A música popular tem vivido há anos na base do rebola e senta de novinhas e de paus-duros saídos diretamente da pornografia – a pior forma de se pautar as relações entre as pessoas. Isso tudo acabou por desqualificar o que Mercedes Sosa e Fagner cantavam, lá pelos anos 80: “Porque anos atrás/Tomar tua mão, roubar-te um beijo sem forçar o momento/Fazia parte de uma verdade”.
Mas Mercedes Sosa já morreu e o Fagner também, quando se rendeu ao modelo soft-porno, que é bem mais lucrativo. O que restou, na música brasileira, foram produtores com muitos interesses, dizendo que é o público quem gosta do estilo quanto pior, melhor.
Dito isso, é muito bom ouvir a inspiração brilho nos olhos do Ap22. Você passeia pelo EP Desfragmentado, a cada faixa, e fica não só com a satisfação dos acordes simples e sinceros, mas também com a velha saudade romântica e rock’n’roll de tudo o que não foi.
A faixa Gravitação, por exemplo, tem uma pegada singela e letra idem, tipo: “Se a atração já é real/Vou estudar essa constante”. É muito ensino médio? É muito anos 90?
Meu Dels! Aceitamos enterrar os óculos tímidos do Herbert Vianna e a vibe deprê do Charlie Brown Jr. pra aceitar ser a geração de tiozinhos que caem em golpe do encontro amoroso, no Tinder. Mas por que não as melodias do Ap22, pra curtir encostado na parede do baile, com as metáforas quase adolescentes de quem quis, quase foi, não foi, mas quando foi… sabe lá se rolou?
Só que o pessoal do Ap22 não vive só de balada, e então eles vêm com uma pegada mete o louco, na faixa Solo ressecado. Ah, meus amigos. O mundo está salvo se qualquer banda ainda trouxer referências de Mestre Ambrósio ou de Chico Science e Nação Zumbi – na batida seca, na poética e na letra, para “nunca mais ter que implorar por dó”. Viva Zapata! Ops, não. Viva o Ap22, com a volta da música pra se encantar.
Solange Cavalcante
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