Não podia ser diferente. O show tributo a Rita Lee, feito por seu filho Beto Lee no Rio de Janeiro, no último sábado (8), foi carregado de emoção. O projeto nasceu quando Rita ainda estava viva, mas já aposentada há alguns anos e bastante debilitada. Era o pós-pandemia. O show, à época chamado de Celeebration, deveria começar a rodar pelo Brasil em 2020, mas só foi possível em 2022. Os vídeos eram enviados à Rainha do Rock Brasil, que dava bênção, mas também alguns palpites, segundo Beto.
“Estava eu lá, na doce vidinha no mato cercada de bichos e plantas, quando meu filho Beto telefona pedindo minha bênção para montar um show com hits dos meus 50 anos de estrada musical. Pensando bem, ninguém teria melhor background para tal projeto, uma vez que ele tocou comigo por treze anos e sabe como ninguém como era conviver com seus pais dentro e fora do palco. Além de pilotar a guitarra com maestria e conhecer todos os arranjos originais. Na mesma hora, lembrei do Beto com seus cinco anos se desvencilhando dos seguranças e invadindo o palco do Maracanãzinho com sua guitarrinha de plástico fazendo a coreografia ‘duck walk’ de Chuck Berry. Deusbençoe, Beto”, disse Rita na época.
A apresentação no Qualistage foi a primeira na ausência de Rita e justamente no dia em que completaram dois meses de seu falecimento. Mas estavam todos lá para celebrar a obra que perdura, e além da banda formada por Beto, Débora Reis nos vocais, Danilo Santana nos teclado, Edu Salvitti na bateria e Rogerio Salmeron na guitarra e a presença mais que ilustre do ex-Tuttti-Frutti Lee Marcucci no baixo, ele que acompanhou Rita Lee & Roberto de Carvalho em vários espetáculos. Tudo adornado pela Orquestra Sinfônica Villa Lobos regida pelo Maestro Adriano Machado.
A abertura se deu com uma imagem de Rita Lee e seus cabelos vermelhos, da última fase da carreira e a faixa ‘Nem Luxo, Nem Lixo’, do álbum de 1980 que levava o nome da roqueira, mas muita gente chama de “Lança Perfume”. A segunda música foi outra do repertório do disco, ‘Baila Comigo’, outro megahit do comecinho dos anos 80.
O show ainda contava com a participação especialíssima de Fernanda Abreu, que subiu ao palco pela primeira vez para executar ‘Saúde’ e em seguida ‘Ovelha Negra’. ‘Panis et Circensis’ e ‘Ando Meio Desligado’ formaram o segmento dedicado aos Mutantes. Inclusive Fernanda usava uma bata com uma foto de Rita daquele período estampada. ‘Mania de Você’ foi acompanhada com o coro da plateia assumindo o protagonismo.
O setlist obviamente é focado nos clássicos como ‘Jardins da Babilônia’, ‘Doce Vampiro’, ‘On The Rocks’, ‘Banho de Espuma’, ‘Chega Mais’. As execuções das músicas priorizam a fidelidade, sem muitas alterações. Menos conhecida do público geral, ‘Coisas da Vida’ é uma inclusão que partiu de Beto Lee. Ele lembrou que a faixa do álbum “Entradas e Bandeiras”, de 1976 (terceiro da fase Tutti-Frutti), nunca mais saiu do repertório dos shows da mãe depois da bela versão que ganhou no Acústico MTV, de 1998. Já o rockão ‘Ôrra Meu’ teve Lee assumindo os vocais.
Fernanda Abreu voltou ao palco para dividir os vocais com Debora em ‘Agora Só Falta Você’ e ‘Lança Perfume’, com a plateia liberada para ficar de pé (o show foi com mesas e lugares marcados), quando o Qualistage virou o baile que poderia ter sido a apresentação inteira.
Foi uma bela homenagem a um nome de peso da nossa música, como a banda já vinha fazendo, sendo que agora ganhou um novo significado. Débora Reis, que foi backing vocal da banda de Rita Lee por mais uma década, até a última apresentação da rainha do rock brasileiro nos palcos, em 2012, mostra-se bastante confortável à frente do palco. A intenção não é imitar a antiga mestra, mas manter uma familiaridade sonora para que a conexão com a plateia aconteça como esperado. A banda afiadíssima e a orquestra acrescentando um tempero especial completam a receita que fazem desse show a melhor forma de celebrar o legado da Rita Lee.
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