O Call The Police pode ser considerado um cover de luxo, mas não em sentido pejorativo, e sim na acepção literal do termo. Trata-se de um interessante projeto que une dois representantes do Rock Brasil dos anos 80 a seu ídolo, Andy Summers, o guitarrista do The Police. A banda inglesa foi influencia para boa parte daquela geração do chamado BRock, que começava a mostrar sua cara (e seu som) logo depois do antológica apresentação do trio no Maracanãzinho.
Aquele foi o show internacional mais importante da era pré-Rock In Rio. Era uma banda no auge, no calor de seu melhor momento. Diferente de um Frank Sinatra se encaminhando para a terceira idade, visto dois anos antes, e o Kiss já desfragmentado e com popularidade em queda que aportou no ano seguinte.
E os fãs que foram ao Vivo Rio, no Rio de janeiro na noite de ontem, para assistir aos fãs ilustres Rodrigo Santos do Barão Vermelho e João Barone dos Paralamas do Sucesso reverenciando o repertório do Police, com a eminente presença de Summers, não se arrependeu. O Call The Police se configura com Rodrigo nos vocais e baixo (fazendo as vezes de Sting), Barone assumindo as baquetas no lugar de Stewart Copeland e Summers em seu posto cativo.
O clima de ação entre amigos criou uma benéfica descontração, azeitando uma surpreendente química do músico inglês com os colegas brasileiros. Não é nenhum exagero dizer que a apresentação de ontem foi mais empolgante do que o frio show no Maracanã há dez anos, parte da (improvável) turnê de reunião do Police. O entrosamento entre os integrantes que faltou naquela ocasião sobrou no palco da casa de shows da Marina da Glória.
O set abriu com ‘Syncronicity II’ e foi alternando hits como ‘Walking on the Moon’, ‘Spirits in a Material World’ com músicas um pouco menos conhecidas como ‘Hole In My Life’. E muitas jams durante as execuções. Na reta final, o trio embalou uma sequência que levantou o público, que até então se quedava sentado. A inexplicavel composição da pista por mesas e cadeiras (mais adequada para um evento de jazz ou mpb) acabou sendo um convite à preguiça para muitos. Mas àquela altura, até quem parecia mais preocupado com as redes sociais ou com os pedidos aos garçons parece ter se lembrado que aquilo era um show de rock.
A goleada começou com ‘So Lonely’, seguida de ‘Next to You’, ‘Roxanne’, ‘Every Breath You Take’, ‘Message in a Bottle’, ‘Can’t Stand Losing You’ e a saideria ‘Every Little Thing She Does Is Magic’. Ao fim da apresentação a plateia pediu bis, mas a volta da dupla ao palco foi apenas para agradecimentos. Eles bem que tentaram puxar um número extra, mas parece que a estrela da noite quis mesmo dar a festa por encerrada e não retornou.
Rodrigo Santos desempenhou bem o posto de Sting. Ele consegue reproduzir com fidelidade os timbres do vocalista original e possui a mesma destreza no baixo (que podia estar mais bem equalizado). Já João Barone, cuja banda é certamente a mais influenciada pelo Police no rock nacional, desempenha com facilidade as evoluções na bateria de sua contraparte. Até porque, Barone acabou se tornando um baterista ainda superior a Copeland tecnicamente. Daí, a tarefa foi tão simples que ele precisava se conter para não rebuscar em algumas músicas. O equipamento de bateria era bastante similar ao usado pelo Police, incluindo o gongo.
Não foi um repertório muito longo. No total foi aproximadamente uma hora e quarenta de música. Alguns clássicos ficaram de fora (‘Do Do Do Da Da Da’, ‘Wrapped Around Your Finger’ e ‘King of Pain’, por exemplo), mas o intuito era muito mais de celebração do que de emular um show do grupo inglês.
Por coincidência, Sting também estará no Brasil no iníco do próximo mês, para uma única apresentação em São Paulo. Dez anos depois, os fãs têm mais uma chance de conferir o The Police ao vivo, ainda que desagregado. Mas quem optou por prestigiar apenas o show intimista do guitarrista em vez da etapa brasileira da turnê do vocalista e baixista no enorme estádio Allianz Park pode ter levado a melhor.
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