A jornalista e escritora Rosiska Darcy de Oliveira, membro da Academia Brasileira de Letras, tem muitas histórias para contar. Parte delas está reunida em Pássaro louco, livro que a Rocco lançou no mês passado.
Elas reconstituem o pensamento de uma cronista celebrada pela crítica literária pela originalidade de seus textos, em que a erudição da ensaística se exprime na forma leve da crônica. Pássaro louco é o registro dos itinerários dessa mulher que diz ter vivido três séculos em uma vida.Na antologia, textos que passam pelas lembranças da infância, o exílio na Suíça durante a ditadura militar, amores, afetos, o bem e o mal da contemporaneidade, política, literatura, religiosidade e o carnaval, uma de suas paixões, organizados em blocos temáticos.
Entre algumas crônicas, a própria editora nos repassou um resumo, entre elas, destacamos:
A “Infância não tem cura”, primeiro capítulo do livro, emerge a descoberta do mundo, a difícil travessia de tudo que é ainda misterioso. “Viver é um susto que começa na infância. Porque, pense bem, como é possível de repente descobrir-se vivo, dar nome às coisas desconhecidas, decorar quem é quem nesse lugar que, supostamente, é a sua casa?” No universo de um só quarteirão dá-se a travessia de tudo que é ainda misterioso, os amores silenciosos, o padre que tem seis filhos que esconde na escola paroquial, a convivência com as vizinhas turcas que ensinam o diferente, a intuição do perigo no velhinho inofensivo, o balão que sobe e em sua beleza leva o risco da destruição e ensina que “glória, gênio e inferno são feitos do mesmo fogo”.
Pássaro louco, por exemplo, além de dar nome ao livro, reúne os textos que falam de amor e vem do artigo de mesmo nome, em que a autora reflete sobre todas as formas de amor: “Por que os gays ainda assustam? Talvez porque sejam a prova viva de que o amor é um “Pássaro Louco” que ninguém sabe onde vai pousar.”
“As coisas que não existem” – “o que seria de nós sem as coisas que não existem” – e “Família secreta” são um mergulho no universo que lhe é mais familiar, a literatura. Dessa família secreta fazem parte personagens como Emília, a Marquesa de Rabicó, de Monteiro Lobato e os grandes escritores como Marguerite Yourcenar, Clarice Lispector e García Márquez. Leitora voraz, Rosiska perdeu uma biblioteca jogada no mar por quem quis protegê-la da polícia. Celebra os livros que, “verdade das mentiras, são, admite, perigosíssimos”. “Todos os tiranos temem o imaginário porque, se conseguem pela dor e pela tortura controlar os corpos dos inimigos, a imaginação, essa transita soberana e intocável pelos territórios livres do sonho e do pensamento. A imaginação é um território liberado.”
Uma obra imperdível que traz a visão de mundo de uma das maiores pensadoras brasileiras.