“Ô Chico, está voltando aquela coisa ruim, aquele velho ‘cale-se’”, avisa a cantora, compositora e socióloga Xana Gallo. O retrocesso nos direitos humanos e na liberdade de livre manifestação é o mote de “Roda, Rodou”.
A música, que ganha também um lyric video, marca uma nova fase na carreira da artista gaúcha radicada no Rio de Janeiro. A canção teve produção musical e mixagem de Diogo Strausz (Alice Caymmi, Balako, Aymoréco).
Num diálogo com as músicas “Roda Viva” e “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, o samba de Xana compara a repressão policial nas manifestações de hoje à censura da ditadura. A composição surgiu inspirada pelos primeiros protestos contra a realização da Copa do Mundo, ainda em 2013.
“Acompanhei ao vivo da internet e fiquei em choque, pois não pensei que tamanha repressão e truculência ainda pudessem se dar às claras. Fiquei tão chocada que compus a música. O tempo foi passando e ela foi ficando mais atual. Hoje, mais do que nunca, me assusta a velocidade como estamos todos sendo convidados a calar”, reflete ela.
Uma postura política sempre esteve presente na música de Xana Gallo, mas esse é o momento onde ela explicita ainda mais suas convicções. No primeiro álbum, “Mulheres, Sons, Liberdade” (2014), buscou retratar aspectos da cultura negra e das mulheres de sua cidade, Pelotas, dando voz à compositoras da cena local.
No último ano, Xana lançou “Rota de Fuga”, um relato pessoal de superação de uma série de relacionamentos abusivos pelos quais passou. O álbum, que segue a cronologia de suas relações, aborda desde o seu início, quando muitas vezes se parece com um conto de fadas, até a perda do convívio social e estresse pós-traumático com o fim do relacionamento. Além disso, ela desenvolve também um projeto chamado “CompositorA”, onde cria canções em parceria com mulheres de diversas cidades, que lhe enviam seus manuscritos (poemas, versos soltos, histórias) por meio das redes sociais, alimentando a importância de as mulheres contarem, juntas, sua própria história.
Xana tomou controle da sua própria narrativa, saindo do trauma retratado no seu último álbum, ao se mudar para o Rio. Assim que desembarcou na cidade, ela enviou suas composições para o produtor Kassin, conhecido por seus trabalhos com Caetano Veloso e Los Hermanos, que de imediato gostou de suas canções e lhe abriu as portas do seu Estúdio Marini para que a artista produzisse um EP com Diogo Strausz. Kassin participou tocando baixo em todas as músicas. “Serei eternamente grata ao Kassin, que é e sempre será meu grande ídolo. Um ídolo generoso e acessível”, avalia.
“Com relação ao Diogo, eu fiquei realmente impressionada com a genialidade, criatividade e também fiquei muito satisfeita com seu trabalho, porque ele fez questão de demonstrar que super havia entendido o que eu estava querendo dizer nas músicas. Ele mergulhou de cabeça em cada uma das questões que levantei e trouxe o universo contido nas letras para os arranjos. Um produtor com muita sensibilidade”, afirma Xana.
A faixa conta com uma banda composta Danilo Andrade nos teclados, Stéphane San Juan e Patrick Laplan na bateria, Tadeu Campany (Rio Pandeiro) na percussão e com a participação de Kassin, nessa e nas demais músicas do EP. O engenheiro de gravação foi Mauro Araújo. A mixagem foi feita pelo próprio Strausz, que também tocou guitarra, percussão e baixo em algumas faixas, e a masterização foi feita por Carlos Fuchs no estúdio Tenda da Raposa. “Roda, Rodou” estará presente no novo EP da artista, a ser lançado em 2019.
Ficha técnica
Produção audiovisual: Wilian Vezzaro – Casa Cinco Produções
Voz, letra, melodia e harmonia: Xana Gallo
Participação na melodia e harmonia: Eugênio Bassi
Produção musical e mixagem: Diogo Strausz
Participação especial no baixo: Kassin
Teclados: Danilo Andrade
Bateria: Stéphane San Juan
Percussão: Tadeu Campany
Eng. de Gravação: Mauro Araújo
Masterização: Carlos Fuchs/ Tenda da Raposa