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Sem novidades, Pixies apostam em sua fórmula clássica em “Head Carrier”

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O Pixies é, incontestavelmente, a banda mais amada por dez entre dez indies do mundo inteiro. Sua volta, em 2004, com a formação original causou verdadeiro furor no meio underground, e nos trouxe uma vitoriosa turnê mundial, que passou pelo Brasil. A empreitada se repetiu anos mais tarde, quando a banda retornou ao Brasil para um show na primeira edição do festival SWU, em 2010. Essa popularidade, contudo, não foi instantânea. Nenhum disco do Pixies vendeu milhões de cópias. O status foi construído ao longo dos anos, quando o mito só crescia e uma legião de fãs ia se ampliando com a entrada de novos adeptos.

Os quatro discos da fase clássica (já podemos chamar assim já que a banda já está em seu segundo disco pós-término) são verdadeiros tratados indie. “Come On Pilgrim”, “Surfer Rosa”, “Doolittle”, “Bossa Nova” e “Trompe Le Monde” são obrigatórios para qualquer um que se julgue amante do rock. Tudo indicava que o Pixies fosse se quedar no mesmo hall de lenda que Beatles e The Smiths. Aquelas bandas que duraram pouco, pararam no auge e, por isso, criaram toda uma aura mitológica em torno de seus nomes.

Ok, a turnê de reunião fez a alegria de muitos fãs e a volta ao estúdio gerou ansiedade. Mas fica a pergunta: precisávamos de um Pixies século XXI? Não seria melhor se, de repente estivéssemos aqui, hoje, em 2016, ouvindo os discos clássicos e discorrendo sobre o quão perfeita era a banda. Chega ao mercado, junto com o mês de outubro, “Head Carrier” (Pixies Music/2016), o segundo disco da nova fase da banda americana de Boston. O novo trabalho está longe de ser ruim, mas soa a maior parte do tempo um tributo ao passado.

Uma parte da letra da faixa título, que abre o disco, é sintomática. Nela Frank Black canta “It’s deja-vu it’s not like I planned, Looks I’m going where I’ve already been” (É deja-vu, não é como eu planejei, parece que eu estou indo onde eu já estive). Seria um mea culpa, ou exercício de auto-crítica de Black? A formação continua a mesma do disco anterior, que veio ao Lollapalooza de 2014, com Black (guitarra e vocal), Joey Santiago (guitarra), David Lovering (bateria) e a argentina Paz Lenchantin substituindo (a insubstituível) Kim Deal no baixo e vocal.

O disco em momento algum foge da fórmula que os consagrou. Rocks diretos, guitarras altas e distorcidas, influência da surf music e pitadas de psicodelia. Head Carrier é um disco que vai direto ao ponto, com 12 faixas em 33 minutos, sem diminuir o ritmo. Black mostra que, apesar de não apresentar novidade, ainda domina a construção de melodias, como ‘Classic Masher’, ‘Oona’ e ‘Talent’. Mas é impossível não sentir falta de Kim Deal quando ouvimos a voz feminina dividindo com Black (como em ‘Bel Spirit’), ou assumindo a liderança, como em ‘All I Think About You’ (que tem um início que remete a ‘Wher’s My Mind’). Não que Paz chegue a comprometer, mas a forte personalidade da antecessora (na verdade um reflexo da vida pessoal, um dos motivos do rompimento com Black) é uma lacuna que não foi preenchida e diminuiu a força dessa nova fase da banda.

Se não é perfeito pela autoindigência e por não trazer nada de novo, “Head Carrier” ainda assim é um bom disco de rock, com composições interessantes e vale a audição, sobretudo para os fãs de longa data. O problema é que o estilo Pixies de se fazer rock foi tão amplamente copiado ao longo desses anos que o impacto da volta foi bastante reduzido. Mas ainda assim, é uma das bandas mais importantes, não só da cena indie, mas do rock em geral dando uma chance para acompanharmos mais um pouco em tempo real. Mas seria ainda mais romântico se ficássemos com a lenda.

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