Depois de um hiato de quatro anos o Megadeth voltou às terras cariocas. A banda de trash metal, que faz parte do chamado Big Four (os quatro grandes do gênero junto com Metallica, Slayer e Anthrax), vem com bastante regularidade ao Brasil. Mas no Rio de Janeiro a última vez foi quando abriu o show do Black Sabbath em 2013. O Megadeth é o grande nome do metal que veio ao país com mais frequência. Desde a avassaladora estreia no Rock In Rio de 1991, foram quinze vezes contando com a atual passagem por Rio e São Paulo (onde tocaram na noite anterior). Assim, a trupe de Dave Mustaine supera com folga o considerado “arroz-de-festa” Iron Maiden (que veio onze vezes) e os “desafetos” do Metallica (sete).
Já se vão 34 anos desde que Mustaine foi expulso do posto de guitarrista da banda de James e Lars (sendo substituído por Kirk Hammet, até hoje na banda) e começou sua empreitada no Megadeth. De lá para cá construiu reputação na cena metal e conquistou fãs ardorosos, inclusive no Brasil onde são sempre calorosamente recebidos, justificando a assiduidade. E na noite de ontem (1/11), véspera de feriado, uma massa fiel compareceu ao Vivo Rio pouco se importando (ou nem se lembrando) dos dois grandes eventos que aconteciam na cidade: a decisão das quartas de final da Sul-Americana entre Flamengo e Fluminense no Maracanã, e o show do Green Day lá do outro lado da cidade, na Barra.
Foi uma apresentação não muito longa (pouco mais de uma hora e meia), com o som da casa deixando a desejar, mas com muita entrega em retribuição à paixão da plateia devota. Essa nova passagem do Megadeth pelo Brasil faz parte da etapa 2017 da turnê do último álbum, “Dystopia”, lançado em janeiro de 2016. A turnê já havia passado por aqui em agosto do ano passado. Na ocasião foram shows em São Paulo, Brasilia e Fortaleza.
Poderiam muito bem ter aberto com uma música desse (bom) novo disco. No entanto, como de costume, a pedrada ‘Hangar 18’ foi o “boi-de-piranha”. A execução da faixa do clássico absoluto “Rust in Peace”, de 1990, foi um pouco prejudicada pelo som embolado do início da apresentação, Mas foi acompanhada em uníssono pelo animado público. Alguns fãs puderam acompanhar o show do palco. Só que, ao contrário do show do Metallica de 2015, eles só puderam permanecer ali durante as três primeiras músicas.
A segunda da noite é que foi tirada de “Dystopia”, a faixa ‘The Threat is Real’. A grata surpresa é que foram quatro composições do álbum tocadas no show do Rio, contra apenas duas em São Paulo e no Chile. Empatou com “Rust In Peace” em número de músicas. Além de ‘Threat’, apareceram ‘Conquer or Die’, ‘Lying in State’ e a faixa-título. Ainda assim, como era de se esperar, o setlist se concentrou na fase áurea da banda, que vai do álbum “Peace Sells” (1986) – dele constou ‘Wake Up Dead’ e a faixa-título – a “Countdown to Extinction” (1992) – do qual saíram as essenciais ‘Skin O’ My Teeth’, ‘Sweating Bullets’ e ‘Symphony of Destruction’ .
O repertório também contou com uma faixa do álbum de 1995, “Youthanasia” (o rock de arena ‘A Tout Le Monde’), uma de “Cryptic Writings”, de 1997 (‘Trust’) e até uma do debut “Killing is My Business”, de 1985 (‘Mechanix’). Assim como na abertura, o encerramento do show ficou a cargo de uma faixa de “Rust In Peace”, a épica épica ‘Holy Wars’.
Essa foi a estreia no Rio da nova formação do Megadeth. Além de Mustaine e do baixista David Ellefson, ambos da formação original, agora fazem parte o baterista belga Dirk Verbeuren e a prata da casa Kiko Loureiro, ex-Angra. O brasileiro se mostrou uma boa aquisição. Seu alto nível técnico já é amplamente conhecido. Embora vindo do power/prog metal, seu estilo se encaixou perfeitamente dentro da proposta sonora do novo trabalho. E nos clássicos ele não deixa nem um pouco a desejar, executando-os com segurança e fidelidade.
Também com técnica apuradíssima é Verbeuren, que forma com Ellefson uma eficiente cozinha. Mas o Megadeth não seria o que é sem a presença de palco e o carisma de Mustaine, que permanecem intactos à frente da banda após essas mais de três décadas e inúmeras formações. Além do pleno domínio de sua guitarra (que toca com uma presteza que faz até parecer fácil), a voz ainda não está totalmente prejudicada. Não é mais a mesma – o tempo não joga a favor de nenhum vocalista de rock – mas o que se ouve ainda é satisfatório. E a duração do show não muito longa também ajuda a poupar o desgaste. O mascote Vic Rattlehead também marcou presença, tal qual Eddie do Iron Maiden, subindo ao palco em dois momentos.
O Megadeth pode contar com um séquito de seguidores consideravelmente menor do que o do Metallica (embora tão fiéis e apaixonados quanto), mas a relevância de ambos na cena metal pode até ser equiparada. Mustaine nunca teve a ambição de seus ex-companheiros de transformar o negócio em uma S.A. O foco está mesmo na sonoridade e no compromisso com os fãs. O que já é suficiente.
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