Dois ícones do rock carioca subiram ao palco do Qualistage no último sábado (8). A Blitz, que deu o pontapé inicial no chamado Rock Brasil (ou BRock, ou simplesmente geração 80), Fez em seu Rio de Janeiro natal mais um show da “Turnê sem fim”. Já Lobão João Luiz Woerdenbag Filho, vulgo Lobão, segue em sua turnê celebrando os 50 anos de carreira, inclusive foi o primeiro baterista da Blitz. Foi como se Teatro Ipanema e o Circo Voador no Arpoador, no mítico verão de 1982 aportassem na casa de shows da Barra da Tijuca. O público presente em sua maioria ou viveu a época, ou era criança e cresceu sob a influência dos sucessos de ambos nas rádios, em uma época em que o rock ditava a moda.
A Blitz abriu os trabalhos. Iniciou o show com ‘Blitz Cabeluda’, do álbum de estreia que os catapultou para o sucesso, “As Aventuras da Blitz”, de 1982, seguida de ‘Vai Vai Love’, outra do debut. Avançando para o ano seguinte, vieram os hits radiofônicos ‘Weekend’ e ‘Beth Frígida’, ambos do disco “Radioatividade”, de 1983, para voltar ao ponto de partida com Vítima do Amor’, uma menos conhecida do primeiro trabalho.

A partir de ‘Mania de Você’, de Rita Lee, o repertório passou a se alternar entre músicas da banda e covers de sucessos do rock nacional. Aí que reside a fragilidade do que a Blitz tem apresentado nos últimos anos. A Blitz, além dos sucessos que não podem faltar, possui várias músicas interessantes em seus discos da fase áurea (como ‘Volta ao Mundo’) que poderiam se encaixar perfeitamente no lugar de covers manjadas como ‘Aluga-se’ de Raul Seixas, ‘Beth Balanço’ do Barão Vermelho – ok, uma homenagem aos colegas de Circo Voador no Arpoador -, ‘Óculos’, dos Paralamas do Sucesso e ‘Perdidos na Selva’ da Gang 90. A única música inédita é ‘Ondas da Noite’, que Evandro diz, meio que se desculpando por importunar o público com uma música nova, que é para mostrar que a banda ainda está viva.
‘Biquíni de Bolinha Amarelinho’ é o momento em que a banda mostra o lado mais cartunesco com as meninas caracterizadas, mantendo muito da tradição dos shows dos anos 80. ‘Você Não Soube Me Amar’ e ‘Egotrip’ encerraram a apresentação.
A formação atual da Blitz tem Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy Forghieri (teclados) e Juba (bateria) da formação original. Na função de backing vocals, originalmente ocupada por Fernanda Abreu e Márcia Bulcão, estão Andréa Coutinho (esposa de Evandro, integrando a banda desde 2003) e Nicole Cyrne, que assumiu o posto em 2014. Completam o time Rogério Meanda (guitarra) e (baixo).
Não que a banda erre em apostar na nostalgia, o que é inevitável para veteranos. Apenas poderiam aproveitar mais seus clássicos menos conhecidos e também apostar no poder de fogo das músicas mais recentes, ao invés de recorrer ao que foi consagrado por outros artistas. O legado da Blitz merece essa reverência integral.
Já Lobão procura fazer um revisionismo de sua carreira, não só com os hits, mas também as músicas menos populares. Conhecido por passar alguns anos criticando os colegas de geração por se apoiarem sobre os louros do passado, o sempre polêmico artista mantém seu propósito de mostrar o que produziu além dos êxitos comerciais. Após uma entrada no palco prosaica, como em um show de uma casa de 500 pessoas (e não 9 mil como o Qualistage), iniciou a música ‘Tranquilo’, do álbum “Canções Dentro da Noite Escura”, de 2005. A segunda também foi uma pouco conhecida, ‘A Noite’, do disco “Noite”, de 1998. O primeiro clássico foi ‘O Rock Errou’, do álbum homônimo de 1986, quando a plateia começou a se agitar.

A primeira parte do show privilegia as composições pós-anos 80 como ‘Sozinha Minha’, ‘El Desdichado II’, que ele definiu como uma “autobiografia psicografada”, ‘Mais Uma Vez’, ‘Das Tripas Coração’, ‘A Vida é Doce’. Mas coube também ‘Decadence Avec Elegance’, a oitentista pouco famosa ‘Noite e Dia’, e até uma versão quase punk rock de ‘Disparada’, sucesso na voz de Jair Rodrigues.
Mas o que o povo queria mesmo era um bom baile, e foi a partir de ‘Me Chama’ que começou o desfiladeiro de hits. ‘Revanche’, ‘Vida Louca’ (com direito a uma breve imitação da forma com que Cazuza interpretava a música) e ‘Vida Bandida’ foram cantadas com entusiasmo pelo público, conforme esperado. A essa altura já não havia ninguém mais sentado nos setores de mesas no fundo e nas laterais da casa. ‘Rádio Blá’ encerrou o tempo regulamentar, mas o power trio completado por Guto Passos no baixo e Armando Cardoso na bateria nem chegou a ir para backstage. Lobão anunciou que seguiria direto com o bis e atacou com ‘Eu Sei’, da Legião Urbana, de autoria do “Renato Soviético”, com ele se referiu ao líder da banda Renato Russo. Na sequência, outro cover, agora dos Beatles, uma versão de ‘Help’ puxada para o blues. Voltou para suas próprias composições com ‘Essa Noite Não’ e ‘Corações Psicodélicos’ encerrou a festa
Ficou faltando mesmo um encontro de Lobão com sua antiga banda no palco. Certamente seria um momento memorável. Não foi dessa vez. Mas sem dúvida foi uma noite divertida e nostálgica, mostrando que o poder de fogo do rock nacional dos anos 80 está longe de diminuir.
SETLISTS:
Blitz
- Blitz Cabeluda
- Vai Vai Love
- Weekend
- Beth Frígida
- Vítima do Amor
- Mania de Você (Rita Lee)
- A Dois Passos
- Greg e Sua Gangue
- Reggae São Luís
- Aluga-se (Raul Seixas)
- Geme Geme
- Babilônia Maravilhosa
- Beth Balanço (Barão Vermelho)
- Ondas da Noite
- Óculos (Paralamas do Sucesso)
- Perdidos na Selva (Gang 90)
- Biquini de Bolinha Amarelinha Tão Pequenininho
- Você Não Soube Me Amar
Bis - Egotrip
Lobão
- Tranquilo
- A Noite
- O Rock Errou
- Samba da Caixa Preta
- Decadence Avec Elegance
- Disparada
- Sozinha Minha
- El Desinchaco II
- Mais Uma Vez
- A Vida é Doce
- Das Tripas Coração
- Vou Te Levar
- Por Tudo O Que For
- Noite e Dia
- Me Chama
- Revanche
- Vida Louca
- Vida Bandida
- Rádio Blá
Bis - Eu Sei (Legião Urbana)
- Help (Beatles)
- Essa Noite Não
- Corações Psicodélicos
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