Se houvesse uma rixa ou um racha entre a lisura e a concisão? A lisura costuma ser verborrágica? Ela tem verbo até na língua. Coça até o vernáculo. Mas diria o oráculo, com seus óculos míopes, que a lisura tem um inimigo pavoroso andando atrás dela: a concisão. Essa senhora, que já andou pelas bibliotecas de gente como o Machado, o Andrade, tem uma verve excluindo o verbo. Uma verve de causar buracos pior do que do metrô na Gávea. Sim, ela mexe com buracos do sentido. Ela já conversou muito com o duplo… sentido, este personagem que habita os subterrâneos da ficção. Não há lisura em buracos onde o autor bota seu dedo.
Este parece ser a grande sacada do livro Antes do Zoológico do escritor Franklin Valverde (editora Patuá). Em botar o dedo nas feridas abertas e não cicatrizadas do mundo cada vez mais palavroso e não silenciado onde humanos criam confusão com modo e jeitos de operar na língua. Quando você acaba com a diferença entre ações-opiniões, cria-se uma tábua rasa de consensos, de afirmações consentidas.
Franklin em contos curtos, mostra quase uma variação do absurdo das relações sociais, medidas pela mentira, pela cumplicidade excessiva, pelo compadrio. É muito interessante como o autor cria lapsos de desmascaramentos, das convenções sociais mediadas pela linguagem. Mas a língua, traí. Pois ela tem veios e fendas que ao homem falar, há uma dupla hélice de verbalização, no meio do discurso uma palavra escapulirá da sua mente , trazendo à flora, uma ideia recalcada.
E nesta posição de recalque, que o autor trabalha uma ironia sobre os desnudamentos dos seus personagens. Na segunda e terceira parte, Franklin de forma muito arguta, lapida frases onde esta mesma posição descrita acima nos contos da primeira parte, sintetizam o homem contemporâneo em suas fraquezas, em suas complexidades do humano, demasiado humano.
20 de agosto de 2018
Livro de contos "Antes do Zoológico" sintetiza pela linguagem as nuances do homem contemporâneo
2 minutos de leitura