Britney Spears é uma daquelas artistas pop que dão a impressão de que em algum momento darão uma guinada na carreira e surpreenderão a todos fazendo algo totalmente diferente, algum trabalho de vanguarda, que traga algo mais do que o pop feijão-com-arroz. Ainda não foi dessa vez. Seu novo álbum, “Glory” (RCA, 2016) é uma mesmice só. Como era de ser esperar de um lançamento da diva, é superproduzido. Porém o excesso sentido nas 12 faixas acaba gerando um certo enfado por tanto entulho sonoro e vazio. A faixa ‘Invitation’, que abre os trabalhos, já deixa isso bastante claro.
E o disco segue exatamente da mesma forma: muito balanço, pouca ousadia. Em 2009, com o álbum “Circus”, a ex-integrante do Clube do Mickey parecia ter encontrado seu caminho, depois da virada good girl gone bad em “Britney”, de 2001, e das loucuras e escândalos em que passou a se meter. Aquele trabalho de 7 anos atrás apontava para uma direção interessante, dando-nos a falsa impressão de que a cantora enveredaria por uma linha mais consistente de música pop.
A frustração veio no pouco inspirado disco seguinte “Femme Fatalle”. E agora, com esse novo trabalho, eivado de composições opacas, fica claro que “Circus” fora apenas um lampejo. Parece que foi ontem, mas “Baby One More Time” já tem 17 anos, e a cantora completa 35 em novembro. Como veterana que já é, tem a preocupação de se manter up to date, daí a necessidade de produzir músicas para fazer bonito nas pistas.
Lady Gaga, por exemplo, sabe dialogar com o contemporâneo sem se esquecer da importância do passado. Une o pop e a vanguarda em uma instigante receita que, de tão verdadeira, não tinha como dar errado. Ouça a segunda faixa de “Glory”, ‘Make Me’, por exemplo. É Britney, mas poderia ser…Nicki Minaj, Ke$ha, ou a novata Bebe Rexha. A faixa (como as demais do disco) simplesmente não tem personalidade. Em alguns momentos do álbum até se nota a intenção de experimentar, mas só até certo ponto. Fica aquela sensação de que faltou coragem para ir além.
Se for escolher algumas em que se possa observar algum esforço criativo, podem ser ‘Private Show’, ‘Man On the Man’ e ‘Just Like Me’, mas, ainda assim, passam longe do brilhantismo. Os momentos que beiram o constrangimento ficam por conta de ‘Just Luv Me’, ‘Slumber Party’. As músicas que fecham o álbum, ‘Hard To Forget Ya’ e ‘What You Need’, são divertidas, sendo que a última até remete um pouco ao clássico absoluto ‘Toxic’. A essa altura, não é preciso dizer que nesse álbum nenhuma das faixas tem cacife para figurar ao lado da faixa do álbum “In The Zone” como clássico da carreira da cantora e da música pop.
Britney Spears deveria seguir os passos de sua mentora Madonna e procurar se reinventar a cada álbum. Acomodando-se no mais do mesmo, corre sério risco de perder de vez o cetro de diva pop.
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