Para além do viés oportunista de sua realização, Whitney Houston Live – Her Greatest Performances (CD e DVD) é um emblema de uma das maiores cantoras que o mundo já viu. Emblema principalmente pelo fato de Whitney Houston sempre expressar a inteligência melódica de sua voz em suas apresentações, sempre tão emocionadas e emocionantes. Isso é algo percebido desde a primeira grande performance, aos 18 anos, na já célebre participação no The Merv Griffin Show, onde despontava numa interpretação de singela potência (sim, ela fez isso ser possível) de “Home“.
O álbum também reforça uma percepção que acompanhou a carreira da artista. Seu repertório sempre foi aquém de sua interpretação. Diferente de uma Elis Regina, que sempre aliou sua voz superlativa com um interesse num repertório variado e de inegável qualidade, Whitney descansou na previsibilidade das baladas unidimensionais das décadas de 80 e 90. Por outro lado, compensou muito bem, dando dignidade seminal para hits açucarados como “Greatest Love of All” e “I Will Always Love You“. Assim como a melhor versão do hino americano até hoje, uma interpretação inacreditável de “The Star Spangled Banner“.
Mas o interessante do CD é analisar a destreza e o talento dela em entoar as melodias de suas canções. É impressionante como, para além dos clichês vocais tão representativos da música negra americana, sua influência gospel e o advento crescente das bases do R&B noventista, aglutina catarses vocais de uma beleza incrível como podemos ver claramente em musicas como “A Song For You” (numa vertente diferente mas tão brilhante quanto a versão jazzística de Amy Winehouse em seu álbum póstumo) e no medley “I Loves You, Porgy/ I Am Telling You I’m Not Going/ I Have Nothing“, duma apresentação matadora num American Music Awards, de mais de 10 minutos. Ali, se você tinha qualquer dúvida ou receio de dizer que Whitney Houston foi a maior cantora do planeta, suas respostas estarão no arrepio causado.
Esse álbum, lançado estrategicamente, nos festejos de fim de ano, pode mesmo ter função puramente monetária, mas para os que admiram – mesmo de longe – o legado da artista, veio para reafirmar que a perda que tivemos foi bem mais dramática do que supomos.
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