Você já sentiu alguém irritado lhe dizer em tom crítico Pelo amor de Deus. Se pensarmos que o amor é um sentimento que necessita do corpo que lhe destina, que o afeto e seu desenvolvimento: o amor é possível? Se existe o outro. Uma idealização que requer materialidade do sujeito corpóreo. Mas há nesta reprovação uma boa argúcia argumentativa. Manter a fé ou manter o compromisso?
Se Deus é tudo, está em todo lugar, teremos aí uma bela alquimia poética quando estamos usando o nome dele em prol de um desejo não realizado. De um chamado não respondido.
A linguagem está nas palavras, a linguagem está numa imagem, numa cor que mesmo sem palavras nos dá uma nota afetuosa. Vocês já perceberam a dicotomia Branco x preto.
Mas quando utilizamos a linguagem no seu máximo poderio de expressão, quando sua imagem e seus signos são potencializados numa dança ou numa mudança de percepção, de concepção. Tal como o amor de Deus.
Por uma ordem
Por um desejo real
Por um monte de gente diferente
Sem nome
Sem gênero
Identitário mesmo na sua especificidade
Assim é
Um treta assim se dá quando a poesia entra na ciranda
Na tela letra?
Ou na felação canção
Tudo vira miscigenação na morte chama Semhora.
Se pararmos com Deus e pensarmos em nossos desejos
————–como apenas poesia
Precisaremos dizer? – Pelo amor de Deus
Sim nesta junção de quereres
está o livro lindo de J.r Bellé
Amorte chama semhora, pela editora Patuá.
Uma liberdade que a página estampa.
Signos foram soltos da prisão linguística
E estão nos espaços da rua aglutinando a tua palavra à leitura.
Deleuze não é forma de desencontros,
É a linguagem do Bellé tecendo outr@s elas e elos
(quer)elas (quer)elos
A linguagem é gozo no livro do camarada
Tal como o corpo sem norte sem sul do leste de Éden nem a oeste do faroeste.
A morte é uma sem hora com(o) Deus pode ser uma mulher com 80 anos
Assim vejo Hilda- Wislawa- Plath- Meirelles todas Deusas da linguagem.
Sinto que ler um livro como este do Bellé me aproxima da orgia que um texto
Pode provocar em um leitor assumidamente apaixonado pelas palavras.