionamentos. Como o governo escolhia quem a merecia ou não? Quem eles estavam tentando matar mais rápido? Por que um prédio de atendimento nunca era visto em bairros mais nobres? 

“Entre a vida e a morte, há vários documentos” vai acompanhar a vida do casal Luzia e Tânia que, após serem diagnosticadas com um câncer terminal, decidem interromper o tratamento e se candidatarem ao uso da droga. Observamos então o impacto da decisão em seus pais e, principalmente, em Antônio, o irmão mais velho de Luzia que trabalha justamente na empresa estatal que recebe e regula as aplicações de quem opta por morrer com o narcótico .

“Entre a vida e a morte, há vários documentos” nasce em Michael de duas experiências marcantes: uma delas foi a extensa pesquisa do autor sobre sociedade, morte e suicídio na perspectiva de sociólogos; a outra, o processo de luto da perda de uma grande amiga  após um acidente de carro. “Quando alguém da nossa idade e proximidade morre, perdemos um pouco de nós, ficamos desorientados principalmente pelo choque de que sim, somos todos finitos, nós podemos morrer também”, reflete. “Durante o processo de luto pela minha amiga eu fiquei um pouco perdido, abandonei a escrita e fui vivendo a vida no automático, e acho que é um sentimento mútuo entre várias pessoas que passam pelo luto.”

A morte e o luto: de José Saramago a George Orwell

Nascido Entre Rios de Minas, cidade localizada na Região do Alto Paraopeba, Michael Maia se formou em Jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), mas se viu insatisfeito com a área de Comunicação. Escritor de produção rápida, tenta produzir um conto por semana para exercitar a caneta e afinar o lápis. Para o romance “Entre a vida e a morte, há vários documentos”, o autor teve duas inspirações claras: o romance “1984”, de George Orwell que retrata uma sociedade totalitária em que o Big Brother tudo sabe e tudo vê, e “As Intermitências da Morte”, romance de José Saramago em que, um dia, a morte resolve parar de matar: É incrível como o Saramago desenvolve uma escrita, um ensaio, com apenas um ‘e se?’.”

Em sua próxima obra, Michael pretende trabalhar em um livro de terror-comédia com personagens LGBTs, brincar um pouco com temas da comunidade e puxar um pouco de nostalgia das músicas e vivências dos anos 2010-2015.

Leia um trecho de “Entre a vida e a morte, há vários documentos”:

“Há cinquenta anos o mundo se deparou com a questão mais rejeitada por grande parte da sociedade ocidental: a morte. O grande tabu fora, aos poucos, rachado nos círculos sociais. Ao longo dos meses ouvia-se falar de algum conhecido que abusara do narcótico “da moda”, e assim foi até o assunto entrar na casa de cada um. A passos lentos, mas contínuos, a morte foi chegando em todas as famílias, tornando-se um tema frequente e assíduo em todas as conversas — e ainda mais misterioso do que antes.”

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