Conhecido por fazer mais de mil capas de discos, inclusive as do Legião Urbana e RPM, o autor levou 9,5 anos para narrar sua relação com HQs em graphic novel
O destino tirou o carioca Ricardo Leite da carreira de promissor desenhista de histórias em quadrinhos para transformá-lo em um dos designers mais respeitados e conhecidos do país. Principalmente na área musical, onde se consagrou ao longo de 40 anos por ter feito mais de mil capas de discos – inclusive de bandas como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Biquini Cavadão e artistas como Erasmo Carlos e Zé Ramalho. Até que, em fevereiro de 2013, após visitar o Museu Hergé (criador do herói juvenil Tintin), Leite decidiu fazer uma graphic novel para contar sua paixão pelos quadrinhos.
O resultado é a já celebrada autobiografia em quadrinhos Em busca do Tintin Perdido, que levou 9,5 anos para ficar pronta. Marco dos quadrinhos brasileiros e acompanhada com ansiedade por milhares de seguidores nas redes sociais ao longo de anos, finalmente a obra sai em álbum de luxo com capa dura simultaneamente na França e no Brasil – onde Leite escolheu a Editora Noir para ter a honra de capitanear uma narrativa tão pessoal pela afinidade que tem com sua linha editorial. No próximo ano, ganhará edição holandesa.
Em Busca do Tintin perdido associa um desenho digno dos maiores mestres, composições gráficas renovadas incessantemente e um relato inventivo e original. Na apresentação da edição francesa, o estudioso de HQ Olivier Roche destaca que o álbum é uma referência explícita ao romance de Marcel Proust e, como “fantasia autobiográfica”, quer ser uma reflexão psicológica sobre a arte dos Quadrinhos, a memória e o tempo. Três eventos – um encontro faltoso da infância com Hergé nos anos 1970, um golpe do destino em 3 de março de 1983 e uma emocionante viagem à Bélgica para uma visita a Bruxelas e ao Museu Hergé em 2013 – conduziram o autor a tecer os fios de uma grandiosa homenagem à arte mundial dos Quadrinhos.
Para Olivier Roche, Ricardo Leite leva o leitor a viajar pelos universos simbólicos e culturais que o encantaram ao longo de sua vida. Ele desvela uma relação semirreal e semionírica com Hergé, seu mundo e sua obra, em particular As Aventuras de Tintin. “Ele nos propõe um permanente diálogo imaginário (sobre a arte, a técnica e a história dos Quadrinhos) com os grandes criadores, por vezes baseado em encontros reais ou inspirados por numerosas leituras”, comenta Roche.
No final do volume, um glossário permite ao leitor reencontrar, página a página, os autores e personagens representados na obra e, em particular, partir para a descoberta do muito pouco conhecido Quadrinho sul-americano.
Quem é Ricardo Leite?
Nascido em 3 de março de 1957, Ricardo Leite é brasileiro e mora no Rio de Janeiro. Ilustrador, artista gráfico, designer, CEO da agência de comunicação Crama Design Estratégico, tem desenvolvido vários projetos para marcas brasileiras e internacionais. Nos anos 70 e 80, publicou diversos gibis. Ele também assinou centenas de capas de álbuns para grandes artistas da música brasileira. Colecionador de arte e de quadrinhos, seu sonho sempre foi tornar-se um autor de HQ. Cerca de dez anos atrás, esta paixão pela nona arte levou Ricardo Leite “a procurar o Tintin perdido”. Este trabalho, que é amplamente seguido nas redes sociais, lhe rendeu a insígnia de Cavaleiro da Ordem da Coroa do Reino da Bélgica (Decreto Real de 20 de janeiro de 2021).
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