Quando foi anunciada a turnê de reunião dos três membros principais do Guns N’ Roses, houve a expectativa também para o lançamento de um álbum de inéditas. No entanto, isso deve levar um certo tempo, a julgar pelo famigerado “Chinese Democracy” (que levou quatorze anos para ficar pronto). Daí, Slash resolveu retomar a sua bem sucedida parceria com Myles Kennedy. “Living the Dream” é a quarta colaboração do Myles Kennedy & the Conspirators com o homem da cartola.
O disco abre com o rockão à moda antiga (leia-se anos 90) ‘The Call of the Wild’. Assim como nos dois álbuns anteriores, é uma entrada vigorosa, dando o tom do trabalho. A faixa é seguida de ‘Serve You Right’ e ‘My Antidote’ mantendo a coesão, embora não sejam memoráveis. ‘Lost Inside the Girl’ poderia ser facilmente um lado b de single ou sobra de estúdio do Velvet Revolver, a segunda banda mais bem sucedida em que Slash esteve (que reunia os parceiros de Guns Duff McKagan, Matt Sorum e o ex-Stone Temple Pilots Scott Weiland). Nela, temos todo aquele excesso de notas pentatônicas, marca mais que registrada do guitarrista. Alguns críticos atacam, mas o povo ama. O solo no meio de ‘Read Between the Lines’ também vai arrancar sorrisos (e “air guitars”) dos fãs de primeira hora.
A coisa começa a ficar mais interessante a partir da sétima faixa, ‘Slow Grind’. A seguinte, ‘The One You Loved is Gone’ é uma power ballad que remete a todo o legado desse gênero que dominou as rádios de meados dos anos 80 até início dos 90. ‘Driving Rain’ (que acabou de ganhar videoclipe) é a que tem o maior apelo comercial. Apesar da roupagem pop, é empolgante e inspirada. ‘Sugar Cane’ tem menos poder de fogo, mas também apresenta vitalidade. Já ‘The Great Pretender’ soa como uma prima de segundo grau de ‘Don’t Cry’. ‘Boulevard of Broken Hearts‘ encerra o álbum sem muito brilhantismo, entregando um feijão-com-arroz, embora tecnicamente impecável.
A química entre Slash e Kennedy continua azeitada. O vocalista é um cantor que segue a cartilha do hard rock, mas também adiciona tempero soul em seu estilo. Assim como Axl Rose e Scott Weiland, é um casamento perfeito com a guitarra de Slash. Inclusive, na cerimônia de entrada do Guns no Rock N’ Roll Hall of Fame, em 2012, foi ele que substituiu Axl, o único membro da banda ausente. Nesse disco, o que vemos é a rifarama dos álbuns anteriores dando uma arrefecida justamente para favorecer os vocais. Não que o dono da festa tenha ficado como coadjuvante. Inclusive deixa espaço para a colaboração da guitarra de Frank Sidoris, que se comunica com a guitarra líder com organicidade.
“Living the Dream” não é o melhor trabalho de Slash e Kennedy. É inferior a “Apocalyptic Love” de 2012, por exemplo. O disco traz nenhuma surpresa ou ousadia. É um hard rock correto (e muito bem produzido) que segue com dignidade a tradição do gênero.
3/5 ESTRELAS
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