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Marisa Monte traz raridades e velhas novidades em “Coleção”

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O novo disco de Marisa Monte, “Coleção” (Phonomotor/Universal Music, 2016), é de certa forma uma novidade, mas não é um trabalho de estúdio com inéditas. É uma coletânea, mas também não é um Best of como ela gosta de deixar bem claro. É um apanhado de pérolas que a cantora, vasculhando em seu arquivo, foi coletando até constituir seu disco de fim de contrato com a EMI, hoje englobada pela Universal. Neste contrato, firmado há 15 anos, constava que a cantora deveria lançar uma coletânea, mas a ideia de compilação convencional, com os maiores sucessos não lhe apetecia.

Hoje com streaming nos computadores e celulares, um disco físico com algumas músicas que podem ser facilmente baixadas ou ouvidas em tempo real de fato não faz muito sentido. Mas um belo playlist contando com participações especiais, músicas pouco lembradas, ou que foram gravadas em discos de outros artistas ou projetos é sem dúvida muito mais interessante.

“Coleção” é definido como um baú de memórias musicais e afetivas. São colaborações para trilhas sonoras, duetos ou gravações ao vivo reunidas em um único disco. O projeto especial abre uma espécie de arquivo de sua carreira. “Essas gravações e as parcerias que elas proporcionaram foram fundamentais na minha trajetória e influenciaram toda a minha produção solo. São canções que me orgulham muito, que estou assinando embaixo novamente”, diz a cantora.

Marisa, desde o começo dos anos 1990, quando despontou como a maior revelação feminina da MPB, sempre teve um toque de Midas. Tudo o que tocava virava sucesso, até mesmo a brincadeira entre amigos chamada “Tribalistas”. O projeto nada mais era do que um apanhado de músicas despretensiosas que compunha com seus parceiros Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown no intervalo de gravações que, quando viram a luz, se converteram em um grande êxito comercial.

O grande trunfo da artista é justamente saber tão bem ser sofisticada e acessível ao mesmo tempo, e essa sua característica é evidenciada nas 13 faixas da coletânea, em que relembramos algumas canções já velhas conhecidas como a parceria com Paulinho da Viola em ‘Carinhoso’ e o arrepiante dueto com David Byrne em ‘Waters of March’, do projeto Red Hot + Blue. ‘Nu Com A Minha Música’, que abre o disco, muitos creem ser inédita, mas é na verdade uma versão de uma composição de Caetano Veloso, que a cantora interpreta junto com o inglês fã de música brasileira (sobretudo tropicália) Devendra Banhart e o Hermano Rodrigo Amarante. A canção fez parte do Red Hot + Blue de 2011.

Nesse garimpo do seu arquivo, Marisa encontrou a bela ‘Alta Noite’, parceria com seu companheiro de longa data Arnaldo Antunes que fora lançada no disco “Cor de Rosa e Carvão”, grande sucesso de vendas de 1995. Eivada de lirismo, a música quase não é lembrada quando se fala neste trabalho. O disco apresenta outras participações internacionais além de Byrne e Banhart. ‘É Doce Morrer No Mar’ de Dorival Caymmi traz a cantora dividindo os vocais com a cantora do Cabo Verde Cesaria Evora.

‘Ilusão’, um dos melhores momentos do disco, é um registro ao vivo do encontro com a californiana Julieta Venegas; há também ‘Chuva No Mar’ com a cantora portuguesa Carminho e ‘A Primeira Pedra’ com o argentino Gustavo Santaolalla. E na compilação não poderia faltar a presença da velha guarda da Portela, escola de samba de coração da cantora, que aparece na faixa ‘Volta Meu Amor’.

Vale lembrar que, apesar de não serem gravações inéditas, as músicas foram remixadas, e até houve regravação de vozes. No fim, “Coleção” é um olhar pessoal da artista sobre sua obra, criando uma interessante narrativa. Certamente atingiu o objetivo pretendido pela artista de mostrar com didatismo os matizes do trabalho de Marisa Monte muito além dos sucessos radiofônicos. Uma ousadia assim ,nesses dias em que discos físicos têm vendas quase irrelevantes, só mesmo para uma artista deste quilate.

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