Eram 22h40 de sábado, dia 15 de novembro, quando o Rei Roberto Carlos pisou o palco de um Maracanãzinho lotado, apesar da chuva, para o show que selou seu reencontro com o público carioca após uma longa turnê internacional. O público, porém, já estava aquecido pelo pout pourri regido pelo maestro e compadre Eduardo Lages com grandes sucessos do Rei.
Com habilidade, domínio de seu oficio e presença de palco, o Rei RC iniciou os trabalhos com um de seus grandes hits, “Emoções”. Seguiu com “Eu te amo, te amo, te amo” e emendou com Além do Horizonte” e “Ilegal, Imoral ou Engorda”. Daí por diante, o jogo estava ganho, a passagem já estava comprada e o destino selado. A viagem foi interior rumo às memórias infantis e o motorista pilotava um reluzente cadillac.
Alguns podem dizer que os shows de Roberto Carlos são sempre iguais e que têm uma fórmula. Mas, aos olhos do debutante, nada era igual. A TV nunca mostrou, de fato, quem é Roberto Carlos. Essa impressão só se pode ter ao vivo e em cores. A figura do Rei impressiona a homens e a mulheres de todas as idades, independente do estado civil, etílico ou febril. Ao meu lado, um casal sexagenário vibrava praticamente em uníssono. Ela ligeiramente mais empolgada. Ele, rindo e feliz.
A quinta canção do show, “Detalhes”, fez o Rei mudar um pouco a vibe da plateia. A luz de cena diminuiu, o tom de voz baixou e Roberto empunhou seu violão. O lado romântico do Rei falou mais alto e o público vibrou. Com o gesto de beijar o violão, Roberto Carlos finalmente deu sentido à expressão “mulher violão”.
A romântica “Detalhes” era o mote para o Rei emendar mais uma das suas falas que entremearam o show e seguir para a próxima música. “Chegou num momento da minha carreira que percebi que ainda não tinha falado de sexo”. Ele, então, cantou “Desabafo”: “Porque é que eu rolo na cama. E você finge dormir. Mas se você quer eu quero e não consigo fingir.” No final da música, arrematou: “O relacionamento dá certo mesmo quando ELAS querem”. Foi um delírio na plateia.
O repertório do show foi do amor, ao sexo, passando por cadillacs, calhambeques, e chegando à parte religiosa da carreira de RC com as tradicionais “Jesus Cristo” e “Nossa Senhora”. Não poderia faltar também “Lady Laura”. Nesta hora, o Rei se emocionou. “Essa pessoa eu amo cada dia mais”, disse referindo-se à mãe, falecida em 2010. “Negro Gato”, música que Roberto ficou anos sem cantar, gravada também por grandes intérpretes como Luiz Melodia, poderia ter faltado se fosse tempos atrás. Mas agora é obrigatória. Afinal, a demanda reprimida foi grande.
Roberto Carlos é um dos maiores artistas do mundo, inegavelmente. Seja por sua voz, seja por seu jeito, por seu estilo, por suas letras ou mesmo por sua humildade e bom humor. O momento em que apresenta a banda é, por que não, um dos pontos altos do show. Para todos os seus músicos, classificados por ele como “entre os maiores do mundo”, havia uma palavra de carinho ou uma história curiosa, como a do percussionista Dedé, seu ex-secretário. ” Dedé um dia chegou pra mim e disse queria ser meu percussionista, mas não era por causa de grana, disse Roberto, rindo e provocando risos”. Compadre do Rei, o maestro Eduardo Lajes, cumpre muito bem desde 1977 a função que já foi do falecido maestro Edson Frederico. Lages comanda e conduz com muita discrição e zelo todos os músicos da big band de Roberto Carlos. Os olhares e a cumplicidade entre ambos falam por si e se refletem no palco. Falar de olhar e cumplicidade, aliás, remete a uma declaração de Roberto Carlos alguns anos atrás relacionada ao cantor Tito Madi. “Vou gravar um disco Roberto Carlos interpreta Tito Madi”. Os fãs não perdem por esperar. Mas até quando?
Chegado o final do show, que nem os problemas de som no Maracanãzinho atrapalharam, resta a pergunta: “Quando será a próxima oportunidade do público carioca ter o prazer de ver e ouvir Roberto Carlos ao vivo?” Ao menos o especial de fim de ano da TV Globo, que este ano completa 40 anos no ar, está garantido. Então, sintonizem no Rei e vamos em frente no calhambeque!
EMOCIONADA! Esse é o sentimento aflorado ao longo dessa leitura. Como fã desse cantor único, trago em minha vivência, seus poemas, cantados com a afinação que lhe é peculiar.
Mito, carismático, envolve o seu público… é impossível descrever a beleza de seus shows.
Luzes, orquestra…tudo é minuciosamente organizado.
O Maestro Eduardo Lages harmoniza as notas musicais que saem de cada instrumento e também do talentoso coral. Tudo é perfeito… principalmente a cumplicidade. Ali se vê a perfeição dos profissionais que desempenham o melhor de si para a plateia. BRAVO!!!