CríticasMúsicaShows

Eric Clapton ministra uma bela aula de blues rock no Rio

Compartilhe
Compartilhe

Eric Clapton está de volta ao Brasil com sua nova turnê. Foram longos 13 anos de espera, alguns até arriscavam a possibilidade não vê-lo novamente por aqui. Mas cá está ele, prestes a lançar um novo álbum, e iniciou a etapa brasileira com um show em Curitiba, e na noite de ontem (26) lotou a Farmasi Arena, no Rio de Janeiro para encantar seus fãs (ou seriam súditos?) com seu blues rock.

Depois de um show de abertura luxuosíssimo do americano Gary Clark Jr., o britânico, chamado de Deus pelos fãs mais fervorosos, entrou no palco pontualmente às 20h59 (o show estava marcado para as 21 horas) acompanhado por sua banda, e sem nenhum tipo de pompa ou firula, iniciou o icônico riff de ‘Sunshine of Your Love’, de sua antiga banda, o Cream. Apostando na simplicidade de cenário, deixando a complexidade apenas para os solos de guitarra, o palco conta apenas com algumas luminárias, o que dava também um ar “classudo”. O baile seguiu com o cover de Charles Segar ‘Key to the Highway’ e ‘I’m Your Hoochie Coochie Man’, de Willie Dixon. ‘Badge’, outro cover do Cream, arrancou aplausos efusivos da plateia.

Clapton trocou a guitarra pelo violão e o show assumiu um aspecto mais intimista com os músicos e as backing vocals sentados, uma iluminação de clube de blues. Esse set iniciado por ‘Kind Hearted Woman’, blues de Robert Johnson acompanhado com palmas ritmadas do público, trouxe os grandes sucessos radiofônicos dos anos 1990 ‘Change the World’ e ‘Tears In Heaven’, que, com esperados, foram as que contaram com o maior coro do público da noite. Na última, homenagem ao filho Conor, morto em 1991 depois de cair do 53º andar do edifício Galleria, em Nova York, Clapton erra a letra e atravessa o andamento, mas a plateia compreensiva e emocionada o aplaude. Deus também pode errar.

Com a guitarra elétrica de volta em punho, ‘Got to Get Better in a Little While’ abriu a reta final da apresentação, recheada de solos vigorosos extasiando os fãs. Na faixa seguinte, ‘Old Love’, ouve até um solo de órgão que emulava exatamente um solo de guitarra. Depois de ‘Cross Road Blues’ e ‘Little Queen of Spades’, veio o gran finale com ‘Cocaine’, a música mais esperada do repertório. No bis, Clapton chamou Gary Clark Jr. ao palco para se juntar à banda em ‘Before You Accuse Me’. Um encerramento para fã de virtuose nenhum colocar defeito.

No estilo pouco papo e muita música, Clapton pouco se dirigiu ao público. Nada de declarações de amor ao Brasil ou bandeira nacional sendo agitada. Foram apenas uns dois agradecimentos (um deles um “obrigado” em português) e de resto deixava sua guitarra dar o recado. O setlist apresenta bastantes versões de blues de outros artistas. O músico tem como prioridade exaltar a história do blues, ministrando uma verdadeira aula sobre o gênero que o formou. Vale lembrar que apesar de se posicionar contra imigração na Grã-Bretanha nos anos 70, apoiando um ministro declaradamente racista e xenófobo, Clapton sempre lutou para tirar bluesmen negros do ostracismo, entre eles o próprio B.B. King. É o clássico caso de como o ser humano pode ser controverso muitas vezes. A outra prova disso foi a guitarra com as cores da Palestina em um silencioso apoio à região sofrendo com a guerra, alguns anos depois de ter se manifestado contra a vacina em meio à pandemia da Covid-19.

Nesse show, foram deixados de fora os sucessos ‘Layla’ e ‘Wonderful Tonight’. Ambas eram músicas em homenagem a Pattie Boyd, esposa do amigo e ex-beatle George Harrison, no fim dos anos 1960, por quem Clapton nutria uma paixão até finalmente se casar com ela. A ausência da primeira foi mais sentida pelo público, que gritou por ela na volta para o bis e depois enquanto a banda se despedia, na esperança de ter o pedido atendido, mas não houve sucesso.

Sem sombra de de dúvidas Eric Clapton é um dos maiores guitarristas vivos e poder vê-lo ao vivo em plena forma aos 79 anos é um indiscutivelmente um privilégio. E sim, você foi maravilhoso essa noite, Clapton.

Setlist:

  1. Sunshine of Your Love
  2. Key to the Highway
  3. I’m Your Hoochie Coochie Man
  4. Badge
  5. Kind Hearted Woman Blues (Acústico)
  6. Running on Faith (Acústico)
  7. Change the World (Acústico)
  8. Nobody Knows You When You’re Down and Out (Acústico)
  9. Tears in Heaven (Acústico)
  10. Got to Get Better in a Little While
  11. Old Love
  12. Cross Road Blues
  13. Little Queen of Spades
  14. Cocaine
    Bis:
  15. Before You Accuse Me

*Fotos: Carlos Elias Junior/Divulgação

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos

Ced apresenta show autoral em São Paulo

No próximo domingo (13), às 20h, o cantor e compositor franco-brasileiro Ced...

Rebelião biotecnológica em Nano Apostle

Em meio a uma guerra cujo motivo e os envolvidos não sabemos...

Ellen Oléria canta Nina Simone na Casa de Francisca

Ellen Oléria faz a sua estreia no palco da Casa de Francisca...

De casa para os palcos: Família Brasileiro apresenta show inédito em Curitiba

Com repertório autoral e grandes sucessos da música brasileira, pai e irmãos...

Cantor Leonardo é incluído na ‘lista suja’ do trabalho escravo pelo governo

Leonardo, sertanejo conhecido por sucessos dos anos 1990, foi incluído na chamada...

Leo Schiappadini aposta em um pop no single “Lado Bom”

Leo Schiappadini faz um som influenciado pelo indie pop e pela MPB...