“Humana Flor” – Alma e Poesia de uma atriz

“Ela vivia de um estreitamento no peito a vida” (Clarice Lispector)

É com a epigrafe de um jardim, que mergulhamos na subjetivação dos seres.
Ao final da frase fiquei a me questionar a quem o pronome pessoal se referia. Seria ela, Clarice? Seria ela, Andréia?

“Aqui a poesia só pede um pouquinho de atenção para o sentimento”. (Andréia Horta)

É com a dedicatória em punho da própria flor, que sou intimado a adentrar o sentimento.
 
O livro ‘Humana Flor’ revela a vertente poética de um ser que o tempo todo troca de pele, muda de corpo, transmuta a alma.
Calamos a atriz, e damos voz a mulher.
Os poemas abstratos na maioria das estrofes, mas tão concretos como o roteiro de um filme baseado em fatos reais, perpassam os mais plenos, os mais sofridos e os mais escrotos momentos da vida.
Pena que ler poesia agora virou um ato culturalmente démodé. Não se lê como antigamente. Deixaram levianamente cair no ostracismo da falta de pele, na falta de flor. A nova geração – esse termo me soa estranhamente estranho – prefere os Best-sellers internacionais que por tabela impregnam o cinematografo, e as cartilhas baratas de auto-ajuda com suas expressões estáticas de COMO (ou COMA?): Como conseguir? Como fazer? Como ser?
Triste deserto (…)
Fui tomando diariamente doses homeopáticas de liberdade, de sentimentos. Engraçado que certos poemas, de alguma forma parecem ser meus, não, não é um usucapião amoral, é um empréstimo autoral-poético regido por memórias ou por vazios…
Os que mais me marcaram, pintei em cor, no papel da pele.

Andreia Horta lancamento livro Humana Flor

E quem assistiu ‘Em Busca de Alice’, o making of da serie homônima da HBO, vai perceber claramente essa linha tênue que une e abisma a Andréia de carne e osso, e a Andréia de alma e poesia.

Poesia 40 do livro ‘Humana Flor’

Qual é malandro?
Brincou de casinha
Chupou lambeu
E agora na boca do gol
Vai embora
De um modo delicado
Fez planos
Dormiu, acordou, comeu, riu comigo
Dividiu seus problemas
Dividiu o parto
Compartilhou seus planos de reforma
Foi meu íntimo
E vai embora?
Falou mal dos outros
Se contradisse
Traiu, gozou, sonhou
Foi ridiculamente encantador
Me apresentou a família
E vai embora.
Falou de filhos
Estradas, canções
A corrente que você usa no peito
Passou dentro da minha boca
Seu bicho ficou meu amigo
Seu amigo morreu
E pro meu colo você veio
Para seu frio meu calor
Seu desejo, saciado
E vai embora!
Olhou em meu olho
Como faz um homem quando fala verdades
E jogou fora como um prato sujo
Não é que a dor não te atravessa
É que você não sentiu dor
Não quis.
“Mas não tem revolta não”
Um dia eu aprendo que sentimento não garante elos.

Infelizmente, por motivos autorias, a HBO tirou do Youtube o vídeo ‘Em Busca de Alice’, com a segunda parte do making of da série. Mas abrirei aspas para registrar a fala convergente entre as ‘Alices’.

“Não é qualquer pessoa que tá do lado que segura à onda. E aí, se não vai segurar a onda é melhor mesmo que vá embora néh? Porque aí também não quero que… (risos)”.

Mais poesias, e mais Alices, por favor! (griphos meus)

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