Resenha: As Altas Montanhas de Portugal, de Yann Martel – Ambrosia

Resenha: As Altas Montanhas de Portugal, de Yann Martel

aradoxo. Foi isso que eu vivi enquanto lia As Altas Montanhas de Portugal: um paradoxo. Ao mesmo tempo em que eu queria avançar rápido na leitura para saber o que aconteceria a seguir, eu também queria que o livro não acabasse nunca. Eu queria desvendar cada passo dos personagens, e também saborear cada palavra, cada frase. Queria ler, reler, repetir a frase na minha cabeça e ficar pensando sobre ela com um olhar distante. Essas vontades paradoxais são culpa de duas pessoas: do escritor Yann Martel, que criou uma obra instigante, e o tradutor Marcelo Pen, que escolheu belas palavras para trazer a obra à língua portuguesa.
O livro traz três histórias que se passam em três diferentes décadas, mas que de algum modo estão ligadas à região das altas montanhas de Portugal – e estas histórias também estão, de algum modo, interligadas. Encontrar os nós que unem os personagens é a maior aventura e missão do leitor.
Resenha: As Altas Montanhas de Portugal, de Yann Martel – Ambrosia Capa em inglês de “As Altas Montanhas de Portugal”
A primeira história começa em 1904. Tomás sofreu uma tragédia tripla: em um curto espaço de tempo, perdeu a noiva, o filho pequeno e o pai. Desesperado, se lança numa odisseia pessoal: encontrar uma relíquia do século XVII, descrita por um padre jesuíta em seu diário de viagem pela África.
A relíquia, um crucifixo talhado de forma incomum, está em uma igreja nas altas montanhas de Portugal. Para ir até lá, ele pega emprestado um automóvel de seu rico tio – automóvel era novidade e raridade na época. Tomás tem de lidar com a nova tecnologia automobilística, com o desconhecido e o peculiar a cada quilômetro rodado.
A segunda história começa no ano novo de 1939. O doutor Eusébio Lozora está em seu gabinete no hospital quando recebe a visita de sua esposa, com quem compartilha uma vida e o gosto pelos livros de Agatha Christie, e de uma senhora vinda das altas montanhas de Portugal.
Depois de filosofar com a esposa sobre diversos temas, ele vê a senhora que o visita pedir algo chocante: que ele faça uma autópsia no marido dela e, através dos resultados encontrados, lhe conte que tipo de vida o homem viveu. Assim, é contada a trajetória deste finado homem, e também descobrimos algo surpreendente sobre o doutor Lozora.


A terceira história se passa no começo dos anos 80. O senador canadense Peter Tovy está deprimido após ficar viúvo. Em uma visita enfadonha a um centro de estudos de primatas, ele se encanta com um chimpanzé chamado Odo. Peter decide comprar o animal e se aposentar.
Livre e com Odo como companheiro, Peter inicia uma viagem do Canadá para Lisboa, e de Lisboa para a região das altas montanhas de Portugal, na aldeia onde Peter nasceu, e onde pretende viver frugalmente com Odo. A viagem e a nova vida mostram uma adorável relação entre humano e animal.
Yann Martel é também autor de As Aventuras de Pi, adaptado para o cinema em 2012 – um livro que gerou alguma polêmica devido às suas semelhanças com Max e os Felinos, do brasileiro Moacyr Scliar. Com este novo livro, Yann se redime em questão de originalidade, em especial na segunda parte, que bebe de várias fontes e deixa várias pistas pelo caminho, mas que mesmo assim nos pega desprevenidos ao final.
A tradução feita pela Editora Tordesilhas é primorosa. A sensação é de que cada palavra se encaixou perfeitamente no texto após ser escolhida a dedo, para fazer com que a história fluísse e ganhasse significado a cada página, emocionando onde era preciso e fazendo refletir onde necessário.
Lendo As Altas Montanhas de Portugal, consegui facilmente imaginar – e pedi aos céus para que isso se torne uma realidade – a adaptação das três histórias para a televisão. Se feita pela HBO ou pela BBC, com uma hora e meia para cada episódio, mais pessoas poderiam apreciar a genialidade das três histórias entrelaçadas. Obviamente, cada palavra maravilhosamente escrita e traduzida não seria transposta para a tela, por isso, por enquanto, leiam As Altas Montanhas de Portugal, um dos melhores livros que li ultimamente – e provavelmente um dos melhores que lerei em minha vida.

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